Noite Hip-Hop

BK' traz narrativas de seus 'Gigantes' em noite totalmente rap

Com show no Baile Perfumado neste sábado, o rapper carioca BK' traz os frutos de sua consolidada carreira em uma noite com outros nomes do rap

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 27/07/2019 às 12:28
Foto: Wilmore Olivera/Reprodução
Com show no Baile Perfumado neste sábado, o rapper carioca BK' traz os frutos de sua consolidada carreira em uma noite com outros nomes do rap - FOTO: Foto: Wilmore Olivera/Reprodução
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Em 2016, Abebe Bikila Costa Santos, alcunhando BK', transformou o olhar para dentro de si em um disco de rap e criou um jovem clássico instantâneo. De beats soturnos que acompanhavam sua voz rouca, o carioca lançava Castelos & Ruínas, seu disco de estreia que colocaria o rapper no panteão dos nomes mais poderosos da geração atual do rap. Dois anos se passaram e BK decidiu agora olhar para fora, ao redor, fazendo surgir o Gigantes, igualmente impactante sucessor que será apresentado em show hoje, no Baile Perfumado.

Ser sucessor de um trabalho que alcançou o status do Castelos & Ruínas poderia ser um peso na hora de dar vida ao Gigantes, mas BK entende bem que vida artística é ter uma mochila pesada nas costas. “Sempre penso muito em mostrar uma outra cara minha em forma de evolução, trazer outras coisas que passam pela nossa cabeça. Não dava para ficar pensando muito no Castelos ou seguir uma receita", afirma BK'. 

Então o carioca se abriu para as narrativas do mundo ao seu redor. As vidas e vivências negras que o rodeavam, com suas reviravoltas, tragédias e resistências.  Encontrou os Gigantes que intitulam e povoam o disco nas mesas de bar, vizinhança e andanças no mundo artístico, além da incorporar novos e antigos debates em suas criações. Tudo feito da forma mais reclusa possível na hora de criar letras, sem estar escutando muito outros artistas para evitar influências diretas nas palavras.

Daí surgem esses relatos poéticos sobre a vida no crime, as andanças pela farras madrugada adentro, a legitimação por outras camadas da sociedade com a vinda do sucesso, a hiperssexualização dos corpos negros. "Eu quis contar várias histórias que, infelizmente, são comuns em uma sociedade que quer diminuir e até dizimar aos poucos o povo negro. Uma das formas de falar isso, por exemplo, foi na faixa Exóticos. O Rio de Janeiro já é uma cidade hiperssexualizada e o para o negro, isso é um milhão de vezes maior. Estamos falando sobre racismo há anos e esse é um debate relativamente novo, então tive que buscar um jeito de falar isso de uma forma que funcionasse em uma música. Foi assim com todas as histórias do disco", explica o rapper.

E se BK' se abriu para os relatos do cotidiano, ele se abriu para estruturas musicais também. A unidade de métricas, sonoridades e atmosferas do Castelo & Ruínas foi substituída pela pesquisa constante sobre, misturando o que gostava de ouvir com o que queria ouvir de original. E se o rap caminhou bem absorvendo elementos de outros ritmos, como soul, funk e rock desde suas primeira festas no Bronx, o carioca decidiu beber na própria fonte do próprio estilo.

"Por mais que isso seja histórico no rap, essa arte do sample, eu decidi que ia pesquisar  nesse imenso universo do ritmo mesmo. Fui buscando coisas mais próximas, desde o boom bap basicão até elementos futuristas que se encontram nos sons de nomes como Kanye (West) e Kid Cudi. Mas a pessoa tem que ouvir uma outra cara do BK, mas sabendo claramente que aquilo é o BK, sem perder a essência", elabora.    

Construindo uma cena

Com o trabalho pronto, é possível ver alguns nomes ao lado do seu nas faixas. Luccas Carlos, Sain, Akira Presidente são alguns deles,  integrantes do selo Pirâmide Perdida, do qual BK também faz parte. Impulsionado pela proximidade dos integrantes, o selo vem se consolidando com peso em uma das mais tradicionais cenas do rap nacional, que já trouxe nomes como Black Alien, Marechal e Marcelo D2.

“Todo mundo ali se frequenta, sabe que ninguém ali é vacilão (risos), então por que não fazer música juntos?  Foi o que aconteceu e conseguimos transformar em uma empresa de fato, transformar nosso sonho em business para continuar sonhando, sem perder a pureza”, afirma. Um dos combustíveis em comum desse conjunto era uma vontade de trazer algo novo para a cena carioca, para o público que não estava se identificando com o que estava rolando no começo dos anos 2010. "Trazer não só uma nova musicalidade, mas um lifestyle, mostrando um outro lado do Rio de Janeiro".

No começo do ano, BK' deu um gostinho do Gigantes ao público recifense, com apresentação no festival Guaiamum Treloso, pouco antes de sua participação no Lollapalooza Brasil. Nas ocasiões, por se tratarem de festivais, a experiência foi realizadora, por estar ali mostrando seu trabalho para diferentes públicos. Mas a coisa é diferente de estar em uma noite voltada totalmente ao rap. "Quando é seu evento, você pode preparar para algo maior, em relação ao tempo, som e trocas com o público. A galera lá já entendeu sem trampo, quer viver aquilo com você, além de acreditar que o disco faz muito mais sentido ao vivo" conta.

Para a noite de hoje, dois dos parceiros também fazem show no Baile Perfumado, Akira Presidente e Néctar Gang, além dos pernambucanos Diomedes Chinaski e Luiz Lins. O evento está marcado para às 21h e os ingressos custam R$ 70. "Cantaremos Castelos & Ruínas, Gigantes, sempre fomos muito bem recebidos e esperamos poder devolver isso, fazer bem essa troca de energia que acredito muito", conclui.

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