Caetano, Zeca, Tom e Moreno, um quarteto feliz e afinado

Ofertório, o show com pai e filhos, de volta ao Recife
JOSÉ TELES
Publicado em 15/09/2018 às 11:16
Ofertório, o show com pai e filhos, de volta ao Recife Foto: foto: Jorge Bispo/Divulgação


Caetano Veloso, com os três filhos, Zeca, Tom e Moreno, depois de uma bem sucedida circulada pela Europa com o espetáculo Ofertório, retoma os shows no Brasil, onde foi iniciado há quase um ano. Hoje o reapresentam no Teatro Guararapes, desta vez já com CD e DVD lançados. Caetano concedeu entrevista ao JC para falar um pouco o show, e a convivência dele com os filhos, que seguem carreira próprias, mais juntos em Ofertório.

ENTREVISTA

JORNAL DO COMMERCIO – Ofertório estreou há quase um ano. Em que os Veloso foram afetados nesse
período de convivência mais próxima, praticamente diária, pelo Brasil e no exterior?

CAETANO VELOSO – De minha parte, fiquei feliz de poder estar com Moreno, Zeca e Tom por tanto tempo. E ainda temos mais viagens pra fazer. Graças a Deus. Parece que nós quatro temos gostado de estar próximos. Tom sente falta de casa, mas chega cedo nas passagens de som. Zeca se interessa por lugares e comidas novos, mas não chega cedo nas passagens de som, embora, no mais, seja o mais aplicado de nós todos. Moreno é tão treinado em viajar quanto eu. Às vezes vamos todos juntos a um restaurante ou a um museu e eu fico mais feliz do que eles.

JC – O repertório teve alguma modificação? Alguma canção foi repensada durante a turnê, ou entrou alguma
que não estava inicialmente no roteiro?

CAETANO – Quase nada foi mudado. Com a perda do cello, por roubo na estrada, deixamos de fazer Gente.
No bis, variamos, a depender de onde estamos e de como está o público.

JC – Gostaria que você comentasse sobre dois personagens presentes no espetáculo: Hélio Eichbauer (autor
do cenário), e Cezar Mendes (a quem o espetáculo é dedicado).

CAETANO – Meu primeiro contato com o trabalho de Hélio foi em 1967, quando vi a estreia de O Rei da
Vela, para o qual ele fez a cenografia. Hélio foi um artista de grande inspiração e de grande rigor. Muito culto
e muito concentrado, via o essencial de cada show que eu ensaiava e trazia uma tradução visual sempre
perfeita. Era assombroso. Ele foi importante para o teatro brasileiro – de Boal ao Asdrúbal, do Oficina a
óperas no Municipal – e ensinou gerações. Acho que o cenário do nosso Ofertório e o do show de Chico
foram seus últimos (e deslumbrantes) trabalhos.
Cezar Mendes eu conheci criança em Santo Amaro. Cresceu para se tornar um violonista e compositor de
grande sensibilidade harmônica e melódica. Ensinou Tom a tocar violão. Participou da criação da primeira
versão dos Tribalistas. Agora, Marisa Monte produziu um álbum com canções suas cantadas por vários
artistas: ela própria, Moreno, Arnaldo Antunes, Tom, Fernanda Montenegro, entre outros.

JC – A turnê continua até quando? Pensou-se numa segunda reunião pai & filhos?

CAETANO – Não tem data certa pra terminar. Ainda vamos à Argentina, aos Estados Unidos e talvez algum
outro país hispano-americano no primeiro semestre do próximo ano.

JC – Caetano já pensa num próximo projeto solo? Tomando emprestado, parafraseado, um mote da cantoria
de viola: “O que lhe falta fazer mais?”

CAETANO – Falta muita coisa. Falta compor algo que me satisfaça plenamente. Sei que isso é quase
impossível de acontecer. Fui conseguindo aprender a gostar de coisas que já fiz há muitos anos. Hoje parece
não haver mais álbuns. Mas é o que quero fazer. Tenho só uns esboços de ideias. Fazia mais de dois anos que
eu não compunha (exceto o funk do Ofertório). Agora Bethânia me pediu uma canção e Céu me pediu outra:
fiz as duas. Ao menos uma delas quero gravar no próximo álbum. Tenho tido a colaboração de Moreno nos
discos que venho fazendo há anos. Agora vou querer a de Zeca e Tom também.

Show Ofertório, com Caetaeno, Moreno, Tom e Zeca Veloso, às 21h, no Teatro Guararapes. Ingresos:  R$ 90/180 (balcão meia-entrada/inteira) e R$ 140/280 (platéia meia-entrada/inteira). Fone: 3182-8000

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