Em meados dos anos 1980 e início dos anos 1990, quando a cena musical pernambucana era dominada por diversas vertentes regionalistas (antes do Mangue Beat), o músico e escritor André de Sena integrava a banda de rock progressivo Eucalipto. Depois de algumas apresentações esporádicas, demos amadoras e uma pausa para se dedicar a estudos acadêmicos sobre literatura, André matura seu trabalho com uma nova banda: Mar Assombrado, que lança o álbum Entre as Ondas, Sob as Árvores.
REFERÊNCIAS
O disco cruza diversas referências mitológicas, literárias e históricas tendo as epopeias heróicas e os mistérios da imensidão oceânica como pano de fundo. Os versos de Satiripse Ed Ogof resumem: “Vos esconjuro, licantropo mar/ na dimensão em que trevas abraçam a luz/ cantos do mal e presságios anunciar!”. A instrumental Regresso do Hoplita evoca as aventuras de Odisseu na Odisseia.
A Mar Assombrado é formada por André de Sena (guitarras, vocal), Ítalo Cavalcanti (bateria), Rafael Bernardo (baixo elétrico) e Gilmar Black (sax, flauta transversal). O álbum, no entanto, contou com um time de participações que ampliou o escopo sonoro dos arranjos com baixo acústico, violino, teclado e trompete. O problema do disco é que em muitos momentos o som da guitarra solapa os demais instrumentos. A construção atmosférica da música fica em segundo plano, com um show de virtuosismo técnico em primeiro lugar – caso de Com a Cabeça Decepada e Céu, Universo, Chuva.
Em outras faixas, como Lobo, aos Olhos do Acaso, a banda consegue criar uma articulação imagética com as diferentes sessões instrumentais. Mas como um todo, o álbum Entre as Ondas, Sob as Árvores parece ter sua força represada e poderia fluir livremente se não houvesse todo o rigor técnico de seus músicos.
