Discos

Imagine, de John Lennon, num relançamento especial

É o disco mais conhecido da carreira solo do ex-Beatle

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 23/10/2018 às 13:35
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É o disco mais conhecido da carreira solo do ex-Beatle - FOTO: Foto: divulgação
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Em 1968, uma canção chamada Revolution frequentava as paradas do mundo inteiro. Há exatos 50 anos, as cinco músicas mais tocadas no país eram Eu te amo, Te Amo, Te Amo, com Roberto Carlos; Love is Blue, com a orquestra de Paul Mauriat; O Milionário, com Os Incríveis; Caminhando (Para Não Dizer que Não Falei de Flores), com Geraldo Vandré, e a citada Revolution, com os Beatles, mas apenas de John Lennon, que entrava de cabeça no ativismo político, o que o tornaria um dos alvos principais do serviço secreto do presidente Richard Nixon, cujo governo foi encerrado com um impeachment, em 1974.

Lennon e Yoko Ono começaram incentivando grupos radicais de esquerda, como os Black Panthers, fizeram intervenções/manifestações mundo afora, a exemplo dos célebres bed-ins (protesto na cama, em quarto de hotéis), ou canções compostas e gravadas quase simultaneamente, como uma espécie de cordel sonoro. Quando uma onda de conservadorismo espalhou-se pelo mundo, ratificando, como John já alertara, que o sonho havia acabado, ele se engajou e caminhou no sentido contrário. Em 1971, lançou Imagine, um hino de crença na utopia. Em plena era da distopia, achou-se que o mundo está precisando novamente de John Lennon.

Às vésperas do dia 9 de outubro, quando o ex-beatle completaria 78 anos, a Universal/ Apple, lançou John Lennon – Imagine: The Ultimate Collection. O álbum Imagine, desdobrado em seis discos. Não são apenas os óbvios penduricalhos de edições de luxo de álbuns clássicos. Além dos LPs originais remasterizados, em versão quadrofônica, disponibilizada depois de 47 anos, as faixas extras refazem a trilha engajada de Lennon de final dos anos 60 até 1971, ano em que foi peça fundamental para a libertação do ativista político John Sinclair.

Se ele conseguia tirar da cadeia um subversivo, “elemento ativo, feroz e nocivo ao bem estar comum” (citando um antigo samba de Chico Buarque, Fica, de 1967), o que não poderia aprontar durante a campanha política que estava prestes a começar? O roqueiro que em 1964 cantava canções juvenis e falava bobagens tornara-se uma das pessoas mais influentes do mundo. “Mexa estes seus pés e vá pra rua”, canta em Power to the People, um dos hinos ativistas que compôs no mesmo ano de Imagine. Em 1969, gravou Give Peace a Chance, no hotel Queen Elizabeth, em Quebec, no Canadá, onde fazia mais um bed-in com Yoko.

CONFUSÕES

Lennon estava com 31 anos quando lançou Imagine, o álbum, cujas canções abrangem questionamentos pessoais (Crippled Inside, Jealous Guy ou It’s So Hard), declarações de amor a Yoko Ono (Oh Yoko, Oh My Love), à guerra e à sociedade em geral (I Don’t Wanna Be a Soldier), à hipocrisia dos que estavam no poder (Gimme Some Truth). Assim como Revolution. Canções que poderiam estar em discos dos Beatles, em que o ranço das letras é amortecido pelas melodias cativantes.
Tocam no disco apenas o próprio Lennon, o baixista alemão Klaus Voorman, o baterista Alan White e o grupo de violinistas The Fluxx Fiddlers. A produção foi de Phil Spector, paradoxalmente, um cara que não se apartava de um revólver:está preso desde 2009 pelo assassinato da atriz Lana Clarkson, e provavelmente ficará até o fim da vida numa cela. Em 2019, Spector, uma lenda do pop, completará 80 anos.

DO THE OZ

Ao jornalista Tarik Ali, do jornal underground inglês The Mole, Lennon concedeu, em janeiro de 1971, uma de suas mais longas e sinceras entrevistas, anunciando seus propósitos de imergir na política. Afinal,comentou, já possuía mais dinheiro do que precisava: “Gostaria de compor canções para a revolução. Espero que o pessoal entenda que o rock’n roll não é a mesma coisa que uma Coca-Cola. É por isto que estou fazendo declarações mais pesadas agora, e tentando me livrar da imagem adolescente”. A Ultimate Collection, no primeiro disco, traz duas das primeiras canções feitas por John Lennon por uma causa. Do the Oz e God Save Oz. The Oz era outra publicação alternativa inglesa, cujos editores tinham sido presos por obscenidade. Lennon gravou com o nome de Elastic Oz Band, que tinha Ringo Starr na bateria, Klaus Voorman no contrabaixo, mais um guitarrista e dois saxofonistas pouco conhecidos. Aliás, o guitarrista Charles Shaar Murray era conhecido, porém como crítico de música do The Guardian.

Com Do the Oz, John e Yoko queriam criar uma nova dança (feito Do the Twist, ou Do The Watuzi), mas não pegou. O compacto com as duas canções foi quase ignorado, virou item de colecionador. Além da guinada política de John Lennon em Imagine, a caixa Ultimate Collection é também, claro, de interesse para os fãs pela quantidade de extras, e raridades feito a versão reggae de I don’t Wanna Be a Soldier, com o sempre presente Klaus Voorman, Jim Keltner na bateria e Bobby Keys no saxofone. Uma das boas surpresas do CD2 é Lennon e os músicos estendendo as fronteiras do reggae, ainda tido como um ritmo exótico do Caribe. Além de áudio, a caixa traz dois DVDs, Imagine e Gimme Some Truth, que reforçam com imagens as mensagens contidas nas canções.

John Lennon o ex-superastro pop, depois dos Beatles, queria criar canções folk para serem cantadas em festas e manifestações. Conseguiu o seu intento. A natalina Happy Xmas (War Is Over), Power to People, Imagine e Give Peace a Chance incorporaram-se ao cancioneiro do planeta. Give Peace a Chance foi a música que os fãs entoaram diante do edifício Dakota, onde John Lennon morava com Yoko Ono e o filho Sean, em cuja calçada foi morto, em 8 de dezembro de 1980, atingido por cinco tiros do revólver de Mark Chapman

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