DISCO

Mart'nália cantando o alto astral de Vinicius

Ela confessa que nunca foi de escrever poesia

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 08/04/2019 às 12:43
foto: Marta Azevedo/Divulgação
Ela confessa que nunca foi de escrever poesia - FOTO: foto: Marta Azevedo/Divulgação
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Mart'nália viu Vinicius de Moraes apenas uma vez, na plateia de um show de Martinho da Vila. Era leitora de poesia, naturalmente, também, de Vinicius, mas ela mesma nunca foi de escrever poemas: “Só quando era moleca, umas coisinhas que depois foi tudo embora”. De repente a vontade de cantar as canções do poetinha ficaram martelando na sua cabeça até que decidiu entrar em estúdio para gravar o tributo que ganhou o nome básico de Mart’nália canta Vinicius de Moraes, já nas lojas físicas e virtuais com o selo da Biscoito Fino.

E o álbum tem o refinamento da gravadora. A começar pelos convidados. Maria Bethânia, a ex-primeira dama da França, Carla Bruni (casada com o ex-presidente Nicolas Sarkozy), e Toquinho.O disco começa com trechos de Vinicius na célebre louvação declamada de Samba da Benção, aberta com uma saudação ao poeta feita por Mart’nália. Termina com o mesmo samba e uma declamação de Mart’nália. Um repertório que é a cara da cantora, que parece estar sempre de alto astral, que ri à toa:

“Selecionei umas 50 músicas, que ficaram em 40, depois em 30. Aí chamei Arthur Maia e Celsinho Fonseca. Escolhemos as que tinham a ver comigo, as que me davam mais vontade de cantar. É uma alegria na base do ‘show deve continuar’”. Logo depois do disco pronto, um baque: a morte precoce, aos 56 anos, vítima de um infarto, do
baixista Arthur Maia, dos mais requisitados músicos do país.

“Foi péssimo. Arthur foi responsável pela concepção do disco, a gente era irmão. Ele está em todos os meus CDs, não tem um só que não tenha ele. O Celsinho veio pro disco porque é mais bossa nova, zona sul. Enquanto Arthur chega com a black music, o subúrbio, com esta coisa mais pesada. Saudade eterna, o disco é todo para ele”, comenta Mart’nália.

Arthur Maia, arranjador e produtor, com Celso Fonseca, influiu bastante no repertório. Mart’nália, por exemplo, não pretendia gravar Eu Sei que Vou te Amar (Vinicius e Tom Jobim), alegando que todo mundo já havia cantado. Arthur Maia pediu que ela gravasse a música para ele. Sugeriu ainda que a cantora declamasse um poema no início da canção: “Falei que ele estava maluco, tinha pirado de vez, ninguém entende quando eu falo, quanto mais declamando. Encontrei Bethânia numa festa. Falei pra que estava gravando e se ela não toparia fazer uma declamação pra mim. Ela perguntou se podia escolher o poema”.

Maria Bethânia escolheu Soneto de um Corifeu, do musical Orfeu da Conceição, mais conhecido como São Demais os Perigos desta Vida, pelos seus versos iniciais (foi gravado num álbum de Vinicius e Toquinho). A escolha de Carla Bruni deve à ligação de Vinicius com Paris. Foi lá que ele e Baden Powell criaram os afro-sambas: “fiquei pensando quem chamaria, alguém sugeriu Carla, vou dar um toque pra ela. Ela aceitou, escolhemos a música, mudamos o tom. Mario Luz, um poeta cabo-verdiano fez a versão para o francês.

Toquinho veio porque além da convivência com Vinicius é uma referência”, explica Mart’nália, que driblou a polêmica, sobre o apoio de Toquinho a Jair Bolsonaro, e as declarações bombásticas de Naná Caymmy, atingindo Caetano, Gil e Chico: “Já passou. Nana Caymmi vai continuar cantando pra cacete, esta coisa de Toquinho também já foi”contemporiza.

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