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Retrospectiva: como 2006 mudou a música pop

De Justin Timberlake a Amy Winehouse, ano foi marcante e "sujo"

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 06/04/2016 às 6:00
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De Justin Timberlake a Amy Winehouse, ano foi marcante e "sujo" - FOTO: Reprodução
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Em 2006, Amy Winehouse contava ao mundo sobre suas fossas no chão da cozinha, Justin Timberlake e Nelly Furtado se entregavam à produção ousada de Timbaland e, como um todo, o mundo pop passava por um momento de implosão e ressignificação. Foi um ano que apontou novos (e interessantes) caminhos para a música comercial, que ainda ecoam nas produções uma década depois, principalmente com a adoção de uma sonoridade mais “suja” em diálogo com a cena alternativa, e artistas instigados em pensar fora da caixa, levando para o topo das paradas canções “alienígenas”.

Se o começo dos anos 2000 foi marcado pela entrada definitiva do hip hop e do R&B no mainstream, a segunda metade da década começa a ganhar outros contornos, em especial a partir de 2006. O produtor Timbaland, responsável por trabalhos com artistas como Missy Elliott e Aaliyah que buscavam expandir as fronteiras do hip hop, dialogando entre outros, com a música eletrônica e com as experimentações que estavam sendo feitas na Europa no início da década,

Com Justin Timberlake e Nelly Furtado – dois artistas brancos –, ele encontrou os rostos e as vozes para suas experimentações ganharem visibilidade na grande mídia.A partir de FutureSex/LoveSounds, de Timberlake, e Loose, de Furtado, o produtor dominou as paradas de música em 2006 e se transformou em referência pela mescla do R&B com techno, trance, europop e gêneros até então marginalizados pelas rádios americanas. A temática também mudava: a sexualidade entrava em cena de forma mais direta e menos puritana, com desenhos mais agressivos. O resultado poderia ter dado muito errado, mas agradou ao público: Future... e Loose foram o 2º e o 3º discos mais vendidos daquele ano.

A influência das produções de Timbaland são palpáveis em Blackout (2007), de Britney Spears, marcado pelo conteúdo sombrio e forte uso do autotune, e Hard Candy (2008), de Madonna, que tem o produtor americano e Timberlake no time criativo.

No mesmo período, Beyoncé lançava seu B’Day, disco agressivo e com sonoridade menos polida do que seu antecessor, marcado por faixas como Ring The Alarm, cheia de gritos e vocais paranóicos. Simultaneamente, Fergie misturava funk com pop no disco The Dutchess. Outro destaque é I’m Not Dead, de P!nk, disco permeado por críticas à perfeição e ao status quo. Christina Aguilera e seu Back To Basics, também pautaram a inserção de sons e estética retrô na música pop, até hoje uma inspiração para novos artistas

No R&B, Cassie explodiu (na mesma velocidade em que sumiu) com o hit Me & U, faixa minimalista que, dez anos depois, é usada como referência para queridinhos indies como Solange e The Weekend. O sucesso de Crazy, canção da dupla Gnarls Barkley que mescla soul e eletrônica, também surpreendeu, abrindo ainda mais espaço para as “estranhezas” sonoras e estéticas que viriam a dominar nos anos seguintes.

Do outro lado do Atlântico, Mark Ronson ajudou a dar forma à dor de Amy Winehouse e à ironia fina de Lily Allen. Amy, com seu Back To Black, criou uma das obras mais influentes dos últimos anos, marcada por sonoridade retrô e letras confessionais, abrindo caminho para artistas como Adele. Já Lily com seu caldeirão pop que misturava pop, ska, reggae e hip hop no disco Alright, Still, deu luz à Katy Perry e cantoras inspiradas na ironia disfarçada de fofura. 

Talvez o legado mais interessante deixado pela música pop em 2006 tenha sido o rompimento de algumas barreiras sonoras, aproximando-o de gêneros mais alternativos e, principalmente, o de marcar o começo do fim (pelo menos por enquanto) da assepsia que era esperada de seus intérpretes. Já não era preciso editar (tanto) a sujeira. A partir dali, querer ser estranho seria o novo normal.

 

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