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Erasmo Carlos, sexo, felicidade & rock and roll

Cantor traz ao Baile Perfumado o show de 50 anos de carreira

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 28/04/2013 às 6:00
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“Em algum lugar no mundo, talvez no Brasil, existe um homem feliz”, os versos de Vladimir Maiakovski bem que se podem aplicar a Erasmo Carlos, o eterno roqueiro brasileiro, que traz sua turnê de 50 anos de carreira para o Baile Perfumado, sábado, dia 4 de maio. Ele começa a entrevista, por telefone, exultante: “Os shows têm sido um sucesso, o pessoal tem mostrado um imenso carinho por mim. Eu sou muito querido no Brasil todo, em todas classes sociais”.  

Aos 72 anos, ele se apresenta com Os Filhos de Judith, banda formada por músicos com média de idade de 28 anos: “Rola uma troca de informações entre a gente. Pra eles é bom porque queimam etapas. Estivemos no Rock in Rio, em Lisboa, tocaram comigo no Theatro Municipal, no Rio, passei 50 anos para conseguir isso”, comenta o Tremendão da Jovem Guarda.

Este ano ele completa meio século de parceria com Roberto Carlos, iniciada com Parei na contramão (só lançada no ano seguinte), com uma letra hoje impensável em tempos de politicamente correto, a começar pelo título: “Fizemos muitas músicas politicamente incorretas. Não dava para fazer nos dias atuais uma É proibido fumar”, concorda Erasmo, fumante inveterado, que por isso mesmo cada vez vai menos a bares e restaurantes:

“Eu fumo muito, mas em casa, já que não se pode mais fumar em canto algum. Ora, se o cigarro faz mal porque permitem que se fabrique e seja vendido? Claro, o governo não quer perder o que ganha de imposto das fábricas de cigarro”.

É por isso também, que prefere ônibus a viajar de avião: “Avião tem muito contratempo. Espera em aeroporto, a humilhação da revista, tudo bem é necessário, mas é humilhante. Às vezes viajamos dois dias para fazer um show de duas horas e meia. Em ônibus a gente vai conhecendo as pessoas, o Brasil é fascinante”, diz o cantor que, no auge da Jovem Guarda, comprou um Rolls-Royce (que pertenceu ao então Governador de São Paulo, Adhemar de Barros, o do “rouba mas faz”).

Comprou porque John Lennon tinha um. Esta é uma das poucas influências dos Beatles na sua obra: “Elvis, Chuck Berry, Little Richard, esses foram os caras que me influenciaram, que eu ouvia na adolescência. Surgimos quando os Beatles surgiram, sofremos as mesmas influências, somos contemporâneos”, diz Erasmo, que firmou a amizade com Roberto, em 1959, quando ele o procurou para aprender letras de rock, que cantaria na abertura de um show de Bill Halley and His Comets, no Rio.

SEXO

Com os Beatles ele comunga das canções de letras ingênuas do começo de carreira: “Tinha muita música boba, ridículas, mas tinham a ver com meu tempo. Hoje eu não faria uma Fama de mau. Ela continua nos shows porque faz parte de uma época, mas não é a minha realidade. Mas as músicas têm muito de sexo também. Naquela época eu cantava eu beijo, beijo, beijo, porque não podia cantar eu fodo, fodo, fodo. Mas era isso o que significava a letra”, diz Erasmo Carlos.

Ele ri quando é lembrado de uma, assinada por ele e Roberto Carlos, Um quilo de doce, gravada por Wanderléa (Comprei um quilo de doce/pensando que você fosse/me dizer com emoção, que é meu o seu coração): “Um quilo de doce com fosse era pra rimar, bicho. Tinha uma de Chuck Berry, Memphis Tennessee, que Wanderléa cantava e virou não sei o que o rapaz do Piauí” (Sem endereço, versão de Rossini Pinto).

Seus dois últimos discos chamam-se Rock and roll e Sexo, o que aponta para uma trilogia terminada com Droga. O que seria natural para quem escreveu uma canção chamