Biografia

Elton John em biografia reveladora e bem humorada

Livro é também a história de 50 anos da música pop

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 03/11/2019 às 10:45
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Livro é também a história de 50 anos da música pop - FOTO: Foto: Divulgação
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“Imagine seis apês/não é difícil pra vocês/um cheio de casacos de pele de animais/outro com sapatos demais” são os versos da paródia de Imagine que Elton John mandou para John Lennon, dono, com Yoko Ono, não de seis, mas de cinco apartamentos no edifício Dakota, em Nova Iorque. Quem relembra a paródia é o próprio Elton John na elogiada autobiografia Me, lançada no final de outubro, e ainda sem tradução no Brasil.

A paródia de Imagine faz parte das minúcias que o cantor inclui numa narrativa em que, bem ao contrário do que é comum entre artistas brasileiros, não é amaciada pela autocensura, e é recheada de fino humor, até quando aborda as piores fases da carreira. Sir Elton John não é de se deslumbrar com o estrelato, nem dele, nem o alheio.

 Quando começou a fazer turnês pelos EUA, os primeiros sucessos nas paradas, ele começou a frequentar casas de famosos. “Fui convidado para uma festa na casa de Mama Cass Elliot, na estrada Woodrow Wilson, em L.A, afamada por ser o principal point dos músicos no Laurel Canyon. Foi onde o Crosby, Stills e Nash surgiu, e Crosby apresentou aos amigos sua nova descoberta, uma cantora e compositora chamada Joni Mitchell. Quando cheguei todos estavam lá. Uma maluquice, feito se capas de discos criassem vida”.

Esses encontros com estrelas que até pouco tempo ele via da plateia são pontuados pela expressão “Que merda tá acontecendo?” Feito quando os integrantes de The Band, então o mais badalado grupo americano, surgiram, de repente, no camarim de um show de Elton John, sem os integrantes avisarem:

 “Você não poderia confundir The Band com ninguém: eles pareciam ter acabado de sair da capa do disco que a gente tocava o tempo inteiro na Inglaterra. Robbie Robertson e Richard Manuel me contaram que voaram de Massachusetts, num avião fretado só para assistir ao meu show. Eu procurando me comportar como se The Band fretar um voo em Massachusetts pra me ver fosse a coisa mais normal do mundo. Enquanto isso, dava uma olhada pra Bernie (Taupin, seu letrista), que estava igualmente num esforço desesperado para parecer que estava tranquilo. Um ano atrás a gente sonhando em escrever canções feito as deles, e ali estavam eles pedindo que a gente tocasse nosso álbum. Que merda tá acontecendo?”.

 A expressão o acompanhou desde então, sobretudo quando Elton John passou a consumir cocaína vorazmente. Sua relação com a droga é contada desde a cafungada inaugural: “A primeira carreira que cheirei me deu engulhos”. Engulhos seguidos de vômito. Mas logo ele estaria consumindo inimagináveis quantidades de pó. Num show dos Rolling Stones, no Colorado, em 1975, Elton foi convidado para fazer uma participação em Honky Tonk Woman. Tinha cheirado tanto, que tocou o show inteiro. Só depois de muito tempo foi que entendeu que as olhadas que Keith Richards de quando em quando lançava para ele não eram de agradecimento, mas de ira. Elton escafedeu-se mal terminou o show. Com “Kif” não se brincava.

 Uma autobiografia permeada de muito bom humor. Às vezes hilário. Ele e John Lennon estavam num quarto de hotel em Nova Iorque, preparando-se para consumir uma montanha de cocaína. Súbito batem à porta. Elton pensou logo na polícia “quando a gente está com muito pó qualquer batida em porta a gente acha logo que é a polícia”. Lennon pediu que ele conferisse quem era.

Elton olhou pelo olho mágico, e disse a John que era Andy Warhol: “Que merda, não abre a porta”. E Elton John: “Mas, cara, é Andy Warhol”. E Lennon: “Ele tá com a porra da câmera?”. Elton voltou à porta. Andy estava com sua inseparável câmera. “Tudo bem – disse Lennon – se você quiser que ele entre e filme a gente cafungando, com o nariz sujo de pó, abra”. Tive que concordar que não queria isso. John então disse que não abrisse a porta. E voltamos a cheirar, tentando ignorar as batidas na porta de um dos mais famosos artistas pop do mundo”.

TIRANOSSAURO

Escrito com o jornalista inglês Alexis Petridis, Me é uma histórias de excessos. De droga, rock and roll, sexo, celebridades e compras. Elton John confessa ter sido viciado em comprar. Com muito dinheiro, comprava qualquer coisa. Um tiranossauro rex de fibra de vidro em tamanho natural, por exemplo. Comprou de Ringo Starr, que queria se livrar do bicho, porque vendia uma casa, e os possíveis compradores desistiam da comprar quando viam o trambolho no jardim.

Com um bonde, trazido da Austrália, que chegou à sua casa, na Inglaterra, trazido por dois helicópteros. São 371 páginas de entretenimento, com passagens sombrias, ou melancólicas, tal como a música de Elton John.

 Quem além dele poderia contar que, num aniversário no castelo real de Windsor, foi convidado pela princesa Diana para dançar um sucesso de Elvis Presley (Hound Dog). Dançavam Rock Around The Clock, de Bill Halley and The Comets, quando chegou a rainha mãe, de bolsinha no braço, e começou a dançar com os dois: “Estranhamente, aquilo me fez lembrar de The Band no meu camarim, ou Brian Wilson cantando o refrão de Your Song sem parar. Isso foi há onze anos. Minha vida tinha mudado além da conta, e ali estava eu, tentando me comportar normalmente, enquanto o mundo ao meu redor parecia ter se tornado completamente maluco

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