RAP

Pavilhão 9 volta sem arrodeios com 'Antes Durante Depois'

MCs Rhossi e Doze voltaram a se reunir para gravar as dez faixas do álbum

NATHÁLIA PEREIRA
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NATHÁLIA PEREIRA
Publicado em 20/08/2017 às 7:00
Foto: Roberto Salgado/Divulgação
MCs Rhossi e Doze voltaram a se reunir para gravar as dez faixas do álbum - FOTO: Foto: Roberto Salgado/Divulgação
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Das bandas nacionais saídas da safra anos 1990, a paulistana Pavilhão 9 está entre as mais celebradas. Formada em 1992 e com seis discos gravados em estúdio, o quinteto liderado pelos MCs Rhossi e Doze foi uma das que bem misturou doses de vertentes do rock, rap e letras politizadas, mas acabou entrando em hiato em meados de 2005. Voltaram a se reunir apenas para shows esporádicos, um deles no festival Lollapalooza de 2012.

Em 2014, Rhossi e Doze passaram a considerar interessante a ideia de pôr o Pavilhão na cena outra vez e, para isso, convocaram novos músicos. Entraram no jogo Rafael Bombeck (guitarra), Leco Canali, na bateria, e Heitor Gomes, ex-Charlie Brown Jr. e CPM 22, no baixo. Isso com a indispensável presença de um DJ, o MF. Juntos, se dedicaram a unir semelhantes influências, compor e gravar as dez faixas de Antes Durante Depois, sétimo álbum da carreira lançado no último dia 11/8 pela Deckdisc, também como celebração pelos 25 anos de carreira.

“Rhossi e eu nunca perdemos contato, ainda moramos perto. Conversando, sentimos a necessidade de voltar e fomos estudando letras, músicas, capa, quem poderia compor essa nova formação. Entendemos que o mercado estava com essa lacuna, desse som mais direto”, contou o vocalista Doze em entrevista pelo telefone ao JC.

Encantado com as possibilidades tantas para disponibilização das músicas nas redes digitais, facilidade com a qual o grupo ainda não havia esbarrado, ele conta que tal fator é estímulo para que continuem a propagar o mesmo tipo de discurso. “Sempre tivemos a característica de alertar. Não pesar e ditar regra na cabeça do povo, mas alertar sobre coisas que nos incomodam. Juntamos nossa visão sobre o que está acontecendo politicamente com o País à vontade de contar nossa história pra molecada nova”, explica.

O advento do “rap feito para a classe média”, com discurso mais podado e excesso de canções românticas ele considera, inclusive, resultado de tal facilidade. “A gente tinha necessidade maior de gritar, falar o que pensávamos. Hoje lógico que se abre janelas pra ficar mais popular, a realidade é outra, se consegue popularizar. Mas a música rap ainda tem muito a crescer. É devagar que se conquista mais espaço”.

Tudo Por Dinheiro, segunda faixa, foi escolhida em consenso para ser o primeiro single e fala justamente sobre o poder das notas em mãos. Ganhou lyric video dirigido Alex Miranda e Piatã Esteves e traz, assim como a capa, ilustrada por Leandro Dexter, a icônica máscara de ferro ostentada por Rhossi desde o início. “Ela representa os oprimidos, a gente fala em nome dessas pessoas. Sempre foi e continua sendo um símbolo muito forte pra banda”, aponta Doze.

Parte importante na nova fase do grupo, o baixista Heitor falou sobre a responsabilidade de integrar a banda num momento de retorno em contextos histórico e político bem distintos da época em que surgiram.

“Revisitei toda a discografia do Pavilhão, estudei, mas não quis me influenciar muito. Preferi fazer algo que tivesse minha identidade como músico. Passei por bandas do mainstream e agora tô em uma com a qual mais me identifico”. A alquimia da sonoridade, continua, está lá, marcando presença no orgânico das linhas de baixo, mas também participando do eletrônico, “que é a raiz do rap, DJ e MC”, diz.

O show oficial de lançamento de Antes Durante Depois acontece dia 19/10, no Bar Opinião, em Porto Alegre. Com 1h20, a apresentação promete abraçar toda a discografia do Pavilhão e deve circular todo o País, incluindo o Nordeste.

DE VOLTA À SUA MELHOR FORMA

As primeiras impressões sobre Antes Durante Depois foram praticamente unânimes: a Pavilhão 9 está de volta e sem arrodeios. Tanto que nenhuma das dez faixas ultrapassa os 3:36 minutos. “O Rhossi e o Doze são muito pesquisadores, então a gente direcionou assim”, adiantou-se a explicar o baixista Heitor.

E a abertura homônima já mostra a que veio o novo nome no baixo, protagonista em dez belos segundos. Rock puro e bateria marcada para Rhossi e Doze recordarem a fase iniciante. “Tudo que conquistamos, tudo sem patrocínio”.

A mesma pegada se repete em Acredita Não Duvida, Ideia Quente, Os Guerreiros e Boca Fechada. Pesadelo Gangsta e Na Malandragem, a de número dez – com participação de Reginaldo 16 Toneladas, trompetista da Funk Como Le Gusta –, são a alma rap, com a primeira sendo casamento perfeito entre beat e flow.

Bandas como Red Hot Chili Peppers, Rage Against The Machine, Suicidal Tendencies, e “uma coisa bem funk metal, rap com jazz, num estilo meio Miles Davis” estão ali. Nas citações de influências coube espaço até para o recém celebrado Kendrick Lamar.

Ligados na música mundial, abriram espaço ainda para uma tradução ao pé da letra de Esto No Para (aqui, Isto Não Para, portanto) do espanhol Kase.O, integrante do grupo Violadores del Verso. O diálogo com as outras nove faixas foi mais do que perfeito: “Políticos muito loucos comandam os países / São todos viciados em suas diretrizes / O povo foi traído, dormiram no barulho / Olha nós de novo na porra do bagulho”.

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