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Lenine e Otto fazem uma noite pernambucana no FIG 2019

Com bons shows no Palco Mestre Dominguinhos, os dois trouxeram as turnês recentes para Garanhuns

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 25/07/2019 às 11:34
Foto: Felipe Souto Maior/Fundarpe
Com bons shows no Palco Mestre Dominguinhos, os dois trouxeram as turnês recentes para Garanhuns - FOTO: Foto: Felipe Souto Maior/Fundarpe
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Durante a semana, o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) costuma se dedicar a noites mais reservadas a um público específico. Foi assim com a primeira edição da noite do brega, muito bem sucedida, e também na quarta-feira, em dose dupla. No palco Mestre Dominguinhos, a programação foi dedicada à música pernambucana, em suas várias gerações, do veterano Lenine, passando por Otto e indo até Amaro Freitas. O Palco Pop, na sua segunda noite, abriu suas portas para o rap, com o pernambucano Diomedes Chinaski e o cearense Rapadura.

A cada noite do FIG é possível notar a permanência da indignação em artistas e público com a declaração de Jair Bolsonaro sobre o Nordeste. Se a valorização da cultura da região aconteceu até nos show de Jards Macalé e Roberta Miranda, Otto, Lenine, Diomedes e Rapadura intensificaram as críticas.

Lenine não citou o nome do presidente, mas não deixou muita margem de dúvida ao afirmar: “Respeita o Nordeste, filha da p*”. A maioria das apresentações da noite começou com algum atraso, até pelo trajeto para a cidade através do Recife, que enfrentou grandes alagamentos durante o dia.

Lenine fez um show menos lírico e com mais guitarras, reflexo da sua nova turnê, Em Trânsito. A primeira parte da apresentação se dedicou a essas canções mais novas, como Sublinhe e Revele e Intolerância, além de outras faixas como É o que Me Interessa e Virou Areia. “É muito bom estar aqui em Garanhuns com o projeto novo. Quero a cada projeto voltar aqui, apresentar. É, portanto, uma lei do eterno retorno”, declarou para uma Praça Guadalajara bastante cheia, apesar da chuva que ocupou parte da noite.

Algumas canções mais clássicas foram aparecendo, como Candeeiro Encantado e Alzira e a Torre. A parte final do show foi uma apoteose, com mais reverência às composições icônicas de Lenine. Em um festival que celebra Jackson do Pandeiro, engatou a excelente Jack Soul Brasileira logo depois de Do It, para terminar com dois grandes sucessos: Paciência, em que basicamente deixou o público cantar sozinho, e Hoje Eu Quero Sair Só.

OTTO E AMARO

Antes de Lenine, e sempre no seu ritmo intenso, Otto fez um show como gosta: em um palco grande, aberto, com a marca registrada de se desfazer da camisa no meio do trajeto. A apresentação celebrou no início os 20 anos de Samba pra Burro, comemorados no ano passado, com Bob, TV a Cabo, Low e Renault/Peugeot.

"Viva o Nordeste! Talvez a gente entenda mais de humanidade que muita gente”, apontou. Quando cantou O Canto da Ema de improviso, ainda convidou Silvério, que assistia ao show fora do palco, para participar da canção. A apresentação teve versões de Odair José e Ronnie Von e as incríveis faixas Crua e Seis Minutos, do disco Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos. A Praça Guadalajara veio abaixo com Ciranda de Maluco, catarse coletiva depois da chuva. O encerramento contou com presença do rapper Diomedes Chinaski - ele e Otto terminaram em um medley com canções de Chico Science.

Mais cedo, a noite começou com o artista Hercinho. Logo depois, Amaro Freitas fez um raro show instrumental no palco principal. Um dos melhores artistas recentes de Pernambuco, preencheu o palco com a união do seu piano com o a bateria de Hugo Medeiros, o baixo acústico de Jean Elton e os metais de Henrique Albino, convidado especial da apresentação. Amaro ainda compartilhou a alegria de passar por Garanhuns logo depois de uma turnê pela Europa e antes de uma viagem para os Estados Unidos, continuando o belo caminho do seu disco Rasif.

RAP

Mais cedo, no Palco Pop, o espaço foi do rap - mas não de qualquer um. Com Rapadura e Diomedes, o FIG celebrou um rap que se sabe nordestino e se mostra orgulhoso disso, transformando singularidades, referências e tradições em mais potência para letras e ritmo. O cearense Rapadura fez um show frenético, unindo poesia popular e hip hop.“Eu não faço show, eu faço congregação popular”, ressaltou.

Antes mesmo do show de Diomedes começar, a produção colocou duas faixas no palco: uma que dizia “comunista rico” e outra que pedia a liberdade do ex-presidente Lula. Por conta da chuva, o rapper não pôde fazer a passagem de som antes de subir ao palco - começou a apresentação inclusive com um minuto de silêncio pelas vítimas das quedas de barreiras na RMR.

Mesmo quando caiu no palco, brincou com o assunto: “já tenho meu vídeo de queda como Drake”. Em um excelente show, recebeu como convidados os rappers PRK e Luiz Lins, criticou o governo federal por se basear no "ódio à cultura" e deu espaço até para um momento lírico, cantando Desde que o Samba É Samba, de Caetano. Em Expurgo, deixou o seu recado, em um show que misturou com virulência rap, Nordeste e política: “Chinaski, o aprendiz, filho de Lula, não de Ustra”

*O repórter viajou a convite do evento.

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