Disco

Paul McCartney viaja por estações musicais em Egypt Station

Álbum dos Beatles foi uma das influências do novo disco

JOSÉ TELES
Cadastrado por
JOSÉ TELES
Publicado em 07/09/2018 às 9:14
Foto: divulgação
Álbum dos Beatles foi uma das influências do novo disco - FOTO: Foto: divulgação
Leitura:

Paul McCartney lança hoje, oficialmente, seu novo álbum, Egypt Station, com um show em Nova Iorque, que será transmitido em tempo real pelo Youtube, a partir das 21h30. Este é o primeiro disco de canções inéditas, desde o elogiado New, de cinco anos atrás. Paul McCartney, 76 anos, confessa que até pensou em aposentadoria quando chegou aos 65: “Mas quando me entrevistam e dizem que os Rolling Stones continuam fazendo shows, sou que lhes dou confiança para saírem por aí. Eles olham pra mim, e dizem: se Macca ainda pode, então ... Nós todos achamos que adoramos tocar,e acontece que somos bons nisso”, comenta o ex-beatle, às vésperas de lançar o 17º disco solo (25º se forem incluídos os álbuns ao vivo, e projetos alternativos).

Pessoas se perguntam porque ele, multimilionário, continua circulando pelo mundo. Comparam o que criou nos anos 60, ou 70, com suas composições recentes. Entende-se o questionamento, afinal McCartney é da primeira geração de artistas da música popular que lança discos e faz turnês há mais de 50 anos (que acontece também no Brasil. Caetano Veloso tem a mesma idade que Paul). No caso de McCartney, uma carreira com 58 anos, contando-se a partir das temporadas dos Beatles em Hamburgo, na Alemanha, e das apresentações no Cavern Club ou Jacaranda, em Liverpool. Se Egypt station fosse obra de algum jovem roqueiro, seria louvado como como a nova promessa do gênero. Porém McCartney está fazendo apenas o que faz há décadas, pop/rock de qualidade, os que o esnobam, do novo pelo novo, vão considerá-lo repetitivo.

O preconceito colabora para este raciocínio. Fosse McCartney um compositor de música erudita, não pesaria sobre ele a idade. Fato que conta para uma estrela do rock, que continua sendo tido como um gênero juvenil, 64 anos depois de Elvis Presley inventar o rock-a-billy, com Scotty Moore, e Bill Black, no estúdio da Sun Records, em Memphis, e 53 desde que Bob Dylan escreveu Like a rolling stone, que canção que marca a entrada do rock à maioridade.

“Eu estava em turnê no Brasil em um daqueles bons dias em que não há nada planejado. Havia um piano no quarto do hotel e eu criei esse riff com a ideia de estar de volta ao Brasil, e havia uma garota que sonha com o futuro e um mundo muito melhor. Ela conhece um homem e se encaixa nos planos dele. Então, é uma história sobre um casal, provocações e sofrimentos. Ela planeja um encontro, mas ele não pode comparecer porque está trabalhando até tarde. Apenas uma história imaginária de dois jovens brasileiros. A música é dançante, então quis colocar um ritmo brasileiro nela e ter o sabor”. McCartney refere-se à faixa Back in Brazil, uma das mais fracas do disco, lembra um arremedo de grupos feito o Bossacucanova.

CONCEITO

Outra canção dispensável no álbum é Fuh you, parceria com Ryan Tedder, requisitado compositor, fornecedor de músicas para estrelas do porte de Beyoncé (para quem compôs Halo), e produtor de nomes como Demi Lovato e Maroon 5. Comparável às tentativas equivocadas de Roberto Carlos em se atualizar gravando com funkeiros de baixo teores, e talento muito abaixo do seu. As duas faixas somam pouco mais de seis minutos, dos 55 de duração das 16 faixas de Egypt Station. Nas demais, Paul McCartney segue pelo estilo que formatou, com Greg Kurstin, produtor de, entre outros, Adele, Beck e Foo Fighters. Não é a primeira ocasião em que se aproxima do pessoal que faz o que passou a ser denominado de pop. Tem parcerias com Kanie West, gravada com Rihanna, e expressou vontade de compor com Kendrick Lamar.

Um disco conceitual, retomando o que já fez com os Beatles ou com os Wings. O álbum abre com ruídos (tal como Sgt Pepper’s), gravados em duas estações ferroviárias, e superpostos. As canções em sua maioria aproximam-se da sonoridade de New, algumas soam como os primeiros discos solo, feito acontece Confidant, uma ode ao velho violão Martin, que está sempre por perto. A faixa simples, acústica soa como se tivesse sido feito em 1971, época de Ram, o segundo disco depois do fim dos Beatles. Voltando aos Rolling Stones, curioso como o riff de Who cares assemelha-se ao de Honky tonky woman.

Numa entrevista concedida, em 25 de agosto, na Liverpool Institute of Performing Arts, conduzida por Jarvis Cocker (do Pulp), ele revelou que a opção por um conceito para o disco foi a impossibilidade de competir (ou talvez não ser simpático a ideia), com os que frequentam as paradas atualmente: “Hoje em dia, estrelas como Taylor Swift e Beyoncé fazem álbuns que são uma coleção de singles. Não consigo competir com isso. Então quis fazer um álbum que fosse para ouvir do começo ao fim, inteiro, como um disco de Pink Floyd, ou dos Beatles”. Ironicamente, 21 anos depois, McCartney voltou à figurar na disputada lista das dez mais da parada “adult alternative” da Billboard, com Come on to me, primeiro single de Egypt Station.

McCartney teve a ideia do título do álbum tirada de uma tela pintada por ele, mas muito das novas canções veio do Sgt Pepper’s lonely hearts club band, cujos 50 anos estavam sendo celebrados, quando começou a escrever para Egypt Station. Onde a influência é mais palpável é na faixa Despite repeated warnings, que tem alguma coisa de Live and let it die e de Band on the run. São trechos de canções, de andamentos diferentes, comprimidos em quase sete minutos. A despeito de repetidos alertas, o título em português é sobre o presidente Donald Trump, críticas à sua política em relação ao meio ambiente.

O disco começa com Come on to me, um pop dançante de poucos acordes, como nos velhos tempos, a medida que as estações vão passando, as canções são revestidas de roupagens mais trabalhadas. Em Ceasar rock, que inicialmente se chamava She is a rock, McCartney, com seu técnico de som, volta aos tempos em que fazia experimentações no estúdio. Station II, uma vinheta depois do fade out de Despite repeated warnings, trazem novamente a algaravia de uma estação de trens. O disco termina como se um músico de rua, plugasse a guitarra e cantasse em troca de uns trocados. São três canções interligadas, Hunt you down, Naked e C-link.

O medley é o melhor do disco. McCartney pega o espírito da coisa. Ele gravou quase tudo sozinho, com um orquestra segurando um só acorde (feito em A day in the life, do Sgt Pepper’s): “As pessoas perguntam: Por que você ainda faz isso?. E a resposta é porque eu amo isso, e ainda estou animado em ter o privilégio de ligar o amplificador, plugar minha guitarra e tocar muito alto”. A estas alturas, Sir Paul não precisa provar mais nada.

 

Últimas notícias