Tema de reportagem do Caderno C desta terça (24), o livro Onde a religião termina? (Editares), escrito pelo ex-padre Marcelo da Luz, é crítica contundente contra todas as manifestações religiosas, em especial, ao cristianismo e a seu maior ícone: Jesus Cristo. O autor dedica capítulo inteiro ao Nazareno, afirmando ter sido ele “um sectário, obscuro em muitos momentos” e de ter usado “discurso demagógico e populista, coerção psicológica para convencer os devotos (medo do inferno, proximidade do juízo final), de fomentar o fanatismo e de insuflar a violência em alguns momentos”. Apesar de concordar em vários pontos com as opiniões de outros críticos modernos da fé como o biólogo britânico Richard Dawkins (autor do best-seller Deus um delírio) e do neurocientista americano Sam Harris (O fim da fé), o pesquisador da Conscienciologia (neociência proposta pelo médico brasileiro Waldo Vieira, a qual admite hipóteses como a sobrevivência da mente humana após a morte) Marcelo da Luz rejeita a tese de que gênese da religião tenha surgido a partir de delírios dos nossos ancestrais, mas de “enganos parapsíquicos”. Leia trechos da entrevista concedida ao Jornal do Commercio.
Jornal do Commercio - Como tem sido a repercussão do livro e o impacto causado nos meios religiosos e acadêmicos?
Marcelo da Luz - Nos meios acadêmicos, o livro tem sido bem recebido em razão da oportunidade do debate. Nas palestras feitas em diferentes ambientes e cidades, sempre temos a presença de universitários e outras pessoas interessadas no estudo da crítica ao fenômeno religioso. Nos meios religiosos, a situação é mais complexa. Tenho notícia de vários ex-colegas que leram o livro e se surpreenderam positivamente. Contudo, a maioria dos religiosos reage negativamente. Recebi comentários bastante agressivos, tanto de bispos e padres como de devotos simples. São expressões de indignação quanto à postura crítica apresentada no livro. O interessante é que nenhum desses leitores foi capaz, até o momento, de refutar as teses do livro. Os religiosos indignados recorrem sempre à defesa cega da instituição eclesiástica e aos apelos emocionados, típicos de quem não admite questionamento ao “sagrado”. Uma reação comum, nesse contexto, é o ataque pessoal: dizem que se tenho a necessidade de “denegrir” a Igreja Católica (ou outras religiões) é porque devo ser alguém profundamente infeliz ou psicologicamente transtornado. A questão é que se alguém lê o texto com um mínimo de isenção, perceberá que não existe lá nenhuma tentativa de vingança, agressividade, sarcasmo ou provocações. É um texto argumentativo, uma análise, que em determinados momentos expõe graves mecanismos de corrupção da mente e da instituição religiosa, mas sem perder o respeito pelos interlocutores. O livro, também, tem o cuidado de ser a proposta de diálogo, a possibilidade de interlocução. Não é um texto dogmático, no qual se apresenta uma nova verdade absoluta. Não estamos trocando uma religião por outra. Por isso mesmo, o título do livro é uma pergunta e não uma afirmação: “Onde a religião termina?”.
JC – De acordo com sua visão, as religiões trouxeram e continuam trazendo muitos prejuízos para a humanidade. Quais seriam eles?
Marcelo - Em primeiro lugar, a religião fomenta a formação da mente sectária, isto é o devoto vai interpretar o restante do mundo por meio do foco dogmático da doutrina professada pela sua religião. Estará convencido de que o seu grupo é dono da “verdade” ou “revelação” absoluta. Isso gera, frequentemente, o sentimento de que o devoto de uma religião diferente, o “outro” é um rival, um opositor, um inimigo. No cristianismo, existem cerca de 33.800 seitas diferentes, todas pretensas candidatas à “verdade única” do cristianismo. Alguém poderia objetar que isso é um comportamento observável apenas nos pequenos grupos, as seitas. Mas nas grandes religiões ocorre o mesmo. A mente sectária está presente tanto na Igreja Católica, que tem aproximadamente um bilhão de fiéis, assim como na igrejinha da esquina, que acabou de ser inaugurada, com 30 fiéis. Recordo-me a esse respeito, a orientação que recebíamos em Roma, no seminário internacional da Ordem Franciscana. Foi-nos dito que não deveríamos aspirar ao “ecumenismo franciscano” (a Ordem Franciscana está dividida em três grupos, que já brigaram muito no passado), mas sim defender nossas raízes e antigas tradições. Inexiste religião universalista.
