CARNAVAL 2018

COBERTURA: Com bons shows, Guaiamum Treloso Rural 2018 peca em atrasos

Prévia se tornou um grande festival de boa música, mas a edição deste ano teve shows atrasados em quase três horas

JEFFERSON SOUSA E NATHÁLIA PEREIRA
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JEFFERSON SOUSA E NATHÁLIA PEREIRA
Publicado em 21/01/2018 às 13:00
Foto: Tom Cabral/Guaiamum Treloso Rural 2018/Divulgação
Prévia se tornou um grande festival de boa música, mas a edição deste ano teve shows atrasados em quase três horas - FOTO: Foto: Tom Cabral/Guaiamum Treloso Rural 2018/Divulgação
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Após ter a edição 2018 ameaçada por um trâmite judicial, o Guaiamum Treloso Rural levou mais uma vez um bom público à Fazenda Bem-Te-Vi, no quilômetro 13 de Aldeia, em Camaragibe. A festa aconteceu ao longo da tarde e noite do último sábado (20) e tudo o que foi prometido para  as atrações, musical ou extra-musical, estava lá sendo executado com uma qualidade surpreendentemente positiva.

Todavia, absolutamente nenhuma das atracões musicais subiu e/ou desceu do palco minimamente próximo ao horário planejado. No palco Bem-te-vi - Guaiamum, os atrasos chegaram próximo as três horas, atrapalho anunciado desde a apresentação de Lucas & a Orquestra dos Prazeres, convocados para abrir a festa, às 14h. O grupo, no entanto, ainda se apresentava por volta das 16h, quando deveria já ter começado o segundo show da tarde, o da banda Marsa. Ambos, porém, seguraram shows potentes, a Marsa, inclusive, experimentando novos arranjos para as músicas do álbum Circular Movimento (2016).

Na sequência, ainda no Palco Bem-Te-Vi, apresentaram-se a cearense Cidadão Instigado, com um Fernando Catatau bem mais desinibido que o de costume, e Elza Soares, que abriu a setlist cantando Computadores Fazem Arte, composição de Fred Zeroquatro, eternizada na versão de Chico Science & Nação Zumbi. Como prometido, no show A Voz e a Máquina a veterana intercala músicas das várias fases de sua carreira a outras de seu gosto pessoal. O Tempo Não Para, de Cazuza, foi mais uma delas. Alguns fãs menos atentos chegaram a pedir por faixas de A Mulher do Fim do Mundo (2015), o último álbum de Elza, que em breve será sucedido por Deus é Mulher.

Os desencontros dos horários fizeram com que Elza Soares encerrasse sua participação no Guaiamum Treloso para um público escasso, isso porque enquanto ela ainda conversava com os fãs, os músicos da Nação Zumbi deram início ao show no palco Skol - Caipora, fazendo com que muita gente literalmente corresse em direção a ele. Por lá, os Zumbis apresentaram repertório mesclado entre as queridinhas autorais, dentre as quais Foi de Amor, Cicatriz, Um Sonho e Blunt of Judah, e as versões de clássicos gravadas no recém-lançado Radiola NZ, o primeiro de não-autorais do grupo. Destas, destaque para Amor, dos Secos & Molhados, Refazenda, de Gilberto Gil, precedida por gritos de "Fora, Temer", e Balanço, de Tim Maia, que abriu a noite.

Nação Zumbi já agita o Palco Skol do Guaiamum Treloso Rural 2018

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Mais uma vez os shows de nichos semelhantes acontecendo quase que ao mesmo tempo obrigaram o público a escolher apenas um para acompanhar na íntegra. O show do rapper baiano Baco Exu do Blues, programado para as 20h40, começou às 23h10, quando a Nação ainda caminhava para a metade da performance.

Baco apareceu acompanhado do DJ Bbzão e de seu fiel escudeiro MC Xarope, fundamentais para que o jovem Exu mantivesse a linha. Baco perdeu a voz no início do show - talvez consequência da agenda acelerada após o fenômeno Esú - mas, graças aos parceiros, que cantaram todas as músicas, e ao carisma com que contagiou a plateia, conseguiu fazer um dos dois shows mais eletrizantes em relação à correspondência com o público, igualando-se apenas à Nação Zumbi. "Difícil entrar em campo sem o camisa 10, mas vamos lá", brincou MC Xarope. Ao fim, ofereceram um bis de Abre Caminho e como resposta ganharam muitas rodas de pogo e banhos de cerveja.

