Disco/Lançamento

Bia Villa-Chan trocou o consultório pelo bandolim

Nesta quinta-feira ela lança o segundo disco solo

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 04/12/2019 às 12:58
Foto: Hans Manteufell/Divulgação
Nesta quinta-feira ela lança o segundo disco solo - FOTO: Foto: Hans Manteufell/Divulgação
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“Tocar bandolim não era a principal atividade na minha vida. Eu tinha como realização pessoal me formar. A odontologia era outra paixão minha, queria terminar minha vida acadêmica, fiz pós-graduação em cirurgia buco-facial, mestrado. Há dois anos passei por um problema de saúde, na tireóide, resolvi repensar a minha vida como um todo. Depois resolvi correr atrás do sonho. Até porque perdi a minha irmã para um câncer. Faleceu com 15 anos, dar a notícia aos meus pais, que estavam com a mesma doença, não foi fácil, foi bem traumático. Superei, mas depois que vi a morte de perto, resolvi viver da minha arte, da minha música. Foi assim que comecei a botar a música como prioridade”, diz a bandolinista Bia Villa-Chan, que lança o segundo disco Gira Sons, na Livraria Jaqueira, nessa quinta-feira (5), a partir de 19h, com pocket show, que terá a participação do guitarrista Renato Bandeira.

A entrada recente da instrumentista no cenário musical do Recife levou a pensar que se tratasse de mais uma diletante. Mesmo com gente olhando de lado, ela foi abrindo espaços, e procurando mostrar que não era uma neófita na música: “Meu avô, Heitor Villa-Chan, meu grande incentivador, foi um dos fundadores do bloco Pirilampos de Tijipió. Ele foi comerciante, tinha uma loja, Ao Anel de Ouro, que era a maior loja de joias daqui. Era amigo de muitos músicos. Ele tocou com Luperce Miranda e Henrique Annes. Todas as vezes que chegava em casa não ia dormir sem tocar o instrumento. Ele me dizia que o bandolim precisava muito de quem o tocava. Se deixasse de tocar, já regredia dois. Ele amava a música de Pixinguinha e, como descendente de português, tocava muita música portuguesa”. Bia começou a tocar aos seis anos, por intuição e observação:

“Senti vontade de acompanhá-lo, achava lindo ele tocando chorinho. Foi aí que comecei com o violão. Mais tarde, fiz violão popular e violão clássico na UFPE, no curso de extensão, e fui desenvolvendo outras habilidades”. Bia herdou o bandolim do avô, um Tranquilo Giannini, com o qual só sai de casa para gravações: “Quando fui gravar com Armandinho, do Trio Elétrico Dodô e Osmar, com quem fiz Vida Boa e Morena Jambê, que estão no meu disco, levei o bandolim. Ele ficou louco, porque tem um igual, que foi de Osmar, o pai dele”.

PRECONCEITO

Tocar com um nome consagrado do instrumental brasileiro, para Bia Villa-Chan, é mais um passo para consolidar a carreira. No início, ressalta que teve que enfrentar preconceitos por ser mulher e bonita, num universo em que os marmanjos formam a maioria absoluta. “Foi um grande desafio estar num meio tão masculino, e ainda ser vista de lado, não me acho bonita, mas sou diferente. As pessoas achavam que eu queria aparecer. Já escutei de tudo. ‘Pra uma mulher ela toca muito bem’, ou ‘ela toca como um homem’, por isso levanto a bandeira ‘Toco como uma mulher’. Sofri muito preconceito no começo. Quando viram que não vim pra brincar, que sei tocar, que sei o que quero”.

Armando Macedo e Alceu Valença fazem participações especiais em Gira Sons. Alceu, ela conhece desde o tempo em que tocou no grupo que animava o bloco Pirata José, quando a música ainda estava atrás da odontologia para Bia Villa-Chan. Armandinho foi um desses encontros só possíveis na era digital: “Maestro Spok ia tocar na Quinta do Galo, e me convidou para fazer uma participação. A gente tocou juntos o frevo Último Dia, de Levino Ferreira. Alguém da plateia filmou e jogou nas redes sociais, e viralizou. Esse vídeo chegou a Armandinho. Ele perguntou a Don Troncho quem eu era. Ele disse que me conhecia, e sugeriu que gravasse comigo uma música sua (com Edinho Queiroz e Marcondes Savio), Morena Jambê. Don Troncho fez esta ponte. Armandinho veio para o Recife, gravou não só a música, mas um clipe comigo.”

A amizade foi reforçada no Conexão Recife-Salvador, o primeiro grande show apresentado por Bia VillaChan fora de Pernambuco, apresentado em 30 de novembro no Teatro Isba. Armandinho, claro, tocou, com o irmão Aroldo Macedo, e comentou ao Bahia Notícias que via aquilo como “Uma conciliação geral até da música pernambucana com a baiana, do frevo pernambucano com o frevo baiano, de sotaque baiano, com guitarra baiana. Eu sou neto de Pernambucano e a gente herdou esse micróbio do frevo”. A bandolinista diz que o baiano pretende que os dois levem o Conexão Recife-Salvador para outros estados e para o exterior.

Mas o embrião do show surgiu antes de Armandinho, quando um produtor baiano viu Bia tocando no festival Panela do Jazz, em 2018, e a convidou para se apresentar em Salvador. DISCO Gira Sons é mais do que o EP como está sendo divulgado. Traz nove faixas, duas bônus. Bia Villa-Chan foi acompanhada no estúdio, pelos músicos com que geralmente se apresenta ao vivo: Renato Bandeira (violão), Bráulio Araújo (contrabaixo), Augusto Silva (bateria), Gilberto Bala (percussão), Mozart Ramos e Ciano Alves (flautas transversais). A única música não pernambucana do repertório é Vida Boa, parceria de Armandinho Macedo com Fausto Nilo

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