Disco

Los Sebosos é cover e autoral ao mesmo tempo

Repertório de Jorge Benjor com sotaque pernambucano

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 23/09/2012 às 6:00
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Jorge Ben, antes de acrescentar o “Jor”, lançou álbuns de vasta influência na música brasileira, nenhum tão influente quando o Tábua de esmeraldas, de 1974. Pelo menos para a turma do manguebeat, poucos discos foram tão escutados quanto este, na predileção de todos, sobretudo de Fred Zeroquatro e Chico Science. Outros dois álbuns de Jorge Ben Jor que fazem parte da coleção básica do manguebeat são Samba esquema novo (1963), e Bidu – silêncio no Brooklin (1967). O primeiro é o álbum inaugural da obra de Babulina (apelido de Ben Jor), o segundo (pelo selo AU da Rozenblit) é sua resposta ao pessoal do Fino da Bossa, que o baniu do programa por ter se apresentado no Jovem Guarda.

Esta é a trinca de discos de Jorge Ben Jor de onde saiu a maioria das 14 faixas do álbum de estreia dos Los Sebosos Postizos, projeto paralelo de parte do Nação Zumbi (Jorge du Peixe, Dengue, Pupillo e Lúcio Maia). O disco está chegando às lojas pela Deck Disc, com produção de Mário Caldato, contrariando as previsões dos músicos do Nação Zumbi, que prometiam para este ano um CD de inéditas da banda.

“As músicas estão gravadas, mas o disco só em 2013. A gente não tem pressa. Continuamos tocando com Marisa Monte. A turnê dela deve ir até meados do ano que vem. Até lá, a gente vai ouvindo o que foi feito para saber se é isso mesmo o que a gente quer. Jorge talvez bote novas vozes”, comenta o baixista Dengue, de passagem pelo Recife.

Los Sebosos Postizos surgiu de uma homenagem ao ídolo Ben Jor em 1998, numa festa chamada A noite do Ben. Evoluiu para uma banda cover, que desaguou num álbum, que eles achavam que não seria feito: “A ideia do Los Sebosos estava evoluindo para um disco autoral. Mesmo nos covers de Ben Jor tinha, e tem, muito da banda. O repertório está gravado há uns dois anos, só agora foi que mandamos para Mario Caldato. A gente não tinha pressa, como está acontecendo agora com o disco do Nação”, continua Dengue, acrescentando que por enquanto não há vaga na agenda dos músicos para uma turnê dos Los Sebosos: “Acho que vai rolar uns três shows. Um no Rio, outro em São Paulo e no Recife, até porque a gente está se encontrando pouco. Jorge está em São Paulo, eu estou no Rio.

Duas músicas autorais de Los Sebosos Postizos foram gravadas antes. Uma está no primeiro, e único, álbum do coletivo Instituto – Solaris, instrumental – e outra está num disco do Mamelo Sound System. Nenhuma autoral está em Los Sebosos Postizos interpretam Jorge Ben Jor, o álbum. Para chegar às 14 músicas do CD bastou pinçar as preferidas de uma lista que eles selecionaram para tocar ao vivo: “Complicado foi tirar três dessas 14 para o vinil, onde só cabiam 11”, diz Dengue.

Embora tenha canções bem manjadas de Jorge Ben Jor, o CD consegue encaixar os hits em meio a canções, menos conhecidas, até mesmo do Tábua de esmeraldas, do qual pinçaram Cinco minutos. Do Samba esquema novo tem o quase sucesso Rosa, menina, rosa, e duas só conhecidas dos especialistas, Quero esquecer você e A tamba.

Um dos discos menos conhecidos de Ben Jor, Bidu – silêncio no Brooklin é um dos melhores e também o primeiro em que ele empunha uma guitarra e é acompanhado por uma banda de rock, no caso os Fevers. Segundo Dengue, ele é um dos preferidos dos integrantes da Los Sebosos Postizos: “É o mais diferente de Ben Jor, com uma pegada que só ele tem. De Bidu, o quarteto escolheu quatro faixas, todas absolutamente obscuras (a mais conhecida do álbum é Si manda).

De um dos discos menos conhecidos de Ben Jor, Ben é samba bom, de 1964, eles sacaram uma das mais peculiares composições do impagável Babulina, Descalços no parque (que não foi inspirado no filme homônimo, com Robert Redford e Jane Fonda, que é de 1967). Uma música que não é samba, não é bossa nova, tem a mesma levada de Ol’ man mose, hit de Louis Armstrong (cuja versão deu em A história de um homem mau, sucesso de Roberto Carlos, também em 1964).

“A música está no último disco de Marisa Monte, mas a gente gravou primeiro e deixou na gaveta até agora. Curioso é que tocamos o disco de Marisa quase todo. Esta foi um das músicas que não tem participação da gente”, comenta Dengue.

O que justifica a gravação de um disco com repertório de uma banda cover?

No caso do Los Sebosos Postizos, o fato de o grupo inovar no formato. Nem chega a ser um tributo, nem propriamente um grupo cover. Os arranjos e andamentos na maioria das faixas são bastante diferentes. Em outras o novo arranjo é feito em cima do original, só que com outros instrumentos. É isso o que eles fazem com a mais ou menos manjada O homem da gravata florida (esta é a terceira regravação da canção, além das duas feitas pelo autor).

Em Os alquimistas estão chegando, uma das poucas que preservam o mesmo ritmo da original, programações e a produção de Mario Caldato revestem a canção de outros tons, sonoridades: “Mario gosta muito de usar ecos, de ambiência. Ele fez um trabalho muito bom em cima das fitas que mandamos”, credita Dengue”. O quarteto do Nação tem o reforço de Guizado (trompete), Bactéria (teclado), Da Lua (percussão) e Bárbara Eugênia (backing vocal).

 

 

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