Lançamento

A Bomba do Hemetério interagindo com o mundo

A Orquestra do Maestro Forró num CD com sotaque universal

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 15/11/2012 às 6:00
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“Acredito que antes de ser uma comunidade do Recife, a Bomba (do Hemetério), é uma comunidade do mundo. O mundo está na Bomba, a Bomba está no mundo”. A frase é do Maestro Forró, da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, que lança o novo disco #CabeçaNomundo, sábado, às 20h, no Parque Dona Lindu. A frase é como ele tenta explicar o
cosmopolitismo que permeia o segundo CD da OPBH, consequências das constantes viagens que o maestro tem feito ao exterior: “Acho que este disco fecha um ciclo de aprendizado. Fizemos apresentações em Cuba,
Estados Unidos e na Europa. Nesta última viagem ao Leste europeu, gravamos para um programa de TV. Entrevistei músicos bem conhecidos da Bulgária, por exemplo, eles mostravam a arte deles, a gente mostrava a nossa. Sempre há semelhanças entre uma e outra. Afinal as pessoas são as mesmas no mundo inteiro, sentem as mesmas sensações”, comenta Forró.
O programa a que ele se refere foi batizado de Andante, e o maestro ainda não sabe onde será veiculado: “Andante é tanto um termo musical,quanto de de andar mesmo. É um aprofundamento das nossas pesquisas, algo que comecei a fazer desde o início, quando viajava com DJ Dolores, ou com o Nação Pernambuco, e passei a prestar atenção na cultura dos países por onde passamos. A ideia foi minha e de Alexandre Guedes, que dirigiu o DVD da orquestra. Então botamos em prática este
trabalho de interação de linguagens. Como disse, notei muitas características em comum entre a nossa cultura e a dele, sobretudo a do Leste europeu. Gravamos dez programas, com 26 minutos cada um. Vai ser exibido inicialmente na TV Universitária, mas estamos negociando com a TV Brasil”, diz Forró, que na semana passada (no dia Nacional da Cultura), foi agraciado com a OPBH. em Brasília com a Ordem do Mérito, com vários outros expoentes da cultura brasileira, numa cerimônia com a presidente Dilma Roussef: “Por coincidência eu tinha gravado em Gabrovo, terra da família dela na Bulgária. Mandei fazer uma seleção destas imagens na Bulgária e dei de presente a ela”.
Cinco anos separam #CabeçaNomundo de Jorrando cultura, o disco de estreia da OPBH, nascida há dez anos. Os músicos esgotaram todas as possibilidades de Jorrando cultura para partir para o segundo projeto. Dois anos depois de lançado, o disco inaugural da orquestra teve registro ao vivo, no Teatro de Santa Isabel. Virou CD, DVD blu-ray. A começa pelo hashtag ou “jogo da velha”, no título, o álbum da OPBH não é um disco convencional, até porque não seria de se esperar tal coisa
de um músico que desmitifica a figura do maestro, usando óculos e roupas espalhafatosos: “O hashtag além de facilitar a comunicação nas redes sociais, é também o símbolo musical do sustenido,ou seja, está tudo conectado”, explica Francisco Amâncio,o maestro Forró, insigne morador da Bomba do Hemetério, comunidade da Zona Norte , que passou a ser vista de forma diferente desde o sucesso da OPBH: “Ao longo destes anos, o grupo inicial continuou praticamente o o mesmo. Saiu apenas um músico que viajou. Porém entraram mais músicos, que se formaram naescola que a gente criou. A orquestra conta atualmente com 27 músicos, mas seis técnicos”.
Forró ressalta que a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério não é uma orquestra de frevo: “Ela também toca frevo, como tocamos maracatu, ciranda. Tem faixa no disco, a Suite andante, que a pessoa vai achar que é música erudita. A eruditiza o popular, e populariza o erudito. Nesta música tem uma mistura de música brasileira, do Leste europeu. O tema Frevo de bolso é de execução difícil, mas depois que os músicos venceram esta dificuldade executam a música com uma leveza de artista de circo”, explica o maestro. As doze faixas do álbum são equilibradas entre composições autorais, de domínio público, e de terceiros, como o clássico Óia a virada, de Nelson Ferreira: “Nelson Ferreira foi muito importante para o frevo, livrou a música de algumas características que trazia do começo, aquela coisa da polca e outras influências. Nesta versão eu fiz o caminho inverso, misturo frevo novamente com a polca de outros ritmos, outros andamentos”.
Estão no disco duas vozes inusitadas em um projeto desta estirpe: Fred Zeroquatro (Mundo Livre S/A e Lira (ex-Cordel do Fogo Encantado). Zeroquatro participa de Meu esquema, uma de suas composições mais conhecidas, que recebeu uma não menos inusitada roupagem de frevo. Já José Paes de Lira Filho, o Lira, interpreta o frevo-de-bloco Recife iluminado (assinada pelo maestro Forró). Porém o inesperado irrompe na  terceira faixa, o frevo Tô doidão, o mesmo hit de Reginaldo Rossi em sua fase Jovem Guarda (versão de Les daltons, com Joe Dassin, 45 anos atrás): “A faixa que termina o disco, é um remix. Mas não é um remix como geralmente se faz, de uma música. Passei para o DJ Jorginho Manêro as onze faixas do disco e pedi que ele fizesse o remixe com todas elas,porém para ser uma só faixa”. O repertório do álbum foi liquidificado, resultando numa música que poderia ter sido dedicado ao americano John Cage, cujo centenário está sendo celebrado este ano. #Cabeça no mundo/remix é música concreta, trechos curtos, as vezes apena células, das músicas, com ruídos, conversas, vinhetas. Cage teria gostado da homenagem”.

O disco tem concepção artística, direção musical e artística do maestro Forró, produção executiva de Alessandro Guedes, assistência de direção musical de Waltinho d’Souza. A arte da capa é de Eduardo Padrão. Na apresentação de amanhã, no Dona Lindú (com entrada franca), a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério vai repassar todo os repertório de #Cabeça no mundo, com direito as participações dos convidados Fred Zeroquatro e Lira, mais a participação do bandolinista Marcos César, no choro, Formiguiando, dedicado ao maestro Ademir Araújo, o Formiga.

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