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Pouco público e ótimos shows no Abril pro Rock

Com o Baile Perfumado bem esvaziado, a primeira noite do festival teve apresentações memoráveis de Alice Caymmi, Felipe Catto e Graxa

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 30/04/2016 às 12:58
Foto: Snapick
Com o Baile Perfumado bem esvaziado, a primeira noite do festival teve apresentações memoráveis de Alice Caymmi, Felipe Catto e Graxa - FOTO: Foto: Snapick
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.Foi uma noite,  sob dois grandes aspectos, memorável. Prestes a completar um quarto de século, a abertura do 24º Abril pro Rock, sexta, no Baile Perfumado, cumpriu o perfil que lhe define desde antes de esse festival ter uma definição: respaldou os novos que logo estarão no boca e boca da cena local e, com três grandes atrações nacionais, pontuou os caminhos pelos quais a música brasileira contemporânea (rock seria pouco para resumir) se estrutura. Mas chamou atenção sobretudo pelo público não mais que escasso.

No auge de concentração nas quase oito horas de duração, não havia mais que (com boa vontade) mil e quinhetas pessoas no pavilhão da casa de shows. "Já esperava isso, o público do Recife anda estranho", disse o produtor Paulo Andre Pires, tranquilo pelo público mais certeiro na noite seguinte, do metal, e de patrocínios como o da Petrobrás. "As pessoas irão ouvir falar desses shows e correr atrás desses músicos depois". A velha máxima de que as pessoas iam para, sobretudo, descobrir o que estavam por ouvir parece não mais se aplicar ao evento.

O pouco público estava ali para ver o que queria ver. Nenhum dos shows ficou sem resposta da plateia. A primeira grande catarse da noite ficou, como era de se esperar, com a carioca de ascendência baiana Alice Caymmi. Desta vez com banda, ainda que coberta por uma iluminação aguda, Alice apresentou uma versão crua e dilacerante de seu show Rainha dos Raios. Estava com fome de palco - e o engoliu.

"Gosto bem mais desse formato do show dela com banda que os cenários de teatro. Nós vemos todas as verdades de Alice ali", dizia, na plateia, driblando os pedidos de fotos com fãs, o cantor Filipe Catto, responsável pelo agudíssimo show de Tomada, seu segundo disco, logo em seguida no mesmo palco. Com apenas alguns hits como Adoração, cantada sílaba a sílaba pelos fãs, o gaúcho provocativamente andrógino capturou logo com "Partiu", a primeira música, olhares e ouvidos curiosos com a passionalidade afiada de letras em alta voragem. Uma música que politiza hormônios.

Em seguida, Graxa, figura frequente no esquálido cenário underground do Recife, mostrou que está mais que pronto pra sair do gueto. Seu bolo bem batido de rock e musica negra com o cheiro das periferias locais confirmam que seu nome será cada vez mais ouvido.  No começo da noite, a banda sertaneja Em canto e poesia (que logo será esterotipada como um novo Cordel do Fogo Encantado) informou bem como a poesia do Pajeú ainda tem muito com o que regar uma vigorosa nova música pernambucana. Já depois das três da manhã, Tiê fez seu show, folk e corretinho, para uma sonolenta plateia de não mais que 300 pessoas - se muito. 

Antes, os paranaenses de Os Transtornados do Ritmo Antigo fizeram um show repleto de bom mocismo com  jazz classiquinho embalando alguns regionalismos. Também não fez o público voar muito alto a apresentação do gaúcho Jéf, bem festejado pelo álbum Leve (2015), que o levou a alguns prêmios e festivais gringos. Compuseram, enfim, uma grande longa em que os momentos de maior comoção foram temperados com música para ser ouvida - mais com  os ouvidos que com outros sentidos.

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