ANTES, O RAPPER HAVIA MANDADO UM RECADO NO INSTAGRAM DO JC:

Foi bem depois da meia-noite que as duas últimas grandes atrações do evento deram as caras. Após a Nação Zumbi, a carioca Letícia Novaes, aka Letrux, surgiu de maiô vermelho, estampado com o próprio rosto, para cantar todas as faixas de Letrux em Noite de Climão, seu primeiro álbum solo. Exatamente como nas gravações, Letícia conduz o show como quem bate um papo com amigos íntimos, sussurrando, entre uma música e outra, algumas das histórias que as cercam. Boa apresentação, mas não a ideal para fechar o Palco Skol, já as 2h, quando o público se mostrava cansado - boa parte assistiu tudo sentada no chão. Uma inversão de ordem, com a Nação Zumbi encerrando, talvez tivesse dado mais gás para o fim.

Enquanto Letrux e companhia deixavam o Skol - Caipora, os meio brasileiros meio mexicanos da Francisco, El Hombre ainda cantavam as canções de SOLTASBRUXA (2016), primeiro disco e sucessor dos EPs Nudez (2013) e La Pachanga! (2015). Vários cantaram em coro junto a banda, reafirmando a excelente performance que já haviam mostrado no Rec-Beat Festival 2016, pouco antes de lançarem o álbum. O discurso sobre força feminina, materializado na figura da vocalista e percussionista Juliana Strassacapa, atingiu o auge ao cantarem Triste, Louca ou Má, cujo videoclipe já ultrapassa quatro milhões de visualizações no YouTube.

SELVAGEM E DISCO

De Igor de Carvalho a Juvenil Silva, animando o Palco Selvagem - Mula em seus respectivos shows, até as apresentações envolventes do Metá Metá e Letrux no Palco Skol, todos levaram shows dignos de parabéns. Até mesmo a Silent Disco, área onde a cada hora dois DJs tocavam para que o público escolhesse qual dos dois ouvir, através de diversos fones de ouvidos disponibilizados no ambientem, estava divertido, apesar de pouco frequentado em relação aos demais espaços.

ORGANIZAÇÃO

Ainda no início do festival, quando o volume de pessoas chegando ainda era pequeno, não houve reclamações de grandes dificuldades em relação ao Expresso Treloso, transporte oferecido pelo evento. A proposta era de que ônibus saíssem a cada meia hora, ou quando atingissem a lotação máxima, de terminais localizados nos shoppings Tacaruna, Plaza e Recife. Desses, o terminal Tacaruna foi o que concentrou queixas, a partir das 18h, quando muita gente tentava chegar a Fazenda Bem-Te-Vi. No perfil do Guaiamum Treloso Rural no Instagram, uma seguidora se queixou de esperar por quase duas horas pelo ônibus. Em contrapartida, apesar do atraso de mais de duas horas no término do evento, havia transporte esperando por quem optou por ficar até o final. Taxistas e motoristas de serviços de transporte via aplicativo também cercavam aos montes a saída do lugar.

Também como anunciado pela organização, não foi permitida a entrada com garrafas de água mineral, mas o patrocínio de uma marca do produto acabou disponibilizando para venda garrafas de 500 ml ao preço de R$ 2, acessível, se comparado aos valores cobrados em eventos fechados. Havia bares e pontos de venda de copos retornáveis perto de cada palco, o que facilitou a agilidade no atendimento. O público pode entrar com os copos trazidos de casa e os que compraram o do evento, tinham a opção de devolvê-lo ao final.

Os food trucks não estiveram tão cheios, em compensação, muita gente optou por levar o próprio lanche, como frutas e castanhas - com entrada permitida, o que, além de desafogar as filas, colaborou com o bolso do folião. Ponto negativo vai para a pouca iluminação nos trajetos que ligavam um palco ao outro. Com as fortes chuvas da sexta-feira, havia bastante lama entre a grama, o que acentuou o desnível do solo. Nada que uma atenção a mais ao caminhar não resolvesse, mas, para pessoas com alguma limitação física, como as que utilizam cadeiras de roda, a locomoção se tornava um obstáculo quase impossível de ser superado. Também foi difícil a identificação dos palcos, só era possível saber quais eram o Skol - Caipora, Bem-Te-Vi - Guaiamum ou Selvagem - Mula procurando muito bem os nomes ou pela atração que se apresentava.

De modo geral, o Guaiamum Treloso Rural 2018 ofereceu bons shows e boa estrutura para o porte que alcançou - muito mais de festival de música, aos moldes do No Ar Coquetel Molotov. Mas é válido reforçar o cuidado com detalhes como acessibilidade - também não havia espaço reservado à frente dos palcos para pessoas com deficiência - e a pontualidade dos shows, que acabaram bem depois da meia-noite, horário que vinha sendo anunciado há meses pela organização.

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