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Johnny Mathis lança disco novo aos 82 anos

Cantor gravou nomes novos como Pharell Williams e Adele

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 13/11/2017 às 15:33
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Cantor gravou nomes novos como Pharell Williams e Adele - FOTO: foto: divulgação
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Em 28 de outubro de 1975, a alta sociedade recifense compareceu em peso ao Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães para assistir à apresentação do cantor americano Johnny Mathis, a primeira grande estrela internacional na programação do Geraldão. A primeira de muitas, com os jornais anunciando que a próxima atração gringa seria, no ano seguinte, o Rei do Rock, Elvis Presley (que nunca fez turnê fora dos EUA).

 O Recife ainda era tão provinciano que o artista foi para o hotel num carro disponibilizado pela prefeitura. Mathis teve direito a um esquema de segurança de chefe de estado. Exigência de Jorge Gutman, empresário do astro. Além dos seguranças, outra demanda foi a presença, no quarto do hotel, de um litro de vodca (não se revelou a marca) a bebida preferida do cantor.

 Na época, Johnny Mathis estava com 33 anos e nas paradas de sucesso do planeta com Feelings, o insosso baladão do brasileiro Morris Albert (o paulista Maurício Alberto Kaisermann). Em setembro, Mathis completou 82 anos. Mas onde está ele? No mesmo lugar em que está desde 1956, quando deixou de integrar a equipe de atletismo americana nas Olimpíadas de Melbourne para seguir a carreira artística (era campeão de salto em altura): nos palcos e nos estúdios.

 No final de setembro, ele lançou o 71º álbum, Johnny Mathis Sings The New Great American Song Book (Columbia/Legacy), em que canta sucessos recentes do cancioneiro dos EUA, abrindo o álbum com Hallelujah, do canadense “alternativo” Leonard Cohen. Mal comparando, Johnny Mathis é o Cauby Peixoto americano. É dono de uma voz marcante, de uma carreira pontuada por sucessos retumbantes.

 Seu disco mais conhecido, um álbum de greatest hits, de 1958, hospedou-se durante 490 semanas na lista dos mais vendidos, compilada pela Billboard. Isto significa dez anos de sucesso ininterrupto, recorde quebrados duas décadas e meia depois pelo Pink Floyd, com o álbum The dark side of the moon, lançado em 1974.

 Sintomático que este recorde de Johnny Mathis deva-se a uma coleção de grandes sucessos. Ele, assim como Cauby colheu muitos dos seus sucessos em regravações de sucessos alheios. Porém também consagravam canções inéditas, como Mathis fez há 60 anos com um It’s not for me to say, com arranjos de Ray Conniff (um grande arranjador e maestro, subestimado pelos que não conhecem sua trajetória na música popular americana. Burt Bacharach foi um dos seus alunos).

 DISCO NOVO

 Mathis neste novo disco reencontra Clive Davis, outra lenda da música americana. O produtor e executivo que revolucionou o mercado quando estava à frente CBS (atual Sony Music), contratando Janis Joplin, Carlos Santana, The Byrds, Simon & Garfunkel, Bruce Springsteen. Davis trouxe o calejado e premiado Kenneth “Babyface” Edmonds para produzir Johnny Mathis Sings The New Great American Song Book. O critério de seleção de repertório de Johnny Mathis também lembra o de Cauby Peixoto: é eclético em demasia. Ambos têm discografia errática. Mathis gravou todos os ritmos, em diversos idiomas, inclusive em português. É cantor no sentido mais amplo da palavra, como Cauby também foi.

Embora a citada Hallelujah, que abre o novo disco, tenha sido sucesso com Leonard Cohen há 50 anos, a maioria das composições é recente. Johnny Mathis deixa o compartimento dos “românticos”, e esbanja suingue em Happy, o megahit de Pharell Williams, e encara Hello, um dos maiores sucessos da platinada Adele, recordista de vendagens de música nesta década. Canta também um mega astro pop, Bruno Mars, de quem entoa Just the way you are.

 Uma versatilidade que só surpreende aos que sabem pouco dele, que é um dos poucos astros da canções popular que se submeteu a extensos estudos de canto, incluindo ópera antes de se profissionalizar. Seus discos iniciais tinham o viés do jazz, porém, a exemplo de Nat King Cole (1919/1965), seria reconhecido pelos hits que emplacou nas paradas, que venderiam milhões de cópias mundo afora.