Outro problema dos mais sérios é a promoção da dependência consciencial. Por um lado, as pessoas, em geral, inseguras quanto aos recursos pessoais (talentos e capacidades) anseiam encontrar alguém que lhes aponte uma estrada certa e lhes diga o que fazer. Por outro lado, os líderes religiosos julgam ter as fórmulas seguras que levam à realização absoluta. Uma metáfora evangélica expressa essa relação de dependência: “pastores e ovelhas”. Animais passivos e indolentes, as ovelhas obedecem ao comando do pastor. “Rebanho” é outra metáfora que expressa a noção de “massa impensante”. Devotos escolhem renunciar ao pensamento próprio para “terceirizarem” suas escolhas existenciais.
Abordamos também o vínculo existente entre religião e violência. Inegavelmente, o passado e o presente da Humanidade são manchados de sangue derramado pelos religiosos. Essa violência é algo intrínseco aos credos religiosos, ou a fé das populações fanáticas apenas tem sido usada por outros sujeitos interessados no poder político e econômico. Penso que a religião carrega em si a semente da violência, pois a pregação da verdade absoluta exige sempre defesa e controle. Os livros sagrados (Bíblia e Alcorão, por exemplo) estão repletos de textos que incitam à violência. Enquanto forem considerados “Palavra de Deus”, esses textos continuarão a funcionar como bombas-relógio prontas a eclodir a partir das mentes sectárias.
JC – Atualmente, religiosos mais progressistas (talvez, o dalai lama, líder budista tibetano, seja um representante dessa linha) têm falado sobre a possibilidade de diálogo entre as religiões e mesmo entre descrentes no que se refere à ênfase no humanismo e espiritualidade. Esta, porém, tomada pelo sentido de valores humanos. O que você pensa a respeito disso?
Marcelo - Muitos dirão que um dos maiores benefícios das religiões (e talvez uma das justificativas para sua permanência) é a pregação da paz e da justiça entre os povos. Mostramos no livro que esta ideia é um mito, pois as religiões, historicamente, sempre fizeram apologia da tirania e da escravidão. A defesa dos direitos humanos é uma ideia secular, não religiosa. Se hoje muitos religiosos se identificam como arautos da paz é porque o mundo secularizado exige isso. Mas a partir dos problemas que apontamos (sectarismo, promoção da dependência, discurso irracional), dificilmente a “paz” pregada pelos religiosos poderá ter substância para garantir entendimento saudável entre os povos. A redescoberta da “espiritualidade”, isto é, o autoconhecimento enquanto relação com o “transcendente” pode representar um avanço dentro do itinerário existencial daqueles que antes estavam muito presos à religião institucionalizada. O problema é que, geralmente, essa “espiritualidade” é vivenciada como outra forma de dependência. A pessoa continuará a atribuir suas vivências mais concretas à relação com alguém superior, mesmo que este “superior” seja compreendido como algo extremamente abstrato que se manifesta no “interior” dela. Você mencionou o dalai lama. Por que alguém, para falar de paz e compaixão, precisaria ter uma relação de subserviência com o universo? Por que alguém precisaria defender a necessidade de ser chamado de “Sua Santidade”? Argumentamos no livro que a transcendência da consciência sobre a matéria é um fato conatural à vida humana e, portanto, cada indivíduo pode ser autônomo e autorresponsável quanto às experiências “extrafísicas” (considerem-se aqui os fenômenos “paranormais” da viagem astral ou desdobramento, precognição, clarividência e tantos outros). Inexiste a necessidade de genuflexão diante de qualquer outra consciência ou realidade do cosmo. A autonomia do experimentador mediante a aplicação do “princípio da descrença” é uma das premissas básicas da Conscienciologia.
JC – Você levanta outra hipótese a respeito da origem das religiões: o “engano parapsíquico”. Poderia explicar essa ideia?
