Crítica

Alceu e Orquestra Ouro Preto brilham com Valencianas

Espetáculo foi apresentado para um Teatro Guararapes lotadíssimo no último sábado

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 30/09/2018 às 11:05
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Espetáculo foi apresentado para um Teatro Guararapes lotadíssimo no último sábado - FOTO: Divulgação
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Se, desde, sobretudo, Villa Lobos, a ligação entre os universos erudito e popular são frequentes na música brasileira, o espetáculo Valencianas apenas chancela: não faz mais sentido algum estabelecer fronteiras simbólica de prestígio entre a música aprendida e produzida espontaneamente e aquela concebida segundo os cânones clássicos.

Apresentado no último sábado, no Teatro Guararapes, pela primeira vez em Pernambuco, depois que já virou DVD e mais de seis anos após sua estreia no Sudeste do País, o show em que o  trovador Alceu Valença se faz acompanhar da impressionante Orquestra Ouro Preto dilui e amplia qualquer fronteira. Um show pra marcar trajetória.Historicamente, Alceu (ao lado dos contemporâneos Geraldo Azevêdo, Lula Côrtes e Zé Ramalho, para citar alguns) faz uma música diluidora de fronteiras. Três décadas antes de Chico Sciense e companhia, o bardo já eletrificava a música tradicional nordestina com guitarras e timbres roqueiros. Agora, sem perda de sotaque, Alceu mostra que sua música tem ampla musculatura sinfônica com os arranjos de Mateus Freire para a orquestra.

No repertório, sucessos que já moram no imaginário coletivo brasileiro, sobretudo pernambucano, e temas menos conhecidos do
compositor. Tudo ampliado sinfonicamente, grandiloquente, mas intimamente emocionante, sem perda das estruturas originais. A noite abre com uma suíte: Valencianas, ritmada como um martelo alagoano, costura várias citações às canções de Alceu. Só depois, paletó aberto, camisa idem, mezzo informal, mezzo “vestido para a ocasião”, Alceu assume o microfone, sentado sobre um banco. Cavalo de Pau ganha versão vertiginosa, galopante e malemolente ao mesmo tempo.

 Alceu mantém a firmeza lancinante de sua voz agreste. Ao cantar Morena Tropicana, começa manhoso e depois mais áspero, afirmativo, como é marca de Alceu.

CORAÇÃO BOBO

Depois, Alceu sai de cena e um bloco instrumental reverencia sua amplitude em temas como Estação da Luz. Frenéticas e no compasso do coro do público, Coração Bobo e Anunciação fazem todos os corações -de Alceu, da Orquestra e do público - baterem firmes e juntos. Com ingressos esgotadíssimos semanas antes da apresentação, Valencianas, o espetáculo, vai deixar saudades até para quem não conseguiu assistir. O próprio Alceu diz que tem vontade de conseguir reunir todo mundo
outra vez para uma nova apresentação na cidade. Oxalá não tarde.

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