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Paulinho da Viola reencontra-se com o Recife

Sambista fala sobre a influência de Canhoto

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 12/06/2019 às 9:22
Foto: Marco Shermeza/Divulgação
Sambista fala sobre a influência de Canhoto - FOTO: Foto: Marco Shermeza/Divulgação
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Paulinho da Viola se apresenta nesta sexta-feira, no Teatro Guararapes, com o show Na Madrugada, espetáculo que não chega amparado em data redonda ou lançamento de disco novo. Ele volta ao Recife, dois anos depois de se apresentar aqui com Marisa Monte, simplesmente pela qualidade de sua obra, que reúne várias gerações de admiradores:

 “O show não tem conceito, não tem nada assim de novidade. Já tem algum tempo que não gravo. A última vez partiu de um show, que virou meu primeiro DVD, o MTV Acústico. Depois disso, fiz muitas coisas, algumas composições lançadas por outros artistas, exatamente por eu não estar gravando. Esta coisa do disco mudou muito depois da internet, as próprias gravadoras sentem isto, as pessoas começaram a fazer muita produção independente. Já se fala na morte do CD, não sei. Fiz muitos shows, pelo Brasil, viajei pra fora, muito coisa. Depois dessas coisas todas, não me interessei mais por gravação. O pessoal faz uma música só e lança na internet, outros fazem CDs. Mas não estou com esta preocupação em disco”.

 Esta ausência de foco no que antes era peça obrigatória na engrenagem de uma carreira musical não significa que Paulinho da Viola não vá lançar mais discos: “Quando começo a gravar, começo a compor. Tenho umas coisas novas guardadas, mas não é para um disco inteiro. Uma dessas músicas minha filha gravou, Bloco do Amor, fiz duas músicas pra ela. Mas não são tantas assim”.

Paulinho da Viola é neto de nordestinos. Tem uma avó que nasceu em Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte, um avô nascido em Maceió, Alagoas, mas ele só conheceu a região aos 25 anos, quando apresentou, com a cantora Zélia Barbosa, o show O Samba ... A Prontidão e Outras Bossas, que estreou em 23 de janeiro de 1968, no extinto Teatro Popular do Nordeste, na Conde da Boa Vista:

 “Fui convidado para o Recife por David Hulak, que é meu amigo até hoje, Na época, eu não o conhecia. Peguei um violão e fui sozinho. A ideia era fazer um trabalho com músicos e cantores daí. Era pra ficar num final de semana, mas fui tão bem recebido que passei um mês e dez dias. Durante esse tempo, comecei a conhecer a cidade e a fazer amigos, fiquei tão assim tocado pelo que vi, pelas amizades que fiz, que voltei alguns meses depois de ônibus”, conta Paulinho.

 Numa dessas vindas ele ocuparia o quarto de hóspedes da casa de uma senhora: “Esta senhora, cuja filha a gente se trata como irmãos até hoje, era uma professora, bastante conhecida na época. Acabamos com uma amizade tão grande que, com o tempo, ela pediu à minha mãe, de uma maneira informal, a autorização pra me chamar de filho, e minha mãe deu, claro. Ele me escrevia com frequência, contando as coisas do Recife, e me tratava por meu filho”.

 Esta professora, ativista política, chamava-se Dedé Aureliano, e foi para ela que Paulinho da Viola compôs o samba Pra Um Amor no Recife, que não é exatamente uma canção romântica: “O samba tem outro sentido também. Na época, a gente vivia uma ditadura, e o samba fala deste momento. Cita outras coisas, que ela entendia muito bem”, esclarece o compositor. Mas o Recife teve uma importância fundamental para Paulinho da Viola, muito antes de ele conhecer a cidade.

CANHOTO

 Há 60 anos, um grupo de violonistas saiu da capital pernambucana, acomodados num jipe, para a casa de Jacob do Bandolim, em Jacarepaguá, no Rio. Um encontro que ficou na história do choro: “A sala estava lotada. Quando Canhoto tocava era uma ovação. Eu fiquei tão impressionado com aquilo, que comecei a querer mesmo aprender violão. Quando vi Canhoto tocar, me estimulou”.

 Francisco Soares de Araújo (1926/2008), o Canhoto da Paraíba (nascido na cidade sertaneja de Princesa, contou com a amizade e a admiração de Paulinho da Viola até o final da vida. Produziu-lhe discos, dividiram palcos: “Quando fui a Pernambuco, em 1968, ele já morava num canto afastado. Quando voltei, alguns meses depois, ele me recebeu na casa dele. Lembrei-lhe da roda de choro em Jacarepaguá. Fizemos uma amizade grande, sempre que ia ao Recife ia tocar com ele. Foi uma grande amizade”.

 O repertório do show é de composições pinçadas da obra de Paulinho da Viola, basicamente de sambas autorais, só ou com parceiros, e de sambistas da velha guarda das escolas cariocas. Quando concedeu entrevista ao JC, por telefone, ele ainda estava montando o repertório. Talvez entre Sinal Fechado, de 1969, que reflete a fase mais sombria do regime militar; talvez um samba inédito; muitos clássicos, com certeza.

 Paulinho da Viola será acompanhado por uma banda formada por João Rabello (violão), Adriano Souza (piano), Dininho Silva (baixo), Ricardo Costa (bateria), Celsinho Silva (percussão), Hércules Nunes (percussão) e Mário Séve (sopros).

 Paulinho da Viola em Na Madrugada – Sexta-feira (14/06), às 21h30. Teatro Guararapes, Centro de Convenções de Pernambuco. Plateia especial central: R$ 224 e R$ 112 (meia); plateia especial lateral: R$ 204 e R$ 102 (meia); plateia alta central: R$ 184 e R$ 92 (meia); plateia alta lateral: R$ 164 e R$ 82 (meia); balcão: R$ 144 e R$ 72 (meia). À venda na bilheteria do teatro (segunda a sábado, das 9h às 17h), lojas Ticketfolia (shoppings Plaza, Recife, Tacaruna, RioMar, Boa Vista) e www.eventim.com.br. Assinantes JC têm 50% de desconto. Informações: (81) 3182-8020

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