 A idade tornou a voz de Mathis mais grave, sem a camada aveludada, da qual, não raro, ele abusava. Mas continua cantando muito bem, alcançando tons altos com facilidade (talvez com ajuda dos recursos de estúdio). A voz continua, quase, a mesma, os standards é que, em sua maioria, não têm a mesma consistência melódica, harmônica e poética dos que se encontram no old great american songbook, mas que chegam às lojas com embalagem de luxo criada por Babyface.

 Ele está à vontade no mainstream do século 21. Interpreta Happy como interpretou, em 1970, o Tema do filme Love Story. É careta. O que não significa que seja obrigatoriamente ruim. No caso de Johnny Mathis, grande cantor e intérprete, é bom, mesmo que algumas canções não figurem entre as melhores que gravou em mais de 60 anos de carreira.

 BOX

 Para os fãs de Johnny Mathis, a Sony Music anuncia, para 8 de dezembro, uma megacaixa, com 68 álbuns, abrangendo toda carreira do cantor. O título: The Voice of Romance: The Columbia Original Album Collection. Dos 68 discos, 25 nunca foram lançados no formato CD. O próprio Mathis participou da curadoria da caixa, imergindo nos arquivos da gravadora à procura de raridades. Deste mergulho resultou um álbum duplo, com 40 faixas de raridades, gravações que permaneciam inéditas.

IDADE

Aos 82 anos, Johnny Mathis, em clipes gravados no estúdio com Babyface, aparenta menos idade e mantém o porte de atleta. Muita gente estranha, e até faz piadas, com roqueiros que continuam gravando e em turnês depois de ultrapassarem a casa dos 70 anos, ou seja, quase toda geração surgida na década de 60.

 É um fenômeno relativamente recente, que um Little Richard, por exemplo, permaneça na estrada aos 85 anos, Mas se deve levar em conta que a indústria fonográfica está com 140 anos, o disco só se tornou barato e acessível nos anos 40, quando surgiram os ídolos de massa. É difícil imaginar Elvis Presley cantando Hound Dog e mexendo, lascivamente, a pélvis com a mesma idade de Johnny Mathis. Mas poderia ter acontecido.

 O Rei Roberto, com 76 anos, não está tão distante desta faixa etária. Paul McCartney, aos 75, em cada turnê visita mais países e cidades do que em 1965, quando estava com 23 anos e os Beatles eram a atração mais requisitada do planeta. O caubói Willie Nelson, aos 84, acaba de lançar álbum novo Willie Nelson & The Willie Boys - Willie1s stash vol.2, pelo que energia que mostra com os filhos, Lucas e Micah (os Willie’s Boys), ele não para tão cedo.

 Com tecnologia avançadas nos estúdios e clínicas médicas, idade não é mais problema para se chegar aos palcos em um estágio mais avançado da vida. Basta lembrar Christopher Lee, o mais famoso Drácula no cinema) que aos 92 lançou o segundo álbum de heavy metal, Charlemagne: The Omens of Death (2014). Um ano depois ele sofreria uma parada cardíaca fatal.

 BRASILEIROS

 Atriz e cantora, nascida no mesmo ano que Christopher Lee, Doris Day antes de se tornar a virgem honorária de Hollywood foi crooner de big bands. Em 2011, aos 89 anos lançou o álbum Heart, e tornou-se a pessoa mais idosa a emplacar uma canção entre as dez mais nas paradas americanas.

 Um recorde que pode ser repetido no Brasil por Bibi Ferreira que também cantora e atriz. Aliás, ela e Doris Day nasceram no mesmo ano. Aos 95, pois, Bibi esta terminando de gravar, para a Biscoito Fino, um álbum com canções pinçadas do repertório de Frank Sinatra. Parte das canções que cantou pelo Brasil, em 2016, com o espetáculo Bibi canta o repertório de Sinatra. Viajante contumaz e rato de estúdio, incapaz de recusar convites para parcerias e projetos, o bossa-novista Roberto Menescal, em outubro, completou 80 anos, com disco novo Mr. Bossa Nova, com o grupo vocal Quarteto do Rio, e ainda relançou o álbum Bossa Nova Meets the Beatles.

 

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