Homenagem

Agnaldo Timóteo numa homenagem do fã ao seu maior ídolo

Ele dedicou um disco inteiro ao repertório de Cauby Peixoto

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 18/07/2017 às 4:36
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Ele dedicou um disco inteiro ao repertório de Cauby Peixoto - FOTO: foto: divulgação
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Agnaldo Timóteo lançou o 73º disco, Obrigado Cauby, homenagem ao cantor, falecido em 2016. Quando ele ainda vivia em sua cidade natal, Caratinga, Minas Gerais, Cauby Peixoto já era um dos maiores ídolos do Brasil: "Fui fã dele até a morte, passei 63 ou 64 anos curtindo a beleza da voz de Cauby. Fui calouro, em Belo Horizonte, cantando o repertório de Cauby, minha admiração por ele ultrapassava o normal. Ele morreu, resolvi fazer-lhe uma homenagem, gravando seus sucessos, ou melhor, regravando-os. Cauby gravou músicas deslumbrantes", elogia Agnaldo Timóteo, em entrevista por telefone, do Rio (ele mora em São Paulo).

 Atendeu a ligação com sua forma usual de cumprimento, que já virou até bordão na televisão: "Ô meninô! tudo bem?". Ao saber que o assunto é o novo disco, não se faz de rogado: "Eu fiz um CD lindo, sem nenhuma modéstia, lindo!", comenta entusiasmado. Muda de assunto para revelar que está profundamente triste. No dia anterior, faleceu, no Recife, Cleo, sua maior fã: "Cleo, foi uma das maiores admiradoras que tive na carreira. Ela estava com 86 anos e cumpriu o seu papel na Terra muito bem." Uma pausa rápida, e conta que este ano lança um álbum em que homenageia Ângela Maria:

 "Mas já vou lhe adiantando uma novidade. Vou lançar este ano um disco com música da minha rainha. Eu quero parar o Brasil com a minha homenagem a Ângela Maria, que foi minha patroa. Estou emprestando a voz para coisas maravilhosas, que Deus está me permitindo fazer. O disco com músicas de Cauby é um dos melhores trabalhos da minha carreira".

 Agnaldo Timóteo ganhou fama em Belo Horizonte cantando o repertório de Cauby Peixoto. Tanta fama, aliás, que na primeira vez em que o nome de Agnaldo saiu na Revista do Rádio - a mais importante publicação do gênero no País - foi devido a um elogio de Cauby Peixoto, na seção Mexericos da Candinha: "Cauby Peixoto está muito animado com um rapaz chamado Agnaldo Timóteo, que o imita direitinho. Diz o Cauby que vai arranjar um contrato para Agnaldo, talvez na Rádio Nacional". A nota é de 1961.

 Antes disso, no final dos anos 50, Agnaldo Timóteo viu um show do ídolo, mas não se atreveu a tentar conversar com ele: "Eu morava em Caratinga. Ele chegou dos Estados Unidos e foi fazer um show na Rádio Guarany de Belo Horizonte, peguei um avião e fui assistir. Eu o acompanhei, o admirei o tempo todo, mas não lembro quando o conheci pessoalmente. Acho que cheguei pra ele, já no Rio, e me apresentei, é assim que acontecem as coisas", conta Agnaldo Timóteo.

 O repertório de Obrigado Cauby foi selecionado por Agnaldo e o produtor Thiago Marques Luiz. Os dois conseguiram conciliar canções importantes com outras com as quais Timóteo tem uma relação afetiva, as que cantava em seus tempos de calouro: "Quando estava em Belo Horizonte, eu gostava de muitas canções dele mas, evidentemente, tinha uma que eu enlouquecia só em imaginar que uma dia pudesse gravar". Canta um trecho de sua canção preferida de Cauby, Volta ao Passado, de Fernando César, lançada em 1956 ("Se a vida que eu vivi/as mãos me pudesse voltar/se o tempo que eu perdi/um dia tornasse a encontrar").  

Embora tenha participado com Cauby Peixoto de programas de TV e de shows, Agnaldo Timóteo confessa que sempre o tratou com a reverência de um fã: "Cauby convidou a mim, Agnaldo Rayol e Emílio Santiago para participar do DVD dele, mas não estava mais com a saúde plena. Fizemos eu, ele e Agnaldo Rayol, cantando uma música de Gonzaguinha, foi um momento histórico na televisão brasileira. Mas ele nunca deixou de ser meu ídolo. Eu o tratava como ídolo. Não era meu colega, como Ângela Maria, que é minha rainha, não é minha colega".

 Ângela Maria, de quem foi motorista, foi a responsável pela sua vinda para o Rio, em 1960: "Ela foi a Belo Horizonte, perguntou quem era Agnaldo Timoteo. É aquele ali, disseram. Ela me conheceu, disse que eu fosse para Rio, pois iria fazer sucesso".

DISCO

"Lamento não haver homenageado em vida meu ídolo Cauby Peixoto. Mas agora, rogo aos comunicadores, e às pessoas românticas deste país que façamos desta, uma homenagem coletiva", escreveu Agnaldo Timóteo no encarte de Obrigado Cauby. É até curioso que ele não tenha prestado antes a homenagem. O repertório de shows de Agnaldo geralmente abrigava canções pinçadas da extensa obra de Cauby, como Nono Mandamento (René Bittencourt/Raul Sampaio), lançada por ele em 1961.

 A seleção de 16 composições, pinçadas de várias fases de seis décadas de carreira de Cauby, tem o mérito de contemplar canções que marcaram a obra do cantor de Conceição (Dunga e Jair Amorim), de 1956, seu maior sucesso, obrigatório em todos shows, ou Bastidores (Chico Buarque), que o trouxe de volta às paradas e o tornou cultuado por outro tipo de público, universitários e intelectuais, que então não tinham se dobrado ao talento do cantor.

 Mesmo destoando do clima passional da maioria das canções, New York, New York (Kender/Ebb), um dos últimos hits de Frank Sinatra, foi apropriada por Cauby e se tornou também obrigatória em suas apresentações, A seleção privilegia o Cauby dos anos 50, sua década de maior prestígio popular, com onze faixas daquela década. Quase que ignora as outras décadas, para enfatizar os anos 80, com três músicas. Além da citada Bastidores, Loucura (de Joanna/Sarah Benchimol) e Tua Presença (Carlos Colla/Maurício Duboc).

 Cauby Peixoto foi cantor que nunca economizou na potência vocal, nem mesmo no auge da bossa nova, quando era de bom tom a interpretação comedida. Agnaldo Timóteo entrou em cena soltando a voz para o alto, nos tempos em que era o que exigia a canção romântica italiana, que fazia sucesso no Brasil. Ignorando os ditames da época, em que até roqueiros, como Celly Campello ou Roberto Carlos interpretavam sem vibrato.

 Aos 81 anos, Agnaldo perdeu pouco de octanagem vocal. Não se esquiva a interpretar Tom Jobim e Newton Mendonça de Foi a Noite. A canção, anterior à bossa nova, foi lançada por Sylvia Telles, em 1957, e gravada por Cauby no ano seguinte. Agnaldo se segura durante a maior parte da canção, para soltar a voz no final, adaptando-a a seu estilo. A voz de Cauby está presente em Conceição, dueto póstumo e eletrônico com Agnaldo Timóteo, que declama agradecimentos entre a primeira e segunda parte do samba-canção.

 Um disco feito com esmero, de grandes arranjos de base e piano teclados de Alexandre Vianna. O Professor iria aprovar (JT).

 

 

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