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A premiada macumba de Johnny Hooker

Reconhecido como melhor cantor popular no Prêmio da Música Brasileira, o pernambucano inicia sua próxima turnê no Recife, dia 10 de julho

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 13/06/2015 às 4:47
André Nery / JC IMAGEM
Reconhecido como melhor cantor popular no Prêmio da Música Brasileira, o pernambucano inicia sua próxima turnê no Recife, dia 10 de julho - FOTO: André Nery / JC IMAGEM
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Na noite em que terçou vozes com Letícia Sabatella e Alcione cantando Lama para homenagear Maria Bethânia no Prêmio da Música Brasileira, quarta, no Rio, Johnny Hooker ganhou outra chancela além da de melhor Cantor de Canção Popular pelo disco Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito! Recebeu também o mérito intangível de ser reverenciado pela cantora que é um dos cromossomos de seu DNA artístico. “Cantar para Bethânia, principalmente uma música justamente dessa fase setentista, mais dramática e sombria dela, foi uma das coisas mais incríveis que me aconteceram. E ainda mais ao lado de Alcione, que tem uma voz que não é desse mundo. Foi uma noite que eu vou carregar comigo para sempre, no meu coração e na alma!”.

Se alguém ainda podia engavetá-lo no rótulo frágil das “revelações” é com a etiqueta, portanto, de “confirmação” que Johnny Hooker volta ao Recide de onde saiu para ampliar a carreira no Rio de Janeiro, próximo dia 10 de julho, dividindo o palco com Tulipa Ruiz no aniversário da casa de shows Baile Perfumado, no Prado. O prêmio lhe dá o respaldo, se necessário ainda fosse, para ocupar palcos de dimensões cada vez maiores além dos pequenos inferninhos de grife onde começou a viralizar seu drama’n’roll pelo Recife. “O prêmio é um grande desejo de ‘boas-vindas’ de quem faz a música brasileira para com a minha figura. É uma mensagem: ‘Nós te vemos, nós te reconhecemos’. E isso me deixa muito emocionado. É um grande abraço”, diz ele, elogiado publicamente, no Rio, também por Caetano Veloso.

Da última vez em que esteve na cidade, Hooker cantou no palco de um teatro. “Essa questão de o show ser desenhado para palcos maiores é porque justamente ele pede isso. Não sou eu quem digo o que o show vai ser, ele tem vida própria. E ele é grande, ele é dramático, ele pede uma experiência de entrega, de sublimação das dores, e como no último ano e meio meu trabalho teve o leque de público bastante ampliado, temos finalmente condições de fazer e viajar com a produção que precisamos e que merecemos”, diz ele, que teve sua música amplificada pela participção no longa Tatuagem, e nas novelas Geração Brasil e Babilônia, na qual sua voz pode ser atualmente ouvida na canção Amor Marginal. “Se pudesse ser maior ainda, eu faria maior. Me dê um estádio e eu faço um show e eu derrubo esse estádio em lágrimas”, provoca. “Podem ter dez ou dez ou mil pessoas, faço com a mesma garrafa”.

O reconhecimento do prêmio mais “mainstream” da música brasileira ajuda Hooker numa de suas várias militâncias. Dono de uma potência performática em que Dalva de Oliveira e David Bowie parecem ter nascido para tocar juntos na mesma banda, Johnny Hooker corroi muros invisíveis de classificações estéticas. Une o aparentemente inconciliável. “Esse é um ponto que me incomoda demais: me associarem ao underground, à música ‘alternativa’, alternativa a quem? Ao quê? Nesse sentido, foi extremamente importante para mim ganhar o prêmio na categoria Canção Popular, ao lado da maravilhosa Roberta Miranda! Por que eu faço música popular: é pro povo, pra todo mundo, seja de onde for”, amplia. “Esas classificações atrapalham, e brasileiro é elitista demais, acha que que é americano, só ouve música de americano por que é de ‘bom gosto’, enfim, essa cafonice toda. Mas numa premiação como o Prêmio da Música Brasileira essas classificações são ótimas, por que elas abrangem melhor o leque de especificidades, que é muito ampla, muito complexa, muito diversa. Assim se pode abranger melhor todo mundo que faz música no Brasil!”

Androginia em potência volumétrica, Hooker subiu ao palco do Municipal do Rio unindo a barba espessa às calças coladas nos quadris, plataformas, colares generosos e olhos marcadamente delineados. Uma forma também de focar contra o machismo violento que ele diz enxergar na música brasileira.

“O machismo na música é geracional, já foi pior. Nessa geração nova, da qual faço parte, isso já não tem tanta força. Mas é claro perceber, é só olhar, por exemplo, para Ortinho (músico envolvido em episódios públicos de ofensas a mulheres), e várias figuras de outras expressões artísticas do Recife, que você percebe o quão machistas são. O nordestino é machista, e o brasileiro também. Parece que nos últimos 30 anos a gente retrocedeu 100. Já teve idiota que chegou pra mim depois do show e disse que gostou, mas não entendia o por que da maquiagem, da roupa, da "viadagem". As pessoas se assustam demasiado com o diferente hoje em dia”, diz Johnny, com a metralhadora vocal turbinada de novas balas.

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