Marcelo - Durante muito tempo, a tradição cristã de base católica ensinou ao povo que sofrer resignadamente era virtude. Nesse contexto, o “milagre” era algo raro, patrocinado pelos santos tradicionais, mas sempre alimentado pela esperança dos fiéis. Os movimentos cristãos mais contemporâneos, especialmente o neopentecostalismo, “democratizaram” o milagre, tornando-o “mercadoria” acessível. O que move as multidões a migrarem de igreja em igreja é a expectativa do extraordinário, a obtenção do “favor” divino. Hoje, essa sede de milagres é explorada comercialmente, dando razão à máxima “Templo é dinheiro”. No meu livro, defendo a ideia de que o ponto comum entre todas as tradições religiosas é a vivência seguida da má interpretação dos fenômenos parapsíquicos (ou “paranormais”). Muito do que o cristianismo chama de “milagre” (e aqui é preciso ter cuidado, pois além das curas legítimas, frequentemente ocorrem também falsificações, charlatanice e autossugestão), é expressão daquilo que podemos chamar de parapsiquismo ou paranormalidade. É uma capacidade própria do ser humano, pois nós transcendemos a matéria. O fato é: desde o princípio da humanidade, o parapsiquismo é exercido naturalmente por nós (visões de "espíritos", audição de vozes, manipulação de energias, telepatia, saída do corpo físico, e muitos outros fenômenos). O problema é que, desde o início, as pessoas dão uma interpretação religiosa a esses processos, criando dependência nos outros e estabelecendo o poder e controle religioso. O próprio Jesus histórico foi um parapsíquico, mas interpretava erroneamente suas próprias capacidades, e acabava fascinando os ignorantes (penso que ele fosse bem-intencionado, mas o resultado foi o fanatismo). Todas as religiões nasceram a partir de fenômenos parapsíquicos mal interpretados. Exemplos: a origem do Islamismo foi a psicografia do Alcorão; o cristianismo se originou das aparições do ressuscitado, nada mais do que a aparição de espírito, fenômeno reproduzido hoje com relativa facilidade em sessões mediúnicas, a partir do ectoplasma dos médiuns. A ciência convencional evita e, em muitos casos, despreza qualquer consideração sobre a paranormalidade ou natureza extrafísica da consciência. Assim, o parapsiquismo tem sido relegado, à condição de ocultismo, magia, espiritualismo, “poder da mente”, ou milagre que exige a fé. Aqui se insere o diferencial da Conscienciologia, ciência proposta pelo pesquisador brasileiro Waldo Vieira. A Conscienciologia busca investigar objetivamente a realidade da consciência, sem crendice ou mistificação, reconhecendo no parapsiquismo a chave para a pesquisa da realidade multidimensional do ser humano, algo ainda amplamente ignorado pela ciência comum.
JC – Você afirma que diversos episódios da vida de Jesus são ficções teológicas. Seria o principal foco de veneração dos cristãos apenas um mito?
Marcelo - O capítulo cinco do livro é dedicado à desconstrução da divindade atribuída a Jesus Cristo. Há uma diferença entre o que foi o Jesus histórico (Jesus de Nazaré, cidadão palestino do séc. 1, sobre quem sabemos pouquíssimo) e Jesus Cristo, um homem divino inventado pela fé dos seguidores. Os evangelhos não são biografias, mas relatos teológicos (interpretações divinizadas) escritas várias décadas após a morte de Jesus de Nazaré. Pedro e Paulo viam Jesus como um homem especial, mas não o consideravam divino. Entre os evangelhos, a explícita afirmação da divindade de Jesus só ocorre no evangelho de João, escrito pelo menos 70 anos após a morte de Jesus. Mas a essa altura, já circulavam muitos outros relatos com diferentes interpretações sobre o Nazareno. Nos séculos seguintes, os escritos divergentes foram destruídos para que a definição dada pelo Concílio de Niceia, no ano 325, fosse a única interpretação aceitável. Esses dados históricos mostram como a figura divina do Cristo é um produto pouco a pouco construído pelo fanatismo e interesse político de seus seguidores. Por outro lado, essa desconstrução pode ser feita a partir do conteúdo dos evangelhos, pois os ensinamentos e obras de Jesus apresentam muitas inconsistências. Ele foi sectário, obscuro em muitos momentos; usou discurso demagógico e populista; fomentou o fanatismo ao reclamar para si o amor exclusivo dos discípulos; foi ignorante quanto ao próprio parapsiquismo; utilizou muitas vezes a coerção psicológica para convencer os devotos (medo do inferno, proximidade do juízo final), insuflou a violência em alguns momentos; pregou o amor condicional (aqueles que não aceitam sua vontade serão condenados)... só para citar alguns exemplos. Não há motivos racionais para que alguém considere Jesus divino ou o homem mais inteligente e brilhante que já existiu. Muito pelo contrário. Hoje, qualquer pessoa esclarecida pode ir muito além de Jesus Cristo. As pessoas têm medo de questionar a obscuridade e a irracionalidade das proposições do evangelho porque fomos lavados cerebralmente desde o berço por uma cultura de base cristã.
