Jazz e Blues

Bia Villa-Chan abre festival de blues e jazz

O festival BB Seguro acontece pela quinta vez

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 19/10/2019 às 11:05
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O festival BB Seguro acontece pela quinta vez - FOTO: Foto: Divulgação
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No final da década de 80, o guitarrista André Christovam pediu demissão de um emprego cobiçado, na banda de Rita Lee, no auge do reinado do rock nacional, e começou carreira solo tocando blues. “A gente morava no Copacabana Palace, tinha diária em dólar, paga pela EMI e pela Som Livre. Fazia parte daquilo quando saí da banda porque sentia que não estava acrescentando nada. Saí e me arrependi muito no dia em que saí, para me jogar de cabeça na carreira solo. Viajar com a Rita, com milhares de pessoas ao redor, dá um senso de sua irrelevância, você não será o próximo Rita Lee, o próximo Roberto, o próximo Raul”.

Na época, 1989, Christovam tinha gravado o álbum de blues Mandinga, cujo repertório ele toca hoje, no 5º BB Seguros de Jazz e Blues, no Parque Santana. Desde 2014 morando na Escócia, Christovam vem ao Brasil uma vez por ano, cumprir uma agenda de shows. Foi um dos principais nomes da onda de blues surgida na capital paulista, em grande parte, no final da década de 80 e perdurando até meados dos anos 90.

 “O rock brasileiro ainda tinha uma força muito grande. Não só tínhamos espaço pra tocar, como os grandes músicos de rock and roll gostavam de tocar com a gente. Era comum o Barão estar tocando, e eu ir tocar com ele. Ou estar tocando e o Andreas Kisser (Sepultura) vir tocar comigo”, comenta André Christovam, que tocou também com Raul Seixas, na fase final do baiano, com Marcelo Nova. Três décadas depois, o blues tem público certo e sabido, mas não a mesma visibilidade. Heróis da guitarra não são mas tão admirados como naquela época.

Christovam reconhece o estado atual das coisas, mas o vê como transformações naturais do mercado. “Há nichos pra que se toque rock and roll bom, blues bom, jazz bom, somos 200 milhões de habitantes, mas a grande maioria tem limitada capacidade de abstração. Eu não reclamo do que está acontecendo no universo pop, porque quando comecei a tocar a gente ouvia de tudo o que era de absurdo. No auge do Mandinga, do Água Mineral, a gente sobreviveu à lambada. Tinha lambeteiro em todo lugar. Botavam um evento de lambada numa sexta dava mil pessoas. A gente ia tocar blues, tinha 150, 200”.

 Ele cita Anitta como um exemplo da música que se consome na nova ordem musical. “Ouvi dizer que ela canta muito bem. Tem uma qualidade intrínseca, mas o show dela ainda é uma coisa mais sensualizante, em que a relevância de bundas ululantes é maior do que guitarras e seus solos mirabolantes. A guitarra mudou a estética da bossa nova, e a música pop hoje em dia tem um DJ, um frontman, homem ou mulher, ou nenhum dos dois, sem nenhum preconceito. Então músicos não são necessários. A gente absorve, entende que a demanda é outra”, contemporiza André, que toca hoje com Adriano Grineberg (piano e vocais), Alaor Neves (bateria) e Fabio Zaganin (baixo).

 “A gente toca Mandinga inteiro. Na passagem de som, eu decido que música de B.B King vou tocar. Fiz uma promessa pra ele: de sempre que subir no palco tocar música dele. Todo show, pelo menos duas músicas do B.B King

 

“Só existe um tipo de música: a música boa. Não me importa o gênero”. A afirmação categórica é de Jimmy Burns, blueseiro americano, continuador da escola de Chicago, uma das atrações do 5º Festival BB Seguros de Blues e Jazz, que acontece hoje, a partir de 14h30, no Parque Santana, Zona Norte do Recife. Uma programação com música boa, com mais gêneros do que o jazz e o blues.

A bandolinista pernambucana Bia Villa-Chan, por exemplo, é do choro, do forró e do frevo. Logo depois da abertura, com a Festival BB Seguros Brass Band, que desfila pela plateia tocando jazz de New Orleans, Bia adentra o palco acompanhada de um power trio formado por Bráulio Araújo no contrabaixo, Thiago Albuquerque nos teclados e Augusto Silva na bateria:

 “A principal característica do jazz é o improviso. Em meu show propus passear entre os ritmos pernambucanos, frevo, forró, com muito improviso, relembrando também nomes fortes do jazz como Hermeto Pascoal e Astor Piazzolla”, antecipa Bia, que tocará, entre outras, Bebê, de Hermeto Pascoal, e Libertango, de Astor Piazzolla: “Jacob do bandolim também vai ser homenageado, adaptei Santa Morena a um ritmo de valsa-jazz”. Diz a bandolinista.

SHOWS

Depois de Bia Villa-Chan e André Christovam, tem o show de Thiago do Espírito Santo, contrabaixista que é referência no instrumental brasileiro. Espírito Santo toca com Cuca Teixeira na bateria, Bruno Cardozo no piano e teclados, com direito a um convidado muito especial: o saxofonista mineiro Nivaldo Ornelas, que vem dos tempos do samba jazz e integrou o Som Imaginário, banda que tocava com Milton Nascimento no início dos anos 60. É dele o antológico solo de sax em Fé Cega, Faca Amolada, no disco Minas, de Milton.

 Assim como a Festival BB Seguros Brass Band, que esquenta o público do festival antes dos shows começarem no palco, o grupo mineiro O Bando também é peça fixa no evento, tocando em todas as edições. Cada vez com um homenageado. Hoje ele se volta para música do inglês Eric Clapton. A banda, aliás, é uma das mais prestigiadas no gênero cover do país, sobretudo com o projeto Ummagumma – The Brazilian Pink Floyd.

Depois da esperada apresentação de Sérgio Dias com Luís Carlini, a edição do festival termina com Jimmy Burns e o mais puro blues de Chicago. O BB Seguros de Jazz e Blues programou também atividades para crianças. A entrada é franca.

 

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