Lançamento

Mariana Aydar faz voo completo em Pedaço Duma Asa, seu novo álbum

O quarto disco da cantora traz letras de Nuno Ramos, poeta e artista plástico

Adriana Victor
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Adriana Victor
Publicado em 31/08/2015 às 7:00
Sami Ha/Divulgação
O quarto disco da cantora traz letras de Nuno Ramos, poeta e artista plástico - FOTO: Sami Ha/Divulgação
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Mariana Aydar está em casa: é bem mais do que o sentimento de sentir-se à vontade, segura de si e destemida que guia Pedaço Duma Asa, seu trabalho mais novo. Foi em sua casa, em estúdio montado para tal fim, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, que o disco foi gravado; o lugar para gravações foi batizado de Brisa, que também é o nome do selo criado pela cantora e de sua primeira filha; o músico Duani, seu marido, pai de Brisa, "meu amor e meu ninja", assina a produção musical e toca diversos instrumentos no disco – baixo, tamborim, reco-reco, pratos, teclados, atabaques... "É um disco caseiro", resume a cantora.
É, portanto, em terra firme que Mariana pisa neste seu quarto trabalho. Chão sedimentado e marcado por trilha de poesia: quase todas as músicas de Pedaço Duma Asa – e só uma confirma a exceção – são composições do poeta e artista plástico Nuno Ramos. Ora ele assina as letras sozinho, ora em parceria com Romulo Fróes e a própria cantora; a maioria delas é dividida com o compositor Clima. 
"Sempre quis mergulhar no universo do Nuno", declara Mariana ao JC. "É um encontro que estava para acontecer nesta vida. Há um mistério de sintonia entre nós, de silêncios", conclui, afirmando que, desde o princípio, nutria admiração pelo poeta. "Fui assaltada por essa paixão."
O sentimento que os une não é recente. Os dois se conheceram em 2007, num festival de música em Bragança Paulista (SP). Mariana chegou a acreditar que Nuno, um paulista como ela, era português. Também não sabia da ligação do premiado escritor – vencedor do Prêmio Portugal Telecom de 2009 – com as artes plásticas, seu caminho inicial. 
Um ano depois do primeiro encontro, ela gravaria Carcará para a instalação Bandeira Branca, criação de Nuno, apresentada na Bienal Internacional de São Paulo. Em 2008, surgiria a primeira parceria entre a cantora e o poeta: a canção Tudo o que Trago no Bolso é gravada no disco Peixes Pássaros Pessoas, o segundo de Mariana. O disco traz também Manhã Azul, composição de Nuno e Duani.
Pedaço Duma Asa começa a nascer em 2013: o Projeto Palavras Cruzadas, que propõe um diálogo entre linguagens artísticas, convidou Mariana que convidou Nuno. "Ele topou de cara", ela revela, contando que recebeu mais de 70 composições do artista para selecionar o repertório. "O Nuno compõe muito rápido. É muito natural, flui."
SAMBA TRISTE
"Saiba nunca achar bonita a minha dor", determina um dos versos de Pedaço Duma Asa; "A dor é cega e vem dos olhos da mulher", diz outro; "A rosa também sofre e chora", conta um terceiro. Há uma melancolia a permear Pedaço Duma Asa, sentimento que ganha força na voz bela e vigorosa de Mariana – vigor que surge não em gritos ou agudos estridentes, mas em sussurros, afinados e harmoniosos.
Batidas de tambores estão a percorrer todo o álbum. "Considero esse um disco de samba. O DNA das músicas do Nuno está lá. Na minha vida e na minha discografia o samba também está", afirma a cantora. "Tem uma negritude nessa música que, a princípio é conceitual. Pra mim é samba."
Uma das canções, Samba Triste, gera a pergunta inevitável: "O seu samba é triste?". "Meu samba é muito triste. Há uma beleza na tristeza, e ela é transformadora", declara Mariana, confessando ainda que sempre gostou de sambas em tom menor, citando Nelson Cavaquinho como inspiração. 
Os sambas do novo disco mesclam percussão, guitarra, baixo e efeitos eletrônicos. A eles é somada a interpretação de Mariana Aydar: "Quando você interpreta uma música, está compondo de novo", assevera.
A cantora, que iniciou a carreira privilegiando o forró e louvou o pernambucano Dominguinhos com um documentário, usa seu Pedaço Duma Asa para realizar um voo completo e determinado. Brisa, a filha, chegou para confirmar a conquista do amadurecimento. "É a minha interpretação feminina. É o meu momento, virei mãe", admite Mariana. "Mudei muito depois disso. A maternidade, para mim, foi transformadora."

 


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