Memória

Buddy Holly e o o fim da inocência no rock and roll

Há 60 anos, o cantor morreu num desastre de avião

JOSÉ TELES
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Publicado em 03/02/2019 às 8:00
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Há 60 anos, o cantor morreu num desastre de avião - FOTO: Foto: divulgação
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“O dia em que a música morreu”, como passou a ser chamada a data de 3 de fevereiro de 1959, quando a queda de um avião monomotor, em Clear Lake, Iowa, causou a morte de quatro pessoas. As vítimas foram Buddy Holly, Richie Valens, The Big Bopper e mais Roger Peterson, o piloto. Os três primeiros eram roqueiros, muito jovens, e com músicas nas paradas. O mais famoso da trinca, Buddy Holly estava com 22 anos e tornara-se uma estrela internacional.

 Sua influência foi determinante para a geração que transformaria a música pop na década seguinte. O nome Beatles era um trocadilho com beetle (besouro), porque o grupo de Buddy Holly era os Crickets (Grilos). Um dos primeiros hits dos Rolling Stones foi Not Fade Away, de Buddy Holly. Em 1971, o músico folk Don McLean escreveu American Pie, uma longa canção de quase nove minutos, um épico sobre a morte de Holly, na qual cunhou a frase “o dia em que a música morreu”, metáfora para a perda da inocência do rock and roll. A torta de maçã não seria mais a mesma a partir dali.

 Lembrando que os dois companheiros de viagem de Buddy Holly eram também bastante populares. The Big Bopper estava nas rádios com Chantilly Lace, e Richie Valens (de apenas 17 anos), com La Bamba. Sua vida virou filme de grande bilheteria, La Bamba, de 1987. Buddy Holly apareceu no cinema de várias maneiras, numa cinebiografia, em muitos filmes referenciais, a exemplo Peggy Sue Got Married, de Francis Ford Coppola (1987), e That’ll Be the Day (1973), do inglês Claude Whatham. Em 2015, a letra manuscrita da canção American Pie foi arrebatada em leilão, da Christie’s, por U$ 1,2 milhão (cerca de R$ 4,3 milhões).

Na era da inocência, o rock ostentação de Elvis Presley foi uma exceção à regra. Chegara a uma grande gravadora, a RCA, à Hollywood, tornara-se uma estrela do mundo do entretenimento. Os jovens roqueiros, feito Buddy Holly, gravavam em pequenos estúdios e gravadoras modestas. Buddy Holly gravou a maioria dos seus discos, produzidos pelo parceiro Norman Petty, em Clóvis, Texas (perto de Lubbock, a cidade onde morava). Viajavam de automóvel ou, em caravanas, de ônibus.

Buddy Holly gravou pela Decca, mas fez sucesso num pequena gravadora, a Coral. Alguns deles: Maybe Baby, Oh Boy, Peggy Sue, Words of Love (gravada pelos Beatles), Well ...Allright (gravada pelo Cream).

 MALUCO

Buddy Holly saiu da tragédia como lenda, menos para seus contemporâneos. Num livro sobre as estrelas musicais do Texas (Fire on the Waters - Earth in the Air - Legends of the West Texas Music, de Christopher J. Oglesby, 2006), pessoas que conviveram com Buddy Holly (que hoje teria 83 anos) lembram-se dele como “aquele garoto amalucado que está sempre com uma guitarra”. Poucos lhe davam importância. Tocar era legal, mas nas horas vagas, não como profissão.

Charles Hardin Holley não chegou a ter um emprego convencional em Lubbock. Aos 14 anos já tocava, feito Elvis Presley, blues e country, acabando por misturar os dois. Uma das invenções de Holly foi a formação que se tornou padrão do rock: guitarras, baixo, bateria. Outra novidade: Buddy Holly & The Crickets tocavam quase sempre música autoral. No livro citado, o autor ressalta que se Elvis foi o rei, Buddy foi o George Washington, democratizou o pop. Provou que não era obrigatório ser bonito e sexy, tampouco possuir um vozeirão, para se tornar um astro. Se Buddy Holly, de óculos de grandes lentes, magro, jeito de inseguro chegou lá, qualquer um poderia chegar. Paul McCartney, um de seus maiores fãs (a quem pertence a maioria da obra gravada de Buddy Holly), diz que ele lhe deu mais autoconfiança. “Se parecia com o garoto vizinho nosso”.

 Ainda mais influenciado por ele foi John Lennon, que pegou os maneirismo vocais do ídolo.  Buddy Holly foi a maior influência para Lennon e McCartney começarem a compor (e para dezenas de adolescentes ingleses na segunda metade dos anos 50). No repertório de shows do grupo de Liverpool, na época do Cavern Club, há 13 músicas de Buddy Holly. A primeira gravação que os Beatles fizeram, um acetato pago por eles, em julho de 1958, foi de That’ll Be the Day, de Holly.

ROUPA SUJA

 Indiferente ao inverno pesado, Buddy Holly & The Crickets, com Dion and the Belmonts, Richie Valens e The Big Bopper empreenderam a turnê Winter Dance Party (grosso modo, o Bailão do Inverno), em janeiro de 1959. Num ônibus sem aquecimento, enfrentaram com entusiasmo juvenil a estrada e o frio. Antes do show em Clear Lake, em Iowa, Buddy Holly contratou os serviços da Dwyer Flying Service, companhia de táxi aéreo. Desejava chegar logo na cidade do próximo show, Moorhead, no Minnesota, por um motivo banal: ter tempo para lavar a roupa suja.

 

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