NEGÓCIOS

Gravadora se dedica somente às marcas

Ex-presidente da Sony Music, Luiz Calainho agora se dedica à Musickeria, fusão entre gravadora e empresa de marketing

Fernando Scheller da Estadão Conteúdo
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Fernando Scheller da Estadão Conteúdo
Publicado em 21/11/2016 às 9:35
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Ex-presidente da Sony Music, Luiz Calainho agora se dedica à Musickeria, fusão entre gravadora e empresa de marketing - FOTO: Foto: Divulgação
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Se você adora uma determinada música é porque alguém planejou que você gostasse dela. Um dos mais conhecidos executivos da indústria fonográfica do País - até por ter sido jurado no Ídolos, versão nacional do American Idol -, Luiz Calainho, ex-vice-presidente da Sony Music, está usando o conhecimento sobre as canções que realmente "pegam" não mais para bater recordes de vendas de CDs, mas para ajudar marcas a estreitarem sua relação com o consumidor.

A Musickeria, que ele abriu com três sócios, faturou R$ 18 milhões no ano passado e prevê triplicar a receita neste ano. Entre os motivos para o salto, mesmo em um ano de crise, está uma campanha feita para a Olimpíada 2016, no Rio de Janeiro. A canção Se Ligaê, gravada por Baby do Brasil, Sérgio Mendes e Rogério Flausino no fim de 2015, acabou virando o "hino" do Bradesco, um dos principais patrocinadores do evento.

A música foi produzida antes de ser vendida para qualquer marca - pelo planejamento da Musickeria, ela poderia, com pequenas adaptações, acabar nas mãos de qualquer patrocinador. Com o material em mãos, a empresa procurou o Bradesco e aWMcCann, agência que desenvolveu a maior parte das campanhas do banco para a Olimpíada. "Houve uma conexão imediata", lembra Calainho.

A Musickeria se define como uma gravadora, e não como uma empresa de marketing. Por isso, ao lançar músicas para marcas, segue uma lógica de produção e promoção parecida com a que ainda se faz para vender CDs. No caso da música do Bradesco, o trabalho com Se Ligaê nas rádios começou no início do ano, sem associação com a marca. Assim, quando a campanha entrou no ar assinada pelo banco, o caminho para que ela "viralizasse" estava pavimentado. O vídeo foi visto por mais de 1 milhão de usuários no YouTube.

EVENTOS

O uso de músicas conhecidas como trilha de comerciais está longe de ser uma novidade. Uma das vertentes que a Musickeria tem explorado é a transformação de antigos sucessos em "hits" atuais. Foi o que ocorreu com a música Exagerado, de Cazuza, que ganhou nova versão em 2015 e voltou a ser executada nas rádios. Na verdade, conta Calainho, a ideia foi "esquentar" a música, que posteriormente seria usada em uma campanha da operadora Vivo.

Mais recentemente, a Musickeria resgatou outra canção antiga: O Mundo é Bão, Sebastião, que o cantor e compositor Nando Reis escreveu 15 anos atrás para o filho Sebastião. Mais uma vez, o que seria somente uma canção incidental passou a fazer parte da história que a marca estava contando. A empresa produziu uma nova versão, agora uma parceria entre Nando e os filhos Theo e Sebastião, para o conceito criado pela Artplan. "Incluir os filhos do Nando foi uma forma de ampliar a mensagem emocional", diz Calainho.

DISPOSIÇÃO 

Como a indústria fonográfica vive uma forte crise que parece não ter um fim no horizonte, os artistas também estão muito mais abertos a participar de músicas para campanhas publicitárias "por encomenda", segundo Calainho. O próprio Nando Reis aceitou criar uma música para a L'Oréal, que foi interpretada por Sophia Abrahão. A música Sou Fatal foi concebida para promover uma linha de coloração de cabelos. Mesmo para essas canções de caráter mais claramente comercial, a Musickeria segue a regra da indústria fonográfica: produção, videoclipe e divulgação nas rádios.

A crise da indústria fonográfica, no entanto, cria concorrentes de peso para companhias como a Musickeria. A receita com venda de CDs, que foi de R$ 461 milhões em 2004, caiu a R$ 143,7 milhões dez anos mais tarde - apesar do streaming já ter ultrapassado os CDs, o volume de dinheiro gerado por ele está longe de compensar a perda do mercado físico em seu auge. Hoje, a maioria das gravadoras tem áreas de branded content (conteúdo de marcas) e tentam entrar no mercado de publicidade para tentar recuperar o terreno perdido.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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