Lançamento

Zeh Rocha estreia em livro com Circunavegasons

Lançamento nessa terça terá também pocket show

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 17/02/2020 às 12:53
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Cantor e compositor de uma geração talentosa, que deu nomes como Lula Queiroga, Lenine e Geraldo Maia, Zeh Rocha diz que nasceu primeiro o poeta, seguido pelo músico e letrista. Ele estreia em livro nessa terça-feira, às 18h, na Livraria Jaqueira, no Bairro do Recife, lançando pela Cepe a coleção de poemas intitulada Circunavegasons. São 104 páginas, definidas por Rocha como autobiográficas. Aos que só o conhecem como músico, ele esclarece que começou a escrever aos 17 anos, no Colégio de Aplicação:

“Participava da semana de arte que tínhamos anualmente. Naquela época já escrevia poesia, fazia música e poemas. Esse poemas se perderam nas minha itinerâncias – já morei em São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina”. No final dos anos 70, a turma que esboçava rascunhos musicais resolveu formar um grupo. Foi a ponta de rama do efervescente movimento de música independente e experimental que montou uma das cenas mais importantes da música do país naquela década.

O grupo chamava-se Flor de Cactus, que lançou um compacto em 1979 (somente em 2018, reuniram-se e lançaram um CD 16 faixas, apropriadamente intitulado Brincando com o Tempo). Zeh, que também atuou como jornalista, explica o “autobiográfico” de Circunavegasons: “É autobiográfico porque mostra como eu me relaciono com a ecologia. Presto homenagens a poetas e artistas como Erickson Luna, Abelardo da Hora, João Cabral de Melo Neto”.

O prefaciador do livro foi integrante da turma de Zeh Rocha nos anos 70, o paraibano de Campina Grande Bráulio Tavares, também poeta (além de compositor, ficcionista e roteirista). Bráulio aponta para uma característica atávica no texto de Rocha: “A paisagem pernambucana também é uma memória recorrente nos versos de um poeta que é pernambucano sem esforço, e cujas melodias e rimas têm sempre para mim a cara do Recife, o traçado de suas pontes, o cheiro de sua brisa e dos seus quintais, a luz do rio se misturando à luz do mar”.

POETAS

Mas Zeh Rocha se atém também à paisagem intelectual, de acordo com as citações de poetas pernambucanos: “Nascem deste convívio as homenagens feitas por Rocha a João Cabral, em Ao Poeta Cego Iluminado (“Amansa tua alma andaluza / com mãos calejadas / teu ofício de poesia / punhal de versos duros”). Bráulio fala com propriedade de Zeh Rocha, quando iniciava a carreira e morava em Salvador, apanhava um ônibus interestadual e vinha para o Recife. O primeiro show que fez como cantor e compositor foi em Olinda, no Centro Luiz Freire, dividindo o palco com Zeh Rocha. Foi um show intitulado Batida de Madrugada.

Os dois voltaram a cantar juntos em show no DCE, o movimentado diretório acadêmico, na Rua do Hospício, onde se via de filmes de arte a debates acirrados entre alas ideológicas do movimento estudantil, até um debate com Luis Carlos Prestes, recém-chegado do longo exílio. Zeh Rocha entrou com três composições no álbum dividido por Lenine e Lula Queiroga, em 1983, Baque Solto (Lenine e Lula Queiroga): Raoni, Prova de Fogo (com Lenine) e Maracatu Silêncio (com Erasto Vasconcelos).

Depois de vários discos, ele realizou, em 2000, um álbum elogiado, que por estes caprichos do destino não alçou vôo, Loas, Lendas e Luas, com selo da Via Som Music. O álbum trazia participações especiais de Antônio Nóbrega (em Aboio Avoado), Lenine (em Maracatu das Ondas), Zé Renato (Toada Para Maria Bonita), Malu Cooper e Nenéu Liberalquino (Mundana), Sônia Sinimbu (Ciranda Buscada) e Kelly Benevides (No Topo da Palmeira). Praticamente os principais artistas que atuavam no Recife e em Olinda na época. Ele gravou ainda Tear (2009) e o DVD Transfinito (2012). Entre 2013 e 2018 morou em Imbituba (SC), voltando depois a morar no Recife.
Há poemas de várias fases de Zeh Rocha, abrangendo pelo menos três décadas.

Há alguma coisa de Capiba e sua Recife, Cidade Lendária em Amigos do Rei: “Recife, terra lendária / de poetas, batuques e favores / amantes, heróis e amores / Bradai, valsai e frevai / por pátios ruelas e becos/em passos do siricongado (...) tua brisa marinha é a voz de Ascenso / o soneto azul do Pena Filho / agitando a bandeira do Manuel”. Escancara as influências e admirações no poema com que abre o livro. O mar permeia muitos dos versos, afinal muita coisa do livro foi escritas em Candeias, Jaboatão, onde morou durante dez anos.

“O livro é também em tom confessional, imerso nas marés e ritmos da cultura popular local, vivenciada, apreendida nas minhas vísceras. Tem situações reais, e ficção, mas sem mentiras. Navego sobre as águas dos questionamentos sobre o amor, o sexo, a espiritualidade, a ecologia, a música, a arte da poesia, o devir, a filosofia, o poder”, diz Rocha, numa digressão sobre sua criação. O lançamento terá mais que poesia, o músico também se fará presente com um pocket show acústico, com participações de Alex Mono (irmão de Zeh Rocha) e de Publius. No repertório, canções autorais, de Lenine, Xico Bizerra e Juliano Holanda

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