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Teatro pernambucano de luto com a morte de Diva Pacheco

Atriz pernambucana, nascida em Panelas, faleceu na manhã desta sexta (20), em Caruaru, vítima de câncer

Do JC Online
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Publicado em 20/07/2012 às 10:12
Foto: Heudes Régis/JC Imagem
Atriz pernambucana, nascida em Panelas, faleceu na manhã desta sexta (20), em Caruaru, vítima de câncer - FOTO: Foto: Heudes Régis/JC Imagem
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O cenário artístico de Pernambuco e do Brasil está de luto. Faleceu, na manhã desta sexta-feira (20), vítima de câncer, a atriz Diva Pacheco, 72 anos. Ela estava internada no Hospital da Unimed, em Caruaru, Agreste do Estado, e morreu por volta das 9h30. O velório de Diva acontece nesta sexta (20) à tarde, na cidade-teatro de Nova Jerusálem, e o enterro está progamado para as 9h do sábado (21).

Diva Pacheco nasceu na cidade de Panelas, no Agreste de Pernambuco. Casada com Plínio Pacheco, responsável pelo espetáculo Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém. Plínio faleceu em 2002. Diva fez alguns trabalhos para o cinema, entre eles “Noite do Espantalho”, “A Compadecida” e “Batalha dos Guararapes”. Trabalhou como diretora de arte pela TV Globo no Rio de Janeiro em “Roque Santeiro” e em “Morte e Vida Severina”. Sua última atuação para a Rede Globo foi em uma novela de Miguel Falabela, “A Lua Me Disse”. Teve participação marcante em diversos concursos de fantasia, inclusive foi vencedora em muitos deles.

Veja um texto sobre Diva Pacheco escrito por Bruno Albertim, repórter do JC, originalmente publicado para o catálogo do Prêmio Tacaruna Mulher deste ano, quando Diva foi homenageada:

Que nos desculpe Maysa. Mas, se o poeta Manuel Bandeira tivesse encontrado Diva Pacheco antes, teria dito que seus olhos, e não os da cantora poeticamente angustiada, são dois oceanos não pacíficos. Quem já teve perto desta que é musa até na certidão de nascimento sabe: suas grandes retinas azuis não nos deixam imunes. Parecem escrutinar, sob o comando de deuses, o mundo. Certa feita, o jornalista Paulo Fernando Craveiro a definiu como “O Agreste de olhos azuis”. Ou como uma “criatura tão ampla que terminou ganhando pedaços de céu nos olhos.”
       
Filha de Epaminondas Cordeiro de Mendonça e Sebastiana Lucena de Mendonça, nascida no ano da graça de 1939, Diva Pacheco parece ter vindo ao planeta com o objetivo de não caber num rótulo só. Atriz, figurinista, carnavalesca, artista plástica e escritora, se for objetivar um pouco. Mas Diva é mais. Uma transgressora na vida e na arte.
       
Contra a vontade dos pais, casou-se, em 1956, com o gaúcho Plínio Pacheco. Como era desquitado, algo tão inaceitável como o adultério que ainda podia justificar, nos bancos dos réus, a absolvição de maridos assassinos por legítima defesa da honra, a família não aprovou a união.

Quis Deus que ela não ouvisse as pequenezas de seu tempo. Com Plínio, pôs de pé a Nova Jerusalém do Município do Brejo da Madre de Deus. Obra que viria a constar como o maior teatro ao ar livre do mundo. Com ele, teve também os filhos Xuruca, Nena e Robinson, todos, em maior ou menor grau, ligados às artes e ao drama da paixão no Agreste. Além deles, consta na prole o já falecido Paschoal. Plínio, falecido em 2002, considerava Diva nada menos que uma remanescente das heroínas de Tejucupapo - as mulheres míticas do distrito de Goiana que, a ferro e paus, teriam expulsado um exército holandês.
       
Por mais de dez anos, Diva foi a Maria da Paixão de Cristo. “Eu entrei em Nova Jerusalém em 1962, nunca mais saí. Eu lavava roupa, engomava, cozinhava, fazia de tudo.(…) Quase ninguém sabia ler. Tinha que ensinar o texto, todinho, decorado. Para juntar com o elenco que vinha do Recife e eles decoravam tudo, tudo, tudo”, recorda Diva.
       
Campeã superlativa de muitos Carnavais, ganhou muitos e muitos prêmios de originalidade no Balmasqué e no Baile Municipal do Recife. Apaixonada pela cultura de seu povo, comandou um pastoril - e desenhou o figurino de suas pastoras.  Confeccionou tantos figurinos para cinema e teatro, que seria impossível enumerar todos:  Batalha dos
Guararapes (primeiro no teatro; depois no cinema), dos filmes Auto da Compadecida, A Vingança dos Doze. Só na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, desenhava e costurava para uma cidade praticamente inteira.
       
Ela também deu pitacos sobre o figurino de sua hilária personagem Dona Sulanca, da novela global A lua me disse. O amigo Miguel Falabela usava muito da prosódia da própria atriz para compor a personagem, uma sulanqueira sanguinolenta de Santa Cruz do Capibaribe. “Toda vez que eu vou para casa de Miguel , no Rio, levo um monte de comidas, coisas gostosas daqui para ele. E ele se desembesta a gritar: ‘Ai, meu Deus...lá vem essa retirante morrendo de medo de passar fome”, diz ela, às gargalhadas.
       
Mais que parceiro profissional e amigo, Falabela é virou quase um quinto filho de Diva. Um, entre tantos exemplos, de sua capacidade de acolher e de ser acolhida. Seja com a cumadre de Fazenda Nova, um vaqueiro do Sertão ou com uma atriz do Leblon.

Fora dos palcos, suas roupas mantém algo de teatral. Mais que vestimentas, molduras para mulheres pouco satisfeitas com o mais comum da vida. Diva foi atriz do cult-movie A Noite do Espantalho (1974), de Sérgio Ricardo. Mas também assinou o figurino do filme.

Com Diva Pacheco, a moda não é algo que cabe apenas na vitrine ou passarela. Vai da Sulanca ao estúdio. Do palco à vida.

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