Comemoração

Ratos de Porão volta ao Recife para celebrar emblemático álbum

Se apresentando neste sábado no Abril Pro Rock, a banda Ratos de Porão toca na íntegra o disco 'Brasil, que completa 30 anos e permanece atual

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 20/04/2019 às 12:27
Foto: Wander Willian/Divulgação
Se apresentando neste sábado no Abril Pro Rock, a banda Ratos de Porão toca na íntegra o disco 'Brasil, que completa 30 anos e permanece atual - FOTO: Foto: Wander Willian/Divulgação
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A edição 2019 do Abril Pro Rock será fechada por uma velha amiga do festival. Ratos de Porão, um dos nomes mais emblemáticos
do rock nacional, volta ao Recife para fazer do Baile Perfumado um verdadeiro caldeirão em que se mistura música rápida e pesada, graves vocais e um público elétrico e fiel, dispostos em rodas ou não. A noite não será apenas de reencontro, mas também de celebração. Brasil, quarto álbum da banda hoje formada por João Gordo, Jão, Boka e Juninho, completa 30 anos, carregando em si uma poderosa capacidade de funcionar como documento histórico da época e, ao mesmo tempo, ser bastante revelador sobre o Brasil de hoje.

O ano era 1989 e o país começava a sentir os ares de uma democracia ainda mais frágil. A Ratos, denunciando as mazelas do País desde 1981, mostrou que as cicatrizes dos anos de chumbo ainda estavam bem abertas. Da questão ambiental até a repressão policial, Brasil gritava sobre como no Brasil ainda quase nada estava no lugar. E as coisas permanecem assim, como explica o guitarrista Jão, que junto a João Gordo, é um dos membros que participou álbum. "O disco faz 30 anos e ele está tão atual significa que o Brasil não mudou porra nenhuma, continuamos na contramão do progresso. Temos problemas crônicas desde aquela época e a gente continua se arrastando. O Brasil sempre deu muita munição para esse tipo de música".

É do Brasil que nasceram verdadeiros clássicos da banda que transita tão bem entre a sonoridade do punk, hardcore e thrash metal. Desde lá, sempre estiveram presente em seus repertórios músicas como Amazônia Nunca Mais, Aids, Pop e Repressão e Beber Até Morrer. É fácil observar o porquê estamos falando de canções que nunca perderam a força. O Guarani é o Hino da Morte/Para Índios, árvores e animais/ O fogo queima tudo que sobrou/Infelizmente, Amazônia Nunca Mais!, diz os últimos versos da primeira citada. Apenas nos últimos anos, o desmatamento da Amazônia aumentou em mais de 50%.

Amazônia Nunca Mais é só um dos exemplos de relato/profecia presentes no Brasil. A ascensão de uma extrema-direita ao poder, como cantado em Farsa Nacionalista, e o excesso de violência pelas forças militares, retratado em Máquina Militar, ilustram bem tal poder do disco. "Tem música lá que faz até mais sentido hoje do que na época. Farsa Nacionalista, com o cara falando que tem orgulho de ser brasileiro, mas é o primeiro a bancar corrupto no poder. A maioria das letras estão muito atuais", afirma Jão.

Bastidores

O disco foi gravado em Berlim, Alemanha, sob a produção do renomado Harris John, conhecido por trabalhar com bandas como Sodom, Helloween e Kreator. Foram em torno de 25 dias de gravação com a banda praticamente morando no estúdio, já que estavam hospedados em um apartamento ao lado dele. "Eu tinha 21 anos na época, então foi um desafio para mim enquanto guitarrista, de estar gravando com um produtor f****. Estar longe de casa nos fez ficar totalmente imerso na produção do disco e o resultado nos deixou muito contente", relembra o guitarrista.

O álbum foi gravado em duas versões, uma em português e outra em inglês, o que ajudou na disseminação do som da banda pelo exterior. Em Brasil, fica clara a evolução técnica da Ratos quando comparamos aos discos anteriores. A arte da capa, assinada pelo cartunista underground Marcatti, também se tornou memorável, com um campo de futebol e uma figura miserável roubando a atenção de uma série de atrocidades que acontecem ao redor, ilustrando aspectos abordados nas letras.

Para o show no Abril Pro Rock, o álbum será tocado na íntegra, mas também haverá espaço para outras músicas do grupo. Ratos de Porão faz o último show da noite . "O Abril Pro Rock sempre nos trouxe shows bem legais e independente do festival, o público do Recife sempre foi um público que realmente comparece e participa, nunca ficam alheios. Fizemos esse show no Rio de Janeiro, funcionou muito bem e levar isso para Recife vai ser uma experiência única para esse ano comemorativo", conclui Jão.

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