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João Fênix estreia turnê de álbum novo no Recife

Um repertório que vai de Chico Buarque a Reginaldo Rossi

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 31/01/2019 às 8:39
Foto: Léo Aversa/Divulgação
Um repertório que vai de Chico Buarque a Reginaldo Rossi - FOTO: Foto: Léo Aversa/Divulgação
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Minha Boca Não Tem Nome é o título do disco que o cantor João Fênix lança hoje, às 20h30, no Teatro de Santa Isabel, na programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. Será a estreia da turnê do álbum, que ele fez questão que acontecesse no Recife, sua cidade natal, onde continua sendo conhecido por poucos. João nem fez parte de cenas locais, nem visita a cidade com tanta frequência. Vive entre o Rio e Washington D.C, onde mora seu marido. Às vésperas do concerto, ele compara a estreia a uma operação de guerra: “Trazer o CD para o palco é difícil, apesar de ter gravado com a mesma banda com que vou cantar no Santa Isabel. Porém a maioria das canções a gente nunca fez ao vivo, então precisa de muita preparação”, explica João Fênix.

Fênix saiu do Recife há 25 anos, sua voz de contralto, sua linha musical mais o que queria na carreira não estavam aqui. O colegial estudante de balé descobriu possuir a garganta privilegiada e trocou a dança pelo canto, que estudou no Conservatório Pernambucano de Música. Foi embora quando eclodia o movimento manguebeat: “Eu admiro muito a música do Recife, os músicos do Recife, o que se faz na cidade, mas não conheço muito o pessoal da cena. A amizade com Juliano Holanda é recente, conheci através de André Brasileiro”, diz João Fênix. O título do disco vem de uma canção de Juliano Holanda e Tibério Azul. Fênix está da vez mais rigoroso como intérprete.

 Sua gravação de maior impacto foi a de uma canção de 1973, que já ganhou diversas versões de nomes conhecidos da MPB, Cálice, de Gilberto Gil e Chico Buarque. Está no álbum De Volta ao Começo (2016). Justo quando o país foi apanhado por uma conservadora, João Fênix, que é amigo do deputado Jean Willys, incluiu uma fala dele na música: “Eu sou homossexual assumido, sim, e se acostumem com isso”, brada o ex-deputado do PSOL.

A música atualizou-se com a recente decisão tomada por Willys de não assumir o terceiro mandato na Câmera Federal: “Eu fui uma das pessoas a incentivar a que ele renunciasse. Jean não estava mais conseguindo aguentar a pressão. O que está aí é a escória da política carioca. Acho que os artistas que não compactuam com isso aí vão ser cobrados. Mas a classe artística, digo o pessoal da MPB, do rock, a maioria, é muito unida, e tem visibilidade para denunciar o que possa acontecer”. Não por acaso, A Minha Boca Não Tem Nome é um disco engajado.

Por sugestão de Jean Willys, gravou no disco novo, a obscura Falou Amizade (1988), de Caetano Veloso (da trilha do filme Dedé Mamata), que ganha novas conotações: “Perdi muitos amigos com essas divergências políticas nos últimos anos. Essa canção fala um pouco disso”. A ausência do Recife é sutilmente lembrada em Desterro, pinçada da obra do conterrâneo Reginaldo Rossi (que a lançou em 1972).

APURO

 Com direção musical de André Brasileiro, projeção de imagens de Gabriel Furtado, o show não tem convidados especiais (com exceção da intervenção de dois bailarinos locais). Fênix escolhe músicos com o mesmo apuro com que seleciona o repertório. No palco do Santa Isabel estarão o guitarrista Dustan Gallas (Cidadão Instigado), o percussionista Guilherme Kastrup (que produziu os últimos discos de Elza Soares), o contrabaixo Alberto Continentino (que até recentemente tocava com Gal Costa) e Jaime Alem (durante anos, produtor e violonista de Maria Betânia).

O repertório terá todas as canções de Minha Boca Não Tem Nome, mais canções de discos anteriores, fechando com uma música inédita, Acima de Tudo, presente que João Fênix ganhou de Juliano Holanda.

 Janeiro de Grandes Espetáculos, show Minha Boca Não Tem Nome, com João Fênix e banda, hoje, às 20h, no Teatro Santa Isabel (Praça da República), ingressos: R$ 40 e R$ 20. Fone: 3355 3322

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