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Milton Nascimento canta a esperança

Cantor e compositor faz show com suas canções de cunho social no Guararapes

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 23/08/2017 às 18:25
João Couto / Divulgação
Cantor e compositor faz show com suas canções de cunho social no Guararapes - FOTO: João Couto / Divulgação
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São 50 anos, agora em 2017, desde que o mineiro gravou seu álbum de estreia – Milton Nascimento, de 1967, disco já repleto de conotações políticas. No momento em que a música, no Brasil, é de novo convocada a participar dos debates e tensões, discutindo padrões antigos de representação e poder, inclusive de gênero, classe e etnia, é um Bituca especialmente político o que apresenta o show Semente da Terra, hoje, às 21h, no Teatro Guararapes.

“Eu acho que eu não sou a pessoa mais indicada para responder essa questão, se a música brasileira está em sintonia com as pulsações sociais contemporâneas”, responde Milton, questionado a respeito. “Acredito humildemente que os críticos de música estão mais bem preparados para responder sobre isso. Eu sou apenas um músico. E este show tem a intenção única de proporcionar duas coisas: reflexão e esperança através da música”, diz Milton Nascimento.

Costurado em suas últimas três turnês, o repertório, portanto, traz a lírica de grandes nuances políticas do compositor: Milagres dos Peixes, Terceira Margem do Rio e Lágrimas do Sul, parcerias de companheiros frequentes como Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Márcio Borges. A poética latina de Mercedes Sosa aparece em Sueño con Serpientes. No momento em que o País passa por uma ampla revisão de direitos trabalhistas historicamente praticados, uma parte do show é especialmente marcada por “canções de trabalho”: Canção do Sal e Caxangá.

MILTON KAIOWÁ

Em 2016, Milton lançou a Nascimento, uma marca de camisetas temáticas cujo lucro tem parte repassada aos índios guaranis do Mato Grosso do Sul. “Hoje em dia, do jeito que andam as coisas no Brasil, está tudo muito difícil. Ninguém consegue fazer nada. Nossa proposta inicial seria pagar o custo das camisetas e repassar o restante para tentar ajudar uma escola de música indígena em Caarapó (MS). Mas está todo mundo enfrentando dificuldades, e qualquer campanha social é uma luta. Só que, além disso, o lance é o seguinte – mais do que levantar verbas, os índios precisam de um apoio governamental para solucionar diretamente os problemas necessários. E este show, mais do que tudo, tem como objetivo chamar atenção para a causa dos índios Guarani Kaiowá”, diz Milton.

“Nós queremos gerar uma reflexão através de uma mensagem de esperança presente na nossa música, essa sim é a meta. Agora, para entender e, principalmente, questionar a situação dos índios brasileiros, é necessário procurar duas fontes principais antes de iniciar qualquer debate, o filme Martírio de Vincent Carelli, e o livro Os Fuzis e as Flechas, de Rubens Valente”, ele diz.
Milton, aliás, ocupa o que se chama de lugar de fala sobre a questão: depois de várias discussões internas, lideranças o batizaram com um nome do Guarani Kaiowá. “Foi uma das coisas mais emocionantes da minha vida. Desde 2010, que foi quando aconteceu esse batismo em Campo Grande (MS), que eu não passo um só dia sem que eu tenha orgulho disso. Como eu disse anteriormente, está tudo muito esquisito. Por isso, que a gente tem que manter a esperança e seguir em frente, sempre.”

Sem querer adiantar detalhes, Milton diz que tem composto e tem, sim, novos parceiros. “Ainda este ano, vamos anunciar um projeto novo. Eu tenho composto com novos parceiros e já até começamos a gravar umas coisas, mas ainda é muito cedo pra falar qualquer coisa. Prefiro esperar pra quando tudo estiver encaminhado antes de contar direito para vocês. O Brasil nunca vai parar de produzir novos músicos. É uma coisa impressionante, no mundo inteiro nunca vai ter algo parecido como acontece aqui”, diz o compositor. Apesar disso, ele jamais sentiu ter encontrado uma voz tão potentemente adequada para suas canções quanto Elis Regina. “Elis foi o grande amor da minha vida. E todas as músicas que eu fiz e que faço até hoje são pra ela. Tive muita sorte de ter tido a chance de conviver com Elis. Nada supera a falta dela”, confessa o amigo do peito.

Semente da Terra, show de Milton Nascimento e banda. Hoje, 21h. Ingressos: entre R$ 60 e R$ 180. Teatro Guararapes, Centro de Convenções de Pernambuco, Complexo de Salgadinho s/nº. Informações: 3182-8020.

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