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Marina Diamandis retorna com o excelente disco 'Love + Fear'

Cantora britânica volta com emoções latentes após hiato de quatro anos

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 29/04/2019 às 15:29 | Atualizado em 18/02/2022 às 8:38
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Cantora britânica volta com emoções latentes após hiato de quatro anos - FOTO: Divulgação
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Amor e medo são os sentimentos que dão título ao quarto disco (Love + Fear) da britânica Marina Diamandis, ex-And The Diamonds. A cantora e compositora explora a complexidade das emoções em 16 canções que a reconectam com seu fazer artístico após um hiato de quatro anos e de quase ter colocado um p0nto final da carreira.

Para entender o processo que levou Marina ao ponto da exaustão emocional, é preciso retomar ao início de sua carreira. Desde 2005, ela tentava a sorte como cantora, respondendo a chamadas de gravadoras e entregando demos para quem pudesse, uma trajetória compartilhada com grande parte dos artistas independentes.

Seu projeto artístico se encontrava em uma interseção entre o alternativo e o mainstream, amparado por sua voz grave e composições pontuadas por ironia. Quando finalmente despontou em 2010 com o disco Family Jewels, ela estava em sintonia com a cultura de fã que crescia em redes sociais como MySpace e, principalmente, o Tumblr. Nestes espaços, trabalhos artísticos originais se mesclavam com referências múltiplas de fotografia, audiovisual, música e artes visuais, como um grande painel de colagens.

Esta curadoria de si mesma se refinou no seu segundo disco, Electra Heart (2012), no qual criou um disco conceito de investigando estereótipos de gênero a partir da personagem-título. Até o terceiro (e ótimo) álbum, Froot (2015) ela ainda assinava como Marina and The Diamonds, uma referência aos seus fãs e para outros artistas claramente inspirados por ela, como Dua Lipa.

Foi durante a turnê deste disco que ela percebeu já não ver sentido no que fazia. Com uma agenda movimentada e as pressões da indústria, não teve tempo de processar situações como a morte de duas pessoas próximas. A arte que sempre foi um veículo de se conectar ao mundo havia se tornado uma espécie de martírio.

Ela então anunciou que daria um hiato por tempo indeterminado na carreira. Nesse meio tempo, buscou ajuda, tentou novos ofícios, como a pintura e a atuação, mas encontrou nos estudos de psicologia o foco que buscava.
Sentindo-se novamente reconectada com si e inspirada, voltou a compor. Decidiu que era hora de deixar a persona artística que construiu para revelar mais de si. Assim, abandonou o The Diam0nds, apresentando-se apenas como MARINA (estilizado todo em maiúsculo, quase como uma declaração de independência).

TUDO PASSA

Este processo de ganhos, perdas e autoconhecimento está registrado em Love + Fear a partir dos eixos temáticos do título. Divido em dois “lados”, cada um com oito faixas, o projeto reflete a complexidade dos sentimentos por um viés até então inédito para a artista: o do otimismo.

As faixas do Love são marcadas pela leveza, a exemplo da contagiante Orange Trees, faixa solar sobre a necessidade de parar, respirar e deixar ir para, então, se reencontrar. Em Enjoy Your Life, ela sai do pessoal para o universal, em um discurso sobre a importância de às vezes não saber o que fazer e, nesse sentido, relaxar e aproveitar a vida. Tudo passa, afinal.

O disco não tem nenhum hit imediato, com exceção de Baby, parceria com o grupo de música eletrônica Clean Bandit e o cantor Luis Fonsi, de Despacito, que originalmente não integrava o álbum. Desta primeira parte, destacam-se ainda as poéticas Superstar, End of The Earth, Handmade Heaven e To Be Human, esta um manifesto contra a intolerância, que destaca as qualidades e fragilidades que unem a todos nós.

Ao contrário do que se imagina, o lado Fear não é carregado – e isso é positivo. Ao invés de trabalhar essa emoção em seu estado mais potente, paralisante, Marina prefere observar as nuances.

Em Belive in Love, o centro é a dificuldade de se abrir para o outro e o medo da perda, enquanto Life is Strange fala da sensação de estranheza no mundo e de não saber o que quer da vida, profissional ou amorosamente. You, Karma e No More Sucker são canções que podem ganhar as pistas e as paradas, com gradual crescimento de estruturas eletrônicas, que chegam ao ápice com as construções melódicas da artista.

Entre os destaques do Fear estão a fascinante Emotional Machine, com vocais quase hipnóticos no refrão, Too Afraid e a balada Soft To Be Strong, uma das interpretações mais delicadas do repertório da britânica. Abraçando o amor, o medo e tudo que está no meio dessas emoções, a artista se reintroduz à sua audiência como alguém que não precisa mais de um alter ego para processar a complexidade de ser humano.

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