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Edy Star relembra os tempos do desbunde e faz show no Recife

Cantor baiano participa neste sábado da Noite do Desbunde Elétrico

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 08/08/2015 às 9:25
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Cantor baiano participa neste sábado da Noite do Desbunde Elétrico - FOTO: Divulgação
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“Na sexta, dia 23, estreia, às três da matina, estreia o incrível Edy Star, num show completamente diferente do que já visto nestas plagas, na Number One. Edy Star é um dos artistas baianos que veio com o grupo de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Ele vai apresentar uma música inédita que Gilberto Gil fez par ele , Edite Cooper”, a matéria no jornal Última Hora, carioca, anunciava a temporada do cantor baiano numa das mais badaladas casas noturnas do Rio, no começo dos anos 70.  Foi um sucesso inusitado.

Em plena era Médici, Edy Star inaugurava androginia, glitter, purpurinas e paetês, desbunde total, para uma plateia que não poderia ser mais eclética. Numa mesma noite, podiam ser anotadas no Number One as presenças de dona Yolanda Costa e Silva (viúva do general presidente), e João e Lucinha Araújo, pais do futuro superstar Cazuza.

O mesmo Edy Star que será a principal atração da Noite do Desbunde Elétrico, no Boca da Mata, em Dois Irmãos, fechando uma programação que tem também: Sabiá Sensível (PE), The Baggios (SE), Mabombe (PE), Feiticeiro Julião (PE), Estúdio Box & Azulejo (SE) e DJ Victor Zalma. Desde 1977, Edy Star não se apresenta no Recife. Para leigos em psicodelia, desbunde e bas fond, Edy Star, com Raul Seixas, Miriam Batucada e Sérgio Sampaio gravou o álbum Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 (Phillips, 1971) e, em 1974, o Sweet Edy ... (Som Livre), um disco com inéditas de nomes que iam de Roberto e Erasmo Carlos, a Jorge Mautner, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Baiano, sim, de Juazeiro¸ porém  ele não chegou ao Rio com os conterrâneos. Saiu do Recife, em 1968, ainda conhecido como Edy Souza, em companhia de Naná Vasconcelos. Iam defender uma composição de Capiba, Um Dia Cheio de Ogum, classificada no festival O Brasil Canta No Rio: “Vim para o Recife pela primeira em 1966, com Companhia Baiana de Comédia, nos apresentamos no Santa Isabel. Voltei alguns meses depois, para uma apresentação no Teatro da AIP, e aí fiquei na cidade, ou melhor, fui morar em Olinda, no Carmo. Conheci o pessoal que ia fazer um musical, Memória de Dois Cantadores, Teca Calazans, Marcelo Melo, Naná Vasconcelos, Generino, o flautista. Depois me envolvi com o tropicalismo defendi música de Aristides (Guimarães), em festival.  Ele é uma pessoa que quero encontrar, e que cante comigo no show”, diz Edy star, que viveu dois anos intensos no Recife, onde se tornou um dos cantores mais conhecidos, do elenco da TV Jornal, ator e pintor.

Mas começou a cantar na Bahia, em programas de rádio, conheceu o grupo tropicalista em 1959, e jacta-se de possuir uma das duas carteiras existentes do Elvis Rock Club, fã clube criado por Raul Seixas, os dois moravam na mesma rua: “Depois do festival com a música de Capiba, voltei para a Bahia. Trabalhava na TV Itapoã, quando encontrei Raul, que vinha do Rio para me contratar, foi quando fizemos o Sessão das 10”, conta Edy, desfazendo lendas de que o disco foi gravado às escondidas, para que o pessoal da gravadora não soubesse: “Não houve isso, Raul era produtor na CBS. Eles sabiam que o disco estava sendo feito, não sabiam o que era. O disco foi retirado das lojas 15 dias depois de lançado. Fomos censurado pela própria CBS. Criou-se um mal estar geral. Raul estava doido para sair de lá, e se foi. Sérgio nunca mais foi, e eu nunca mais fui. Fui trabalhar na noite num puteiro na Praça Mauá".

Neste ínterim, entre a saída do Recife, e a volta à Bahia, aconteceram outras mumunhas mais (pra se usar uma expressão da época): “ Eu não comi Janis Joplin, nem dei a Mick Jagger!”, ressalta Edy Star. Com Janis ele se encontrou no Rio e em Salvador: “Fui apresentado a ela no Rio e não caiu a ficha, não reconheci aquela mulher feia e fantasiada de cigana. Na Bahia a encontrei bebaça, com o amigo Ricky, num puteiro na Gameleira. Fomos leva-la no Hotel da Bahia, no Campo Grande. Não quiseram aceita-la e ela atirou uma garrafa num espelho que havia lá. Depois disso, não a vi mais. Ela voltou para o Rio de carona, transando com tudo que foi caminhoneiro. Serguei é que tem um monte de fotografias dela”. Mick Jagger, com Marianne Faithfull, ele conversou, no ateliê de um artista plástico: “Foi Carleba, o baterista, que, descobriu eles na Bahia, assistindo a uma roda de capoeira”.

E vieram as participações em música, como o Rock Horror Show (com Lucélia Santos, entre outros), a produção de um disco de Maria Alcina, e  o disco Sweet Edy ... em que um constelação de estrelas da MPB curvou-se ante o baiano e lhe serviu canções inéditas, algumas compostas especialmente para ele: “Quando me propuseram um disco, achei que não ia vender. E nem dava a mínima para isso. Então pensei, vou fazer um disco pra mim. Todos me deram música, inclusive Roberto Carlos. Ela não tinha frescura, a gente se cruzava pelos corredores da CBS. Duas músicas não passaram na censura. Eu não gostava do disco, que não aconteceu, e continuei fazendo show na noite. Até que um dia decidi ir à Europa. Estava certo de que nunca iria chegar aos 50 anos. A ideia era ir pra Europa, passar um mês, e depois me suicidar. Um mês mais tarde, estava numa boate. Passei 18 anos trabalhando na Chelsea 2, ma boate que até hoje existe na Calle Silva, no Centro de Madri”, conta Edy Star, que vive entre São Paulo e Madri, desde 2010, e já passou dos 50, dos 60, entrou pelos 70 e por ai vai.   

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