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Mimo resiste e garante festa de 15 anos em Olinda

Com perda de patrocínios, produtora Lu Araújo remaneja recursos e garante o festival: Tom Zé e palestinos da 47Soul estão entre as atrações

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 21/10/2018 às 0:15
André Conti/ Divulgação
Com perda de patrocínios, produtora Lu Araújo remaneja recursos e garante o festival: Tom Zé e palestinos da 47Soul estão entre as atrações - FOTO: André Conti/ Divulgação
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Nos últimos dias de setembro, quando transitava entre um show e outro da edição do Mimo na cidade de Paraty, litoral do Rio de Janeiro, Lu Araújo, idealizadora e produtora do festival nascido em Olinda, recebeu um telefonema que a obrigou a mudar de direção: “Foi um choque, mas segurei a pancada e não contei para ninguém da equipe, não podia baixar os ânimos”. Do outro lado da linha, a notícia: dois dos grandes patrocinadores haviam desistido de bancar o festival - que, além de cinco cidades brasileiras, acontece na cidade portuguesa de Amarante. Faltou pouco para Olinda deixar de ter o festival justamente quando completa o aniversário de 15 anos. “Por muito pouco, Olinda fica sem o Mimo. Seria tristíssimo. Foi em Olinda que o festival surgiu e se projetou”, diz a produtora, assegurando: “O Mimo está garantido”. Inviabilizado em 2015 por falta de recursos, o festival deste ano acontece entre 23 e 25 de novembro.

Com um custo variável entre R$ 2 milhões e R$ 2,5 milhões por edição, o Mimo deste ano vai contar com patrocínio quase que exclusivo do banco privado Bradesco, além de um aporte de R$ 200 mil do Governo do Estado. “(Fazer a edição em) Olinda é muito mais caro, por causa da logística, por causa dos aéreos, que são poucos, os hotéis não são baratos, tem poucos leitos”, diz ela. Com a desistência, segundo informa a produtora, da operadora de cartões Cielo e do banco oficial BNDES da cartela de patrocínios, ela precisou remanejar os recursos. “Eu já tinha mais de um milhão em contratos assinados, temos que trabalhar com antecedência, ou não conseguimos trazer artistas internacionais. O Brasil está vivendo um momento muito duro, e isso tem repercutido muito no mundo. Você fecha um contrato com um artista com dólar a R$ 3,5 e, no outro dia, tá a 4,60. Isso gera um reflexo enorme num festival que não tem bilheteria”, diz ela, que para conseguir a manter a edição olindense de 15 anos, precisou sacrificar as edições em duas outras cidade. “Vamos deixar para fazer as edições do Rio de Janeiro e de São Paulo no primeiro semestre do próximo ano”, ela diz. “Até lá, viabilizamos”.

PROGRAMAÇÃO

O Mimo de 15 anos em Olinda terá atrações com grande poder de concentração de público - confirmando que já não é o festival de música instrumental e algumas exceções para um público mais ou menos iniciado dos primeiros anos. Mesmo nos concertos mais intimistas, realizados tradicionalmente nas igrejas da cidade. “Quisemos reunir atrações que fazem parte da memória afetiva musical de Olinda”, diz Lu Araújo.

No primeiro dia, uma sexta, o bruxo Hermeto Pascoal faz seu concerto polifônico com o Grupo Brasil na Igreja da Sé (20h30). Depois, as atrações concentram-se no palco da Praça do Carmo. A festa começa com o DJ Montano Brasil (21h30). Depois, sobe ao palco a banda portuguesa Dead Combo Brasil (22h30), formada por apenas dois integrantes, Tó Trips (guitarras) e Pedro V. Gonçalves (contrabaixo, kazoo, melódica e guitarras), notabilizada pelo acento roqueiro injetado no fado. “Eles tocaram no Mimo de Amarante, têm uma estética linda. Tocam fado, mas eu diria que estão mais para Nick Cave que para o fado mais tradicional português”, diz.


Fechando a primeira noite, com promessa certa de apoteose, o tropicalista permanente Tom Zé faz seu show à meia-noite e meia. O bardo tem ainda outra participação no festival. “O Tom Zé vai falar no fórum de ideias, sobre sua trajetória”.
O Mimo retoma a programação no sábado. Na Igreja do Carmo (19h), contemplado pelo Prêmio Mimo Instrumental, se apresenta Bruno Sanches Brasil. Na Igreja da Sé (20h30), o Egberto Gismonti Quarteto Brasil faz seu concerto. Umas das grandes apostas deste festival é a banda 47 Soul, a mundialmente consagrada banda palestina de hip hop, dona de um discurso incisivo sobre as questões de identidade e território da Palestina e uma de uma sonoridade sui generis: sintetizadores, baterias, guitarras e percussão árabe, o grupo é notório pelo shamstep, uma fusão de elementos eletrônicos com o dabke, a música tradicional árabe. Depois, o palco é do paulistano Emicida.

No domingo, a festa é feita pela prata da casa: a diva Lia de Itamaracá (18h) e a Banda Eddie defendo seu “Original Olinda Style”. “Vai ser um dia de festa, pra botar todo mundo pra dançar”, ela diz. Neste dia, a programação acaba mais cedo. Também pela segurança: ano passado, a polícia dispersou com violência o grupo que ainda dançava na praça após o fim das apresentações, o que quase maculou a imagem do festival. “Já tivemos conversas com a Prefeitura e a Polícia Militar para garantir a devida segurança do público na dispersão”, ela diz.

Com o Mercado Eufrásio Barbosa reformado, seu Teatro Santa Cruz será utilizado também para o Festival Mimo Cinema. São 19 filmes, entre eles, o inédito Pesado - Que som é esse que vem de Pernambuco?, de Leo Crivellare, sobre o encontro do metal com a música local e, grande convidado desta edição,They say I’m different, sobre a rainha do funk, Betty Davis. O diretor britânico Phil Cox vem para a estreia do filme no Brasil - justamente no Mimo que, sim, está garantido às vésperas.

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