Charge

Um dúzia de anos do chargista do século

Miguel Falcão lança coletânea de charges publicadas no JC

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 14/06/2012 às 5:46
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Aquarelas do Brasil e Carregando nas tintas são algumas das possibilidades de títulos para o livro As charges do século, que Miguel Falcão lança hoje no Museu do Estado de Pernambuco, a partir das 19h, distribuindo autógrafos e desenhando caricaturas do distinto público: “Ficou a dúvida sobre o batismo do livro. Então conversava com Olbiano, o editor, e Antonio Portela, que escreveu a apresentação, e ele sugeriu As charges do século. O que não quer dizer que eu seja o chargista do século”, explica Miguel, que tem um quarto de século de bons serviços prestados à charge e, eventualmente, ao cartum.

Tempo este contado desde que participou do primeiro concurso de humor, no idos de 1986. Se partirmos para a época em que começou a rabiscar calunguinhas em papel ofício, então é preciso voltar até a Timbaúba do começo dos anos 70, quando Miguel acompanhava a mãe ao cartório onde ela trabalhava: “Para eu ficar quieto, minha mãe me dava papel e lápis, enquanto trabalhava. Meu irmãos também desenhavam, mas eram mais velhos e podiam brincar sozinhos, enquanto eu tinha que ficar com minha mãe. Ela é uma das pessoas a quem dedico o livro”, diz Miguel.

Depois de tanto desenhar, um dia ele achou que estava pronto para se dedicar em tempo integral. Foi ao Jornal do Commercio falar com o diretor de Redação Ivanildo Sampaio, que é quem conta como o caso como o caso foi: “...Na antiga redação do JC, ainda na Rua do Imperador, entra na minha sala um jovem desengonçado, mais gordo do que magro, meio ‘riponga’, barba rala e mal-aparada, com uma pasta embaixo do braço, carregada de desenhos. Informa que pretendia ser cartunista do jornal, se possível, começando a trabalhar no dia seguinte. Como ele não pediu o meu lugar, abri a pasta, dei uma rápida olhada nos desenhos e proferi a sentença: está empregado, começa amanhã”. Mal começou e já arrebatou um primeiro lugar num dos concursos mais prestigiados do Brasil, no Rio, com uma caricatura do então governador Miguel Arraes. “Fui julgado por uma comissão que tinha Ziraldo, Millôr e Jaguar. O concurso homenageava os 20 anos do Pasquim, estava a turma toda lá”, lembra Miguel.

Desde que começou a labutar profissionalmente no JC, Miguel Falcão não tem a mínima ideia de quantos desenhos fez. Menos ainda se for acrescentar os que fez com pseudônimos (Brás Cubas, Leugim, etc). Para compor o repertório deste livro (o primeiro solo), retrospectiva dos últimos 12 anos de trabalho, ele selecionou 36 charges por ano: “Não por temas, ou porque determinada charge teve maior destaque. Foi gosto pessoal mesmo”, confirma Miguel, que até hoje desenha no papel, em aquarela, indiferente à evolução tecnológica que permite desenhar direto no computador: “Ao contrário do que pensam, é mais rápido. A única demora é secar a tinta, porque não faço esboço. Vou de primeira”.

O chargista depois da ditadura não tem mais a mesma aura de herói. Não cutuca mais a onça com vara curta. “É o complemento da notícia de destaque do jornal”, aponta Miguel. Porém se não incomoda no geral, ainda causa irritações no particular, sobretudo os políticos alvo das charges. Um deles, o ex-fiscal de Sarney, na época do governo de Joaquim Francisco, não gostou de um desenho de Miguel satirizando os métodos do citado personagem no combate ao cólera: “Ele me peitou para um duelo, na vera. Disse que eu podia escolher as armas. Não aceitei, claro”.

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