Alt-pop

Crítica: Em 'hopeless fountain kingdom' Halsey canta o amor sombrio

Cantora de 22 anos se apresenta como musa dos Milleniums

JC Online
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Publicado em 16/06/2017 às 21:29
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Cantora de 22 anos se apresenta como musa dos Milleniums - FOTO: Reprodução
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“Nunca serei nada menos que honesta. Escrevo músicas sobre sexo e estar triste”, descreve Halsey, laconicamente, na seção biográfica de seu site. O texto simples e direto, com frases de efeito, se encaixa com precisão no “quem sou eu” de redes sociais como Instagram, Facebook e Twitter. É justamente neste ambiente virtual que cresceu (e floresceu) a cantora americana de 22 anos, que imprime em suas canções os desejos e angústias recorrentes na chamada geração Millenium, como fica latente em seu segundo disco, o recém-lançado hopeless fountain kingdom.

Nascida Ashley Nicolette Frangipane (Halsey é um anagrama de seu nome), a americana de 22 anos chamou a atenção da mídia em 2015, com o lançamento do álbum Badlands. No ambiente virtual, porém, seu nome já causava burburinho há mais tempo. A cantora começou publicando vídeos no Youtube e no Tumblr e em pouco tempo já tinha um grupo fiel de seguidores. Após postar a canção Ghosts, no SoundCloud, garantiu contrato com a gravadora Astralwerks, especializada em música eletrônica e dance.

Se a cantora passava despercebida pelo radar da mídia tradicional e das rádios, na internet ela já era uma espécie de musa. As coisas mudaram em 2015, quando participou do festival South by Southwest. Com forte ligação com as redes sociais, o evento estimulava a participação do público. O show da americana foi o mais comentado do festival e, de repente, todas as publicações de música, indies e pop, queriam saber quem era ela.

A forma como Halsey se relaciona com as redes sociais é sintomática: aparentemente sem filtros, respondendo aos fãs e dando acesso a pensamentos por vezes obscuros. Em um momento em que o mundo virtual funciona como uma espécie de jogo de espelhos, em que todos parecem estar melhor do que você, ouvir uma pop star falar sobre suas frustrações e medos não deixa de causar empatia.

CHÃOS SUJOS

Em hopeless fountain kingdom, Halsey refina a sonoridade de seu disco anterior, expandindo-a. Representante do chamado alt-pop, denominação problemática para algo como pop alternativo, ela cria uma narrativa pessoal sobre solidão, amores conturbados e deslocamento.

Na canção de abertura, The Prologue, usa trechos de Romeu e Julieta com atmosfera gótica, para logo fazer uma ponte com o contemporâneo e falar sobre ser uma “criança de um país orgulhoso e sedento por dinheiro”, onde a grama é verde e é sempre ensolarado, as mãos ensanguentadas que têm gosto de mel. “Estou achando difícil ir embora”, fala entre a ironia e a resignação.

Multiracial, bipolar e bissexual, Halsey leva para sua música experiências singulares para um muitas vezes asséptico ambiente pop. Em Strangers, dueto com Lauren Jauregui, também bissexual, ela relata o fim de uma relação entre duas mulheres. “Ela não me olha mais nos olhos porque é mais íntimo (...) Não somos amantes, somos só estranhas, com a mesma fome de sermos tocadas, amadas, de sentir qualquer coisa”, cantam.

Now or Never soa muito como Neeeded Me, de Rihanna, e mostra que Halsey não está alheia às tendências musicais. No caso da americana, no entanto, essa colagem de sonoridades e o ouvido afiado para mesclar referências conta a seu favor. É, de fato, produto de uma geração que vive de colagens no Tumblr e derivados.

Na delicada balada Sorry, ao piano, ela se desculpa para um amante desconhecido por sua incapacidade de superar seus próprios fantasmas. Em Bad at Love, ela reflete sobre a dificuldade de encontrar relacionamentos saudáveis (héteros ou lésbicos), com altas doses de autoironia e culpa. No R&B Alone, ela sentencia: “Eu sei que você está morrendo para me conhecer, mas eu posso lhe dizer isso – assim que você me conhecer, você vai ter desejado que você nunca tivesse”.

Ainda no início de sua trajetória artística, Halsey aponta caminhos interessantes em seu segundo disco, que, apesar de momentos irregulares, brilha. Assim como sua criadora.

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