Análise

Skank decide parar antes de enferrujar

Novas bandas e novos sons dominam o mercado

José Teles
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José Teles
Publicado em 05/11/2019 às 10:12
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A banda Skank é uma das atrações deste sábado. O show começa às 20h no Youtube, diretamente do estádio do Minerão, em Belo Horizonte, Minas Gerais. - FOTO: Foto: Divulgação
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O Skank é do tempo em que bandas de pop/rock nacional vendiam, em média, um milhão de discos. De quando as gravadoras mantinham uma polpuda verba para divulgação dos seus contratados. Calango (1994) e Samba Poconé (1996), segundo e terceiro discos do Skank, venderam, juntos, mais três milhões de cópias. Da geração anos 90, foi o grupo mais bem sucedido comercialmente. Samuel Rosa, Lelo Zanetti, Henrique Portugal e Haroldo Ferretti anunciaram nesse final de semana que o grupo sai de cena em 2020, um ano antes de completar 30 anos, com uma turnê, ao mesmo tempo, comemorativa da data redonda e de despedida.

“Em meio a uma série de ondas aparentemente perfeitas, os músicos resolveram fazer uma pausa e irem para a praia testarem-se fora da única formação que conheceram desde que se juntaram para fazer um som em 1991. Não teve briga nem nada que pesasse para uma decisão figadal. Somente um desejo por experimentação, por correr riscos e buscar outras formas de realização sem ser como Skank”, diz o trecho da nota divulgada pela assessoria do grupo. Em 2018, o Skank lançou, sem maior repercussão, o álbum Os Três Primeiros, registro de show no Circo Voador, no Rio, com um repertório formado por canções dos três primeiros álbuns. O Skank, o disco de estreia, saiu inicialmente independente (em 1992) e mais tarde foi lançado pela Sony Music.

O anúncio significa bem mais do que o fim de uma banda que conseguiu reunir qualidade com popularidade. É também uma antecipação do crepúsculo do rock como força motriz do mercado da música pop. Certamente, os membros do quarteto constataram as reviravoltas do show bizz. Há pelo menos, cinco anos, o rap e estilos afins e periféricos ascenderam na pirâmide social do pop nacional. Já em 2010, a dupla Amilcka e Chocolate cruzou a linha divisória que separava a música da favela do pop urbano. Com Som de Preto, abriu espaço para a aceitação de um estilo marginalizado. “É som de preto/de favelado/mas quando toca ninguém fica parado”.

Dos grupos dos anos 90, poucos chegaram à segunda década do século 21 frequentando as paradas. Aliás, a própria definição de parada de sucesso foi ficando difusa. No tempo em que o Skank e a geração dos anos 90 estouraram, os canais de divulgação ainda eram o rádio e a MTV, esta última alavancando ou reabilitando carreiras. Foi um Acústico MTV, em 2000, que reconciliou o Capital Inicial com o sucesso. O Skank fez o seu em 2001, gravado ao vivo em Ouro Preto, um DVD que reafirmou o lugar da banda no panteão do pop nacional. Assim como praticamente todas as bandas surgidas ao longo da década de 90, o Skank foi se recriando. Do reggae e dancehall do álbum inaugural, para os calangos com tempero jamaicano dos três próximos discos, o grupo enveredou pelo pop retrô, à Beatles, a partir de Maquinarama, de 2000.
Mas assim como grande parte dos seus contemporâneos, Skank continuou pensando em música como ela vinha sendo feita no mercado fonográfico desde, pelo menos, os anos 70, quando os compactos deixaram de ter importância. Bandas e intérpretes assinavam contratos comprometendo-se a lançar um álbum por ano. Há dez anos, quando Som de Preto tocou fora dos guetos, o CD ainda era o veículo principal da indústria.

OLHA O RAP

O rock chegou ao Brasil depois do imenso sucesso nos EUA. Repetiu-se isto com o rap, o r&b. A partir de quando nomes como Pharell Wiliams, Kendrick Lamar, Kanye West e o canadense Drake tornaram-se estrelas internacionais, o discriminado rap nacional começou a subida para o andar de cima. E com novas armas, praticamente todas da internet. Embora continuem a lançar álbuns, este não é o vetor principal dos artistas e bandas que monopolizam line-up de festivais pop. É uma turma do single, que não é a mesma coisa que o velho compacto. Alcança imensamente mais gente. O consumidor millennial não comunga dos mesmos gostos dos pais e tios. A música de que gosta não precisa necessariamente ter belas melodias. O fundamento básico do rap – ritmo e poesia – é o que mais conta.

Emicida, Rael, Rincón Sapiência, Criolo, Rael, Djonga, BaianaSystem, Baco Exu do Blues são algumas das estrelas obrigatórias nos festivais atuais. Seria uma troca de guarda natural, não tivesse sido radical. Não se trocaram apenas nomes. Trocaram-se estilos, gêneros, comportamentos. Bandas dos anos 90, com poucas exceções (e a Nação Zumbi é uma delas), raramente são escaladas para festivais, a não ser os mastodônticos feito o Rock in Rio que, ecumênico, admite de Sandy & Junior a Sepultura.

Um bom exemplo disso, é o Música Alimento da Alma, o Mada, veterano festival que acontece em Natal há 21 anos (e que teve uma edição recente). As atrações principais do Mada 2019 foram BaianaSystem, Baco Exu do Blues, MC Tha, Luedji Luna, Djonga e Flora Matos. De rock, teve pouco, quase nada. Nenhum medalhão nacional do gênero. “Quando parávamos era por seis meses. E ficávamos esses meses em estúdio. Quando falei para pessoas próximas a decisão de dar um tempo, a reação foi: ‘Até que enfim você vai descansar’. E quem disse que eu quero descansar? Mas o bom é inimigo do ótimo. Então vamos parar enquanto estamos bem, em alta”, foi o comentário do baterista Pedro Ferretti, sobre a “parada” do Skank. Um final bem menos melancólico do que o de O Rappa, em 2018, que fez a turnê final sem que a maioria dos integrantes se falassem.

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