Encontro e Trocas

Tuyo abraça as dores do mundo e traz show ao Recife

O trio paranaense Tuyo, formado pelas irmãs Lay e Lio Soares com Jean Machado, faz show neste domingo no Estelita; confira entrevista

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 07/07/2019 às 10:44
Foto: Luciano Meirelles/Divulgação
O trio paranaense Tuyo, formado pelas irmãs Lay e Lio Soares com Jean Machado, faz show neste domingo no Estelita; confira entrevista - FOTO: Foto: Luciano Meirelles/Divulgação
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Entrosamento entre os membros de um projeto musical talvez seja um dos principais catalisadores de um trabalho que encantará tanto por sua harmonia, quanto por sua sinceridade. Talvez estar a par das referências, feridas e felicidades de uma forma tão profunda em relação ao outro nesse processo colaborativo seja uma das formas mais potentes de se fazer obras com uma cara (ou caras) tão própria. É assim que o trio paranaense Tuyo, formado pelas irmãs Lio e Lay Soares, juntas ao instrumentista Jean Machado, parece funcionar. O grupo se apresenta hoje, no Estelita, a partir das 17h, prometendo um encontro de músicas e trocas com o público.

Com uma serenidade de roupagem eletrônica, o trio trouxe seu primeiro disco ao mundo no ano passado. Batizado de Pra Curar, o disco dá sequência e maturidade estética ao apresentado no EP Pra Doer, de 2017. Descrito muitas vezes como a mistura de um afro-folk com elementos de um rap de batidas lo-fi e futurismo. A verdade, como explica Lio Soares, é que a Tuyo se tornou uma "mistura do que deu com o que tinha". "A gente nunca teve muita grana, muitos recursos, para poder comprar os equipamentos. Então era o violão que tínhamos ali e sabíamos tocar, os beats que a gente baixava de graça no computador. Sinto que não temos uma fidelidade com os elementos que compõem nosso som, mas sim com o método”, explica.

Esse cenário não teve uma força limitadora significativa diante do virtuosismo do trio, principalmente por terem na cabeça o objetivo da conciliação entre o orgânico e o sintético em sua sonoridade. Cada um foi trazendo suas referências, as irmãs ligadas à música pop e com afinidades por elementos do gospel, Jean com o hip-hop, o R&B sempre presente nos fones dos três. “A gente sempre procura fazer um som com muita doçura e peso simultaneamente. Como o que esse contraste vai se parecer, decidimos depois. Primeiro escutamos o resultado, depois procuramos os adjetivos", afirma Lio.

Supere x Viva

Já em suas letras, a densidade das dores, o firmamento das cicatrizes e as perspectivas de cura vêm logo à tona, tudo emergindo nesse cenário colaborativo da banda em que um conhece bem as histórias do outro. O processo do Pra Curar, por exemplo, é descrito como fruto de um ano de muitas discussões de relacionamento entre os três. Todos compunham, todos arranjavam, mas ninguém se metia muito na poesia do outro, respeitando e sabendo de onde elas vêm, por estarem sempre cientes das "tretas" e dos momentos que as inspiraram. "A gente consegue fazer com que esses três universos coexistam sem colidir", relata a cantora.

Da dor à cura, a tônica é não ignorar ou apressar as etapas do estar no mundo. O tom não vai para o "supere isso", mas sim do "viva isso", sem apressar as coisas, tudo isso expresso de formas ora complexa, ora "ridiculamente simples". "A gente tenta não romantizar o sofrimento, mas também não tentar fugir desse momento de ter que se encarar. Antes eu achava que tinha uma pira em sentir dor, mas hoje vejo que se trata de não desprezar fases, apressando processos. Se é o momento de estar na valeta, vamos viver isso aí e uma hora vai passar", elabora Lio.

Mesmo tendo esses intercâmbios poéticos entre si, a verdadeira troca para a Tuyo é no palco com o público, sendo essa a verdadeira ambição artística. A ideia é provocar a plateia com suas canções e observar como ela toma posse delas e as ressignificam dentro do contexto de suas próprias vidas, como se fossem roupas que acabam se adaptando aos seus corpos. Essa visão frontal que o palco permite, de flagrar as pessoas absorvendo e remodelando as músicas é um dos maiores fascínios do grupo.

O público recifense pôde ter essa primeira experiência com a Tuyo no Carnaval deste ano, quando foram escalados como uma das atrações do RecBeat. O trio subiu ao palco na noite em que se apresentou Pabllo Vittar, o que acabou por gerar um certo nervosismo na banda ao lidar com um público que aguardava ansiosamente pela apresentação da drag queen. A experiência acabou sendo uma das mais marcantes para os músicos, que relatam ter encontrados “olhares de muito amor e dispostos a absorver o que estava no palco”.

Agora, além do show no Estelita, a banda retorna ao Estado ainda neste mês, integrando a programação do palco Som na Rural no Festival de Inverno de Garanhuns, se apresentando no dia 26. "Somos do Paraná e entendemos que quando vamos para o Nordeste, estamos em outro planeta, com outras perspectivas, outras formas de ver a vida que são muito próximas do que enxergamos também. Eu sei do abismo de cosmovisão entre o Sul e o Nordeste e eu sou toda Nordeste. O RecBeat foi uma das paradas mais fodas que já vivi e o FIG nos empolgou muito. Esperamos poder devolver isso tudo neste domingo, estamos preparados para tocar absolutamente tudo e encontrar nossos amigos do público”, conclui Lio.

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