INDEPENDENTE

Zeca Viana apresenta crônica urbana da Zona Oeste em novo disco

Intitulado Estância, terceiro álbum autoral reforça a estética lo-fi do músico enquanto faz um panorama fenomenológico do bairro em que vive

Alef Pontes
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Alef Pontes
Publicado em 14/07/2015 às 5:28
Adriano Sobral/Divulgação
Intitulado Estância, terceiro álbum autoral reforça a estética lo-fi do músico enquanto faz um panorama fenomenológico do bairro em que vive - FOTO: Adriano Sobral/Divulgação
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Após um hiato de dois anos longe dos palcos, Zeca Viana está de volta e cheio de novidades. Músico, pesquisador e disseminador da produção independente, ele lança nesta terça (14) o seu novo disco autoral, Estância, com show no Sonido Projeto, na Creperia Rouge, às 21h.

Responsável pela coletânea Recife Lo-Fi, que desde 2010 pesquisa e divulga a produção musical caseira, Zeca deu uma pausa nas apresentações para dedicar os últimos anos ao estudo de gravação, produção e mixagem voltados para a estética lo-fi (low fidelity), modelo que permite aos músicos gravar seus trabalhos em estúdios caseiros, fomentando assim a produção independente.

“Foi um tempo que eu passei só gravando, me dedicando à mixagem, a estudar mesmo. E foi muito bom porque eu avancei na questão da autoprodução”, explica Zeca. A vontade de criar o novo trabalho surgiu nesse período e coincide com seu retorno de São Paulo, onde morou por alguns anos. “Eu voltei e fiquei um pouco sem rumo estético e sem saber o próximo passo, o que fazer profissionalmente”, revela. 

O nome e o conceito começaram a ser moldados após pesquisar o significado de Estância, nome do bairro onde passou a infância e adolescência, e para onde retornou, na Zona Oeste do Recife. “Quando eu vi, tinha uma descrição bem poética do nome. E tinha muito dessa questão de voltar pra um lugar onde eu fui morar com quatro anos de idade”, complementa Zeca Viana, ex-integrante das bandas Asteroide B-612, Rádio de Outono e Volver.

MEMÓRIAS

A partir daí ele começou, a ver possibilidades estéticas para um novo trabalho, “de forma fenomenológica mesmo”, como define. E começou a gravar os sons do bairro, partindo de suas próprias memórias afetivas. De sons das ruas, a marcação do tempo pela passagem do metrô, até o barulho das crianças na saída de uma escola onde o próprio Zeca estudou na infância, montam a paisagem sonora de Estância. 

Influenciado pela obra do compositor francês Edgar Varèse, e os conceitos de trilha e paisagem sonora, o álbum seria, inicialmente, instrumental. Mas, segundo explica Zeca, foi a partir da apropriação estética deste cenário que começaram a surgir as letras do álbum: “Ele meio que conta uma história sobre o bairro e a minha relação com ele. Não só a minha como a de todo mundo da Zona Oeste”. 

“Eu acho que o grande lance aí foi teu ter conseguido me aprofundar na produção. Eu já tinha gravado antes, mas eu não tinha mergulhado no estudo de mixagem e masterização durante meses, como fiz agora”, pondera.

LANÇAMENTO

Para a volta aos palcos, Zeca conta com o apoio de um grupo que entende muito destes conceitos. Também da Zona Oeste, parte da banda Verdes & Valterianos completam o show. “Ele deu total liberdade para a gente trabalhar em cima dos arranjos e isso criou uma identificação maior com o trabalho dele”, conta o baixista Diego Gonzaga.

Além das canções de Estância, o show de lançamento contará ainda com um panorama dos discos anteriores: Seres Invisíveis (2009) e Psicotransa (2013). 

Confira o disco completo:

 

No show, além do lançamento do seu terceiro disco, Zeca Viana inaugura também o selo Recife Lo-Fi Records. Relacionado às produções do seu home estúdio, o case já começa a expandir para outras bandas: após Estância, o próximo trabalho a ser divulgado é o primeiro EP da Gigante Mono, novo projeto do músico Mathias Brito (ex-tecladista da banda Asteróide B-612). 

“O Recife Lo-Fi Records vai funcionar como um net label pra fazer o link entre projetos pouco conhecidos e trazer ao público novidades, podendo se expandir para bandas do Brasil e exterior assim como já é feito pela coletânea”, explica Zeca.

Nessa troca musical livre, o estúdio já recebe também ensaios e gravações de projetos parceiros, como a própria Verdes & Valterianos, D’Mingus e Matheus Mota. “Eu quero que o quarto seja um lugar de reunião mesmo. Se você for ver, os estúdios estão caros e há uma questão de logística mesmo que dificulta as coisas”, conta. 

Para ele, este é o momento de por em prática os conhecimentos adquiridos: “Eu acho que é um momento de amadurecimento de produção. E eu realmente decidi voltar à ativa. Não só aos palcos, mas também com outros projetos”.

OFICINA

Além disso, os estudos e a experiência de produção e garimpagem de Zeca, com a coletânea Recife Lo-Fi, lhe renderam a realização da oficina Recife Lo-Fi – Criando um home studio, divulgando suas ideias, que acontece de 21 à 23, na Autarquia do Ensino Superior Garanhuns (Aesga), dentro da programação da 25ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns. 

Agregando projetos, vem outra novidade: um dos integrantes da oficina deverá integrar a edição 2015 da coletânea: “Neste ano, a coletânea chega ao volume cinco, então eu achei interessante fazer essa associação. É um processo aberto, no qual as gravações vão ser realizadas na própria oficina”. 

Segundo Zeca, é importante desmistificar a ideia de que é preciso ter um super equipamento para gravar um material decente. “O importante é você ter um conceito estético para se trabalhar”, finaliza.

Saiba mais:

SIGNIFICADO: Estância: lugar, onde se está ou se permanece; estação; divisões de uma composição poética. 
CASEIRO: O trabalho foi totalmente gravado em casa, no estúdio montado em seu quarto.
BANDA: Diego Gonzaga, Diego Blues, Nívea Maria e Thiago Paes, acompanham Zeca no show.

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