Homenagem

Tem celebração em memória aos 70 anos do Mestre Salustiano

Um dos maiores representantes da cultura popular de Pernambuco morreu em 2008

Adriana Victor
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Adriana Victor
Publicado em 14/11/2015 às 7:30
Rodrigo Lobo/Acervo/JC Imagem
Um dos maiores representantes da cultura popular de Pernambuco morreu em 2008 - FOTO: Rodrigo Lobo/Acervo/JC Imagem
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“Bons olhos a vejam, o coração sem maldade.”A saudação era a marca do Mestre Salustiano para cumprimentar aqueles a quem ele queria bem. Manuel Salustiano Soares completaria 70 anos neste novembro. Filhos e netos decidiram homenageá-lo fazendo o que de melhor aprenderam com ele: tocando rabeca, dançando cavalo marinho, compartilhando a cultura popular de Pernambuco que receberam de herança. O ponto alto da celebração em memória do mestre acontece neste sábado (14/11), com uma série de apresentações na Casa da Rabeca, a partir das 20h.

Filho, neto e bisneto de cortadores de cana-de-açúcar, chegou muito cedo ele também aos canaviais. Mas deu algumas cambalhotas no destino, com a astúcia de bom brincante que sempre foi, e decidiu transformá-lo por sua conta e risco. 

A primeira delas: ainda como cortador de cana, trocou um cinto que usava por sua primeira rabeca. “Precisei amarrar as minhas calças com um cordão, se não elas iam cair. Sai feliz”, contou-me Salu certo dia. 

Sem pedir licença para rodar o carrossel do destino, em 1960, aos 19 anos, ele deixou Aliança, a Mata Norte onde nascera, para tentar dar certo na cidade. Em Olinda, foi gari e vendedor de picolés. Achou de vez as rédeas da sua vida quando reinventou, junto ao mar, os folguedos que aprendera desde cedo na palha da cana: fundou o Cavalo Marinho Boi Matuto, criou a Ciranda Nordestina, deu à luz o Mamulengo Alegre. Foi de um desses sonhos que os homens costumam ter que surgiu, em 1977, a mais vigorosa e colorida de todas as suas criações: o Maracatu de Baque Solto Piaba de Ouro. 

Cedo ou tarde, os louros vieram. Em 2001, foi condecorado com a Medalha da Ordem do Mérito Cultural, outorgada pelo Ministério da Cultura; em 2005, recebia o reconhecimento como Patrimônio Vivo de Pernambuco. Bem antes disso, em 1995, tornava-se assessor especial de Ariano Suassuna, então secretário estadual de cultura.

No último dia de agosto de 2008, o que se viu foi uma multidão na PE-15, Olinda, numa triste e bela homenagem, rumo ao Cemitério Morada da Paz. O coração do mestre, que há anos vinha cambaleando (ele usava marca-passo), parou. 

A prova viva e admirável de que seguem em frente as suas lições vem de seus filhos: Manoelzinho, Gilson, Betânia, Maciel, Eliane, Cristiano, Cleiton, Pedrinho, outra Betânia, Imaculada, Edilene, Dinda, Mariana, Simara, Bia – são 15 os filhos de Salu, nascidos justo nesta ordem, de nove mulheres diferentes. Todos criados por ele, na barra da calça, mesmo depois que se separava das mães de cada um. 

Passados sete anos da morte de Salustiano, a maioria dos filhos tem atividades ligadas à arte e à cultura popular: cantam, dançam, tocam rabeca, bordam golas e sambam maracatu, fazem festa com o cavalo marinho.

CELEBRAÇÃO

Neste sábado (14/11), na Casa da Rabeca, espaço também plantado pelo Mestre Salu, estarão todos presentes, além dos mais de 30 netos e um monte de bisnetos. Ainda chamaram Santana e Petrúcio Amorim para ajudar no arrasta-pé. Porque festa e alegria é herança que nunca se perde. 

Homenagem aos 70 anos do Mestre Salustiano. Sábado (14/11), às 20h. Com Petrúcio Amorim, Santanna, Cavalo Marinho Boi Matuto e o grupo Família Salustiano e a Rabeca Encantada. Casa da Rabeca (Rua Curupira, 340, Cidade Tabajara, Olinda). Entrada gratuita. Informações: 3371-8197.


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