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U2 lança Songs of experience com divulgação discreta

Um disco com algumas boas canções, mas fora de foco

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 06/12/2017 às 13:40
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Um disco com algumas boas canções, mas fora de foco - FOTO: foto: divulgação
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Uma banda com 40 anos de carreira tentando se manter no topo da cadeia produtiva do rock, usando as novas ferramentas da indústria para divulgar um álbum novo, e comete um erro de cálculo que manchou a imaculada ficha do grupo. O disco foi badalado, mas de maneira negativa, tornando-se o maior fracasso de uma banda até então detentora de muitos sucessos. Qual o nome da banda? Um quizz de fácil resposta. O U2 e o álbum Songs of Innocence que, em 2014, foi enviado pelo iTunes, sem consulta prévia, para os iPhones de centenas de milhares de usuários desta marca de celulares.

Bono Vox, Larry Mullen Jr, The Edge, e Adam Clayton, de repente, descobriram que muita gente não queria saber da música do U2, muitos a denunciaram como spam. Tampouco a música foi dada de graça: a Universal Music fez um acordo de cem milhões com a Apple para mandar Songs of Innocence para os iPhone.
DOAÇÃO
Depois de toda a polêmica que se seguiu à “doação”, a banda fez uma turnê batizada Innocence & Experience, que antecipava Songs of Experience, chegado às plataformas virtuais em 1º de dezembro, sem recepção calorosa da imprensa. A própria banda não provocou expectativas quando lançou o disco. As preferências foram dadas à turnê e ao relançamento do álbum The Joshua Tree, cujos 40 anos foram celebrados em 2017 com status de um dos mais importantes discos do século 20.

Foi também o auge do U2, cuja espiral ascendente se encerra com o álbum ( e documentário) Rattle and Hum, uma sequência de The Joshua Tree, com canções que escancaram o fascínio de Bono pela cultura americana. Desde então, o U2 não produziu mais discos com o mesmo impacto daqueles cujos lançamentos foram evento global. Embora Achtung Baby (1990), gravado em Berlim e na Irlanda, tenha sido um dos mais bem-sucedidos do grupo.

Get Out of Your Own Way, que abre Songs of Experience é uma das canções mais pop que o U2 já gravou (curiosamente, o refrão lembra um hit de Peter Frampton Baby I Love Your Way, 1975), enquanto American Soul, uma da mais pesadas (quase não se escutam no disco os arpejos de guitarra, marca de The Edge), tem Kendrick Lamar introduzindo a canção com um discurso bombástico, e um corinho próprio para fazer a plateia cantar junto. Mais uma canção sobre a América : “Este não é um lugar/este país é para mim o som de baixo e bateria/fecha-se os olhos para olhar em volta”

FOCO

Nunca o U2 soou tão diferente. Ao mesmo tempo em que volta ao início, quando sua música só precisava da instrumentação básica, o grupo nunca soou tão diferente. Até um fã teria dificuldade em reconhecer a banda em The Showman (Little More Better), um rock primitivo, incorporando um Buddy Holly no século 21. Em algumas faixas pode ser encaixado no nicho indie, feito acontece em Summer of Love, uma canção sobre refugiados, ou em nicho algum, caso de Blackout.

Songs of Innocence é um disco com algumas boas canções, mas irregular. O repertório é eclético, mas isso não enriquece o álbum, pelo contrário, acentua-lhe a falta de foco. As capas fazem a ligação entre Innocence e Experience. No primeiro, Larry Mullen Jr, numa foto em p&b, aparece abraçado ao filho de 18 anos. No segundo, também em p& b o filho do vocalista Bono, Eli, segura a mão de Sian, filha do guitarrista The Edge. Tudo em família, pois.

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