JC – Diversos espiritualistas, a exemplo do filósofo cristão já falecido, Huberto Rohden, dizem que a interpretação do cristianismo à luz da mística do extremo oriente o tornaria mais racional e compreensível. O citado Rohden, por exemplo, diz em um de seus livros - O drama milenar do Cristo Cristo e do anticristo (Editora Martin Claret) – que essa dicotomia contida na Bíblia seria, na verdade, uma representação mítica da luta interna do Homem entre seu “eu inferior” (Anticristo) e o “eu superior” (Cristo). O que você pensa a respeito disso?
Marcelo - Por experiência própria, posso afirmar que esta interpretação continua tão fantasiosa quanto as formulações da espiritualidade cristã original. Durante algum tempo, ainda enquanto padre, também defendi esse sincretismo com o Oriente. Contudo, cobrir algo que já é irracional (a mensagem cristã) com outra coisa também obscura (os misticismos orientais são, em grande parte, resultado da ignorância quanto ao uso ético do parapsiquismo) não resolverá o problema. Afirmamos no livro que a experiência extrafísica direta (possível a qualquer consciência) pode ser suficiente para dispensarmos a fé. Você não precisa “acreditar” na vida após a morte: é possível “saber”, experimentar o que se passa após a morte mediante nossos recursos parapsíquicos (a projeção da consciência ou “viagem astral”, por exemplo). O autoconhecimento pode dispensar qualquer tipo de adulação ou culto a seres supostamente superiores, pois um ser verdadeiramente superior ou evoluído jamais estará interessado na submissão das pessoas.
JC – Você situa o ateísmo e o materialismo como manifestações dogmáticas semelhantes às religiões. Seriam, então, gente como Richard Dawkins e Sam Harris, crentes materialistas?
Marcelo - Reconheço os méritos desses e de outros escritores secularistas. Eles são admiráveis porque trouxeram a religião para a mesa de debate, denunciando os absurdos do pensamento religioso. Mas é inegável que acabam recaindo em um novo dogma: a afirmação da inexistência de “Deus”. Nesse sentido, permanecem ainda presos ao esquema que pretendem combater. Ora, a pergunta sobre o ser originário ou primeira causa do universo está fora do alcance da ciência ou de qualquer conhecimento possível hoje ao ser humano. Raciocinamos em termos de causa e efeito, o que nos leva sempre a perguntar pela causa primeira do universo. Simplesmente não temos essa informação e o discurso teológico pouco ajuda, pois não passa de um exercício de fantasia poética. Os deuses das religiões são interpretações construídas pelos humanos e refletem os limites da cultura, da linguagem e dos interesses políticos dos crentes. Os deuses das religiões (e o deus cristão não é exceção) não existem, são apenas ideias, projeções aumentadas das ambições e desejos humanos. Penso que os escritos de Dawkins e Harris nos ajudam a compreender isso. Contudo, eles acabam dando um salto muito grande ao pretenderem negar a possibilidade de uma causa primeira para o universo, pois simplesmente não sabemos coisa alguma sobre quem ou o que é isso. Esse assunto permanece inalcançável às nossas possibilidades cognitivas.
JC – Mesmo presente em outras doutrinas como a teosofia e a antroposofia, os fenômenos parapsíquicos e a ideia da reencarnação são sempre associados, no Brasil, ao espiritismo, inclusive por boa parte da imprensa. Por que isso acontece?
Marcelo - Sim, o conhecimento da “reencarnação” é anterior ao monoteísmo cristão e algo predominante nas tradições orientais. É também um conceito presente na Teosofia, Antroposofia, Rosacrucianismo e Gnose, entre outros movimentos espiritualistas. Para os ouvidos de quem nasceu no Ocidente, o termo “reencarnação” carrega o peso de algo associado a um misticismo ocultista. Nascemos numa sociedade cuja cultura de base é cristã. Os cristãos sentem ojeriza pela ideia de “reencarnação”. Toda a base da religião cristã repousa sobre a ideia de ressurreição (a pressuposição da aquisição da vida eterna após a vivência de apenas uma vida terrestre). Minha percepção, baseada na experiência de quem foi padre, é que a maioria dos cristãos jamais parou para pensar na inconsistência da ideia de ressurreição. Apenas a repetem porque está nos evangelhos. Ora, como uma consciência poderá estar madura para a “eternidade” em apenas algumas dezenas de anos? Hoje, algumas pessoas conseguem viver até os 100 anos; em tempos passados, em condições precárias, a maioria não conseguia passar dos 30 anos. Percebemos concretamente as diferenças de maturidade entre as pessoas. Às vezes, dentro de uma mesma família, sob o mesmo teto e sob a mesma formação, pessoas apresentam diferenças enormes em termos de responsabilidade, intenção ética, senso de fraternidade etc. Sem experiências suficientes, como poderíamos alcançar “plenitude”? Além disso, a própria noção de eternidade, paraíso, céu, absoluto, denota a ideia de algo estático, a cessação do processo de evolução. Como imaginar que um único indivíduo humano, Jesus Cristo (cheio de imaturidades, como discutimos mais acima) possa ser a medida de todas as consciências do cosmo? Todos deveriam se encaixar em seu modelo sectário, congelado no tempo. A ressurreição cristã mostra-se, assim, antiuniversalista e absurda. É uma interpretação que não concede às pessoas o direito de realizarem as próprias experiências. Elas deveriam apenas copiar um modelo pronto, aceitar a vontade de um deus tirano e ganhar o prêmio, indo para o céu. Quanto aos espiritualismos, o grande problema dos movimentos citados anteriormente é que encerram o conhecimento da “reencarnação” numa aura de segredo e misticismo. O grande problema do espiritismo, embora este tenha experiência da “reencarnação” é que, além de cultivar o misticismo, mantém a figura de Jesus e a ideia do deus cristão como modelos evolutivos. O mais importante nesta discussão é que a “reencarnação”, não é apenas uma crença, mas um fato comprovável. O desenvolvimento da projetabilidade lúcida (viagem astral), a clarividência (percepção de espíritos) e o fenômeno da retrocognição (lembrança de vidas passadas) podem dar ao experimentador o conhecimento (não crença) a respeito do pós-morte. Esses fenômenos e a realidade extrafísica da consciência podem ser estudados objetivamente, sem recurso a qualquer mistificação ou ritual religioso. Por isso, preferimos usar o termo “serialidade existencial” (sucessão de vidas terrenas) no lugar da velha e carregada palavra “reencarnação”.
JC – Dissidentes e críticos da Conscienciologia a acusam de, à semelhança de cultos religiosos, ser também uma seita e de seu criador, Waldo Vieira, ser uma espécie de guru. Um dos livros dele – o 700 Experimentos da Conscienciologia – dizem os detratores, seria uma obra fundamentalista e cheia de regras de conduta, o que poderia ser comparado a um livro religioso. O que você pensa a respeito?
Marcelo - Discordo que o livro 700 Experimentos da conscienciologia contenha fundamentalismos. Muito pelo contrário. A obra é um autêntico antídoto contra qualquer tipo de fundamentalismo (religioso, científico, filosófico ou ideológico). Certamente, o tom iconoclasta do livro chocará as pessoas ainda muito presas ao sentimento religioso. Talvez estes críticos da Conscienciologia estejam confundindo o conteúdo das ideias com o tom histriônico do argumentador. As tertúlias conduzidas pelo prof. Waldo diariamente, pela internet, (https://www.tertuliaconscienciologia.org), 12h30 às 14h30) endereçam vasto número de questões em curto espaço de tempo. Algumas afirmações seriam mais bem compreendidas à luz dos textos publicados pelo autor e também à luz de outras tertúlias no qual o assunto em pauta foi explorado com mais detalhes. A diretriz norteadora das discussões conscienciológicas é o “Princípio da descrença”: Não acredite em nada. Nem mesmo naquilo que você lê aqui. Experimente. Tenha suas próprias experiências. Este princípio derruba qualquer pretensão de dogmatismo ou fundamentalismo. Agora, deixe-me dizer algo importante. Tenho um enorme respeito pelo professor Waldo enquanto pesquisador, intelectual e autor. Contudo, mesmo como propositor da Conscienciologia, ele não é infalível. A Conscienciologia reconhece que suas proposições são refutáveis, e que suas verdades são relativas – verdades relativas de ponta. Isso separa este novo campo do conhecimento de qualquer religião ou doutrina baseada em crença. Necessariamente, para que a ciência avance, mesmo as teses e interpretações do professor Waldo Vieira um dia terão de ser ampliadas ou mesmo superadas. Nesse sentido, acho positivo que algumas opiniões dele sobre arte, política e cultura estejam erradas. É sinal que estamos na companhia de um cientista e não de um guru.