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'Fine Line': Harry Styles brilha em seu segundo disco

Ex-One Direction se estabelece como um dos pop stars mais interessantes da atualidade

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 20/12/2019 às 13:20
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Ex-One Direction se estabelece como um dos pop stars mais interessantes da atualidade - FOTO: Divulgação
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Em uma entrevista recente, Liam Payne, talvez na tentativa de dizer que era a antítese de Harry Styles, afirmou que seria uma espécie de “anticristo” do seu ex-companheiro no grupo One Direction, pois as personalidades e os projetos artísticos dos dois eram completamente opostos. Sem dúvidas, as diferenças entre eles são gritantes. Enquanto Liam tenta se adequar a todos os padrões sonoros (e estéticos) – e falha em conseguir se distinguir entre seus contemporâneos – Styles é hoje uma das figuras mais interessantes do pop, dialogando com o rock, o folk e elementos da música alternativa, além de se apresentar como uma figura que se afasta dos conceitos de heteronormatividade tão exigidos dos artistas derivados de boy bands. Esse caminho interessante que Harry tem trilhado em sua carreira solo ganha mais substância com o lançamento de Fine Line, seu segundo álbum.

No trabalho, Styles se livra da “maldição do segundo álbum”, que atormenta tantos artistas, e entrega um trabalho ainda mais interessante do que sua estreia. Para além da questão sonora, é importante atentar para as mudanças estéticas pela qual ele passou. Um dos galãs dos anos 2010, responsável por fazer meninas (e meninos) se esgoelarem, ele começou a adotar um look cada vez mais desconstruído. O guarda-roupa, por exemplo, se tornou unissex, com mistura de peças tradicionalmente associadas ao feminino, evocando um de seus ídolos, David Bowie.

A sexualidade do cantor é alvo de debates, com muitos sugerindo que ele é bissexual, fato que estaria implícito em suas canções, que muitas vezes não usam pronomes definidos. Recentemente perguntado sobre o assunto, ele resp0ndeu com um “Quem se importa?”. Em outros momentos, a resposta poderia parecer uma esquiva. Neste caso, soa mais como alguém que está mais disposto a embaralhar a visão cartesiana (e preconceituosa) do desejo e dos afetos.

Este comportamento vindo de alguém com a trajetória de Styles parece ainda mais interessante, quando ex-integrantes de boy bands, como Justin Timberlake e Liam Payne (para ficar nos colegas de grupo de Styles), ou ainda os pop stars em geral, como Justin Bieber, parecem particularmente obrigados a reforçar os estereótipos de masculinidade.

Se desconstruir, diga-se de passagem, é uma tarefa difícil para qualquer um. Em uma estrutura como a indústria fonográfica, o processo ganha contornos mais complicados, pois, apesar das mudanças nos últimos anos (vide o sucesso de Sam Smith, artista não binário e afeminado), ainda é forte o preconceito.

DESEJO E DOR

A carreira de Harry Styles começou em 2010 quando ele tinha 16 anos e participou da versão britânica do The X Factor. Após passar na primeira fase como artista solo, ele foi eliminado e depois retornou como parte do grupo One Direction, formado por outros quatro adolescentes também anteriormente defenestrados do programa. A visão empresarial de Simon Cowell, criador da atração, se provou mais uma vez acertada: o quinteto terminou em terceiro lugar na competição, mas se tornou um fenômeno mundial com mais de 50 milhões de álbuns vendidos (lançaram cinco) e com uma das turnês mais lucrativas da história.

Como costuma acontecer com esses grupos, com apenas seis anos de estrada, eles se separaram. Na carreira solo, iniciada em 2017 com o álbum que leva seu nome, ficou evidente que Styles tinha a ideia do tipo de artista que queria ser. Inspirado no rock, britpop, folk e pop, o disco era rico nas melodias e apresentava um vocalista seguro. A recepção do público e da crítica foi boa e provou à gravadora o potencial artístico (e comercial) do britânico.

Esta confiança adquirida se reflete em Fine Line, disco marcado pela personalidade enigmática e cativante de Styles (ele participa da composição de todas as faixas). As nuances de sua voz fazem com que canções como Watermelon Sugar e Golden ganhem novos contornos a cada audição. As produções das canções, com arranjos acompanham a riqueza das interpretações do cantor e devem ganhar ainda mais força ao vivo, a exemplo de Adore You, She, com toques psicodélicos, e de Cherry, mais puxada para o folk e o rock dos anos 1970.

Em entrevista à revista Rolling Stone, o britânico disse que o disco era sobre “fazer sexo e se sentir triste”. Essa aparente dualidade entre prazer, desejo e tristeza é apresentada no trabalho como partes de uma mistura dentro das complexas emoções humanas.

Exemplo disso é Lights Up, primeiro single do álbum. “Todas as luzes não poderiam acabar com a escuridão/ Que corre pelo meu coração/ As luzes acendem e elas sabem quem você é/ Sabem quem você é/ Você sabe quem você é?”, ele pergunta na canção. Uma das faixas mais pop do trabalho, ela captura o sentimento de certas noites regadas a álcool e melancolia e, ainda assim, um quê de esperança que, às vezes, é tudo que nos resta.

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