Nascido nos Estados Unidos e criado na Venezuela, o cantor e compositor Devendra Banhart vem ao Brasil em setembro para uma turnê que passará por sete cidades, incluindo o Recife, no feriado de 7 de setembro, no Catamaran – uma parceria com o festival Popload Gig. Em conversa por email, Devendra comenta com o JC sobre seu novo álbum, suas parcerias musicais, música nordestina e os estranhos feedbacks que recebe dos fãs.
JORNAL DO COMMERCIO – Você vem ao Brasil promovendo Ape in Pink Marble, um álbum que os críticos descrevem como mais “pessoal, íntimo e delicado”. Você concorda com estas descrições?
DEVENDRA BANHART – Acredito que sim, mas eu não sei se é mais pessoal ou íntimo do que os outros. Certamente não é mais íntimo do que os meus primeiros álbuns.
JC – Como você enxerga o Ape in Pink Marble no conjunto de sua discografia? Alguns fãs interpretam como um desenvolvimento natural de Mala (o álbum anterior, de 2013).
DEVENDRA – É, eu acredito que é sim, um pouco mais focado em termos de textura e ambiência. Apesar de que esta é apenas minha opinião e o que eu sei? Nada!
JC – Você trabalhou com uma variedade de artistas que vai de GZA (do grupo Wu Tang Clan, ícone do gangsta rap) a Michael Gira (da banda post-punk Swans), mas o seu som ainda aparenta ser basicamente o mesmo. Estas colaborações influenciaram sua música? De que forma?
DEVENDRA – Bem, essas são duas personalidades poderosas, intelectuais de primeiro grau e particularmente sábios. E desde que eu possuo o oposto desses atributos, observar e aprender com eles foi extremamente humilde e útil.
JC – Suas músicas são permeadas por uma melancolia suave e agridoce. A solidão é uma parte importante do seu processo criativo?
DEVENDRA – Parece ser um tema em minha vida. Passei uma infância muito isolado e até hoje ainda vivo sozinho e, na maioria das vezes, escrevo sozinho. Eu gosto de passar o tempo comigo mesmo ou com a natureza, quieto, observando... Minha melancolia, à qual eu admito que ainda me entrego, raramente é amarga.
JC – Você também trabalha com as artes visuais. A sua produção musical é complementada por imagens? Existe uma conexão?
DEVENDRA – Sim, elas coexistem e tem sido práticas paralelas para mim. Eu tento dividir meu tempo entre pintar e escrever. Eles só parecem se cruzar quando eu termino um álbum e estou projetando a capa. Além disso, eles permanecem como parentes distantes.
CONTATO COM OS FÃS
JC – Você mesmo gerencia o seu perfil do Instagram e disse que até recebeu dick picks de fãs (no ano passado, Devendra contou que recebeu a foto de dois pênis com a legenda: “Nós temos ereções graças à sua música”). Quais as respostas mais esquisitas que você recebeu dos fãs?
DEVENDRA – É duro (entendeu?) bater o pênis ereto com #CulpeSuaMúsica (em alguns casos escrito NO pênis!). Mas na maioria das vezes eu recebo perguntas bem pensadas e pessoas compartilhando sua arte. É adorável a comunicação assim. E às vezes recebo mensagens como “obrigado por tocar essa música ontem à noite” e, em seguida, alguém do mesmo show dirá “uuughh, essa música é uma merda, não jogue novamente!” (risos). Abrange todo o espectro, todos adoráveis, todos aceitos.
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JC – Em 2007, você contou ao The Guardian que fãs costumavam aparecer de surpresa na casa em que você estava gravando o álbum Smokey Rolls Down Thunder Canyon. Dez anos depois, os fãs ainda te caçam? Como se sente com isso tudo?
DEVENDRA – Bem, eu não tenho checado o porão recentemente, mas acho que não tem ninguém por lá no momento... Tenho a sorte de viver em uma vizinhança muito calma, a maioria guaxinins e coiotes.
JC – Você é bem próximo da música brasileira e falou inúmeras vezes sobre a influência de João Gilberto e CaetanoVeloso em sua música – chegando a tocar junto com este último. Mas você conhece algo da música do Nordeste brasileiro? Como Luiz Gongazaga, Zé Ramalho, Jackson do Pandeiro...
DEVENDRA – Sim, claro, alguns heróis fantásticos por aí. Eu passei por um período em que ouvia Talismã, de Alceu Valença e Geraldo Azevedo, no repeat.