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Paralamas do Sucesso trazem os Sinais do Sim para o RioMar

Novo trabalho é enxuto, de canções simples e diretas

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 02/03/2018 às 13:42
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Quando lançaram, em 2009, o álbum Brasil Afora, os Paralamas do Sucesso quase caíam na independência. O álbum foi disponibilizado na íntegra para download gratuito. O CD físico foi lançado pela EMI, a gravadora que abrigava a banda desde o início da carreira. O álbum praticamente não teve divulgação. A banda somente voltaria a gravar em 2017, o álbum Sinais do Sim, lançado no segundo semestre do ano passado. É com o show deste disco que os Paralamas do Sucesso adentram domingo, o palco do Teatro Guararapes, às 19h30:

“É sempre um desafio para uma banda com esta longevidade, 35 anos de estrada, lançar um trabalho novo. Temos um repertório muito conhecido, poderia entregar aquelas músicas que todo mundo quer ouvir, mas vamos chegar aí com um show novo, do Sinais do Sim, com algumas surpresas. Canções conhecidas, outras nem tanto, acho que será bem legal pra plateia”, diz o baterista João Barone, em entrevista por telefone, do Rio, onde os integrantes do Paralamas moram.

Sinais do Sim, afirma Barone, está com boa resposta nos shows, bem colocado nas plataformas de streaming, e críticas positivas: “Hoje em dia, disco leva bastante tempo pra ser absorvido pelo público em geral. Todos os álbuns que lançamos, no momento em que começou a turnê, as músicas novas também não eram muito conhecidas. Mas, na verdade, a gente não está aqui para brigar com o nosso repertório mais conhecido. Hoje em dia existe uma diferença muito grande do tipo de música consumida no rádio. Ao mesmo tempo, a música dos Paralamas é uma das mais tocadas na FMs adultas, padrão A. É um trunfo, mas gente também não está aqui para brigar com representantes da música mais popular, não está aqui para dizer o que é bom e o que é ruim. Só sabemos que é uma realidade muito diferente. O próprio fenômeno do rádio ficou muito diluído com a internet, com o próprio streaming que é a realidade hoje em dia”, analisa.

Na última cerimônia do Grammy, a ausência mais notada não foi a de artistas da velha guarda do rock, mas do instrumento o que mais se identifica com ele, a guitarra elétrica. No Brasil, há muitos anos nenhuma banda nova de rock é consumida em larga escala. João Barone é de opinião de que o rock nacional está vivo e pulsando: “Todo mundo fala que o rock acabou, não é bem o caso. Não dá pra comparar um artista que faz rock com Anitta, com Wesley Safadão, sem querer desmerecer nenhum dos dois. Se você quer rock, ele está aí, mas é preciso ir atrás. Não é o caso de patrulhar o bom ou o ruim, assim a gente perde o viés da discussão”.

Quando o Paralamas do Sucesso gravou Brasil Afora, a mídia social mais popular era o Orkut. Entre aquele disco e Sinais do Sim, eles incrementam o uso das ferramentas da web, contratam uma produtora pra conduzir a divulgação e interação do grupo com seu público, acompanhada de perto pelo trio: “Antigamente, a gente recebia muita carta na gravadora, parece coisa do século 19. Botamos uma pessoa para cuidar da correspondência do nosso fã-clube no nosso escritório”, ri Barone, mas diz que apesar das ações na internet, ele, Bi e Herbert são ídolos à moda antiga: “A gente recebe uma parcela possível do pessoal que vai ao show, faz uma frente com a galera, o pessoal de fã-clube. Tiramos fotos, assinamos CD, ainda tem CD, né? Quem quiser que a gente autografe LP é só levar que a gente autografa. Paramos tudo e autografamos. Achamos um barato, e incentivamos. É muito boa esta sensação de respeito dos fãs, na medida do possível, é bacana
receber e devolver este carinho dos fãs”.

DISCO

Os Paralamas estavam no limiar de entrar no processo de criar a sequência de Brasil Afora, quando optaram por celebrar a si mesmos, que completavam três décadas em 2013. Na época, a geração anos 80 estava chegando a este patamar cronológico: “A gente estava começando a se coçar para fazer um álbum novo e decidiu celebrar esta data cheia. O Barão e o Kid Abelha estavam comemorando. Preparamos um show com aquele coisa mais emocionante, os sucessos, uma viagem no tempo, com requintes visuais. Seriam oito shows, acabamos viajando durante três anos”, comenta Barone.

O novo disco ficou então para depois. “Em 2015, começo de 2016, começamos a salvar um tempo de nossa agenda para se encontrar e preparar músicas novas, um processo tranquilo, sem muita pressão. Preparamos o repertório ao longo de 2016 e, no comecinho de 2017, gravamos o álbum. A gente vai vendo as letras do Herbert, vai experimentando arranjos, levadas, texturas. Gravando num estudiozinho, e fazendo o teste do dia seguinte, pra ver se a música ficou boa. Uma ficam horríveis, e gravamos de novo, outras ficam boas de primeira. Mas foi sempre assim que a gente trabalhou, dando aos poucos aquela forma dos Paralamas às composições do Herbert. Outra coisa curiosa que acontece com artista com muita longevidade: vamos ficando mais seletivos, precisando de mais tempo para maturar as ideias. O processo torna-se mais
demorado”, comenta o baterista.

O paulista Mario Caldato (célebre pelo trabalho com os Beastie Boys), que vem deixando sua marca na música brasileira desde os anos 1990, assinou a produção de Sinais do Sim, uma sugestão do pessoal do Nação Zumbi, aceita pelo trio. “Um produtor com quem a gente ainda não havia trabalhado, embora admirasse muito. Determinante para isso foi o Nação Zumbi. A gente conversando, depois de um show que fizemos juntos, e eles disseram que Mario Caldato tinha tudo a ver com os Paralamas. Ele rendeu tudo o que a gente imaginou. A gente gravou no Rio. Ele finalizou o disco em Los Angeles, com carta branca nossa. Ele potencializou tudo o que a gente gravou. Ficamos felizes com o resultado”, comenta Barone.

Sinais do Sim tem oito canções inéditas autorais, uma da banda argentina Soda Estéreo, Cuando Passe el Temblor, uma da rapper portuguesa Capicua, Medo do Medo (que acabou sendo a faixa mais espelha a atualidade brasileira), e mais uma de Nando Reis, Não posso mais. Os violoncelos do Duo Santoro, a percussão de Pupillo (Nação Zumbi) os efeitos de Kassin, os convidados, num disco que valoriza a prata da casa, os teclados de Maurício Barros, João Fera, o trombone de Bidu Cordeiro e o sax de Monteiro Jr. O trio esbanja um entrosamento de três décadas e meia.

Show Sinais do sim, com os Paralamas do Sucesso, 19h, no Teatro Guararapes, Ingressos: Plateia: R$ 160 e R$ 80. Balcão: R$ 120 e R$ 60. Fone: 3182- 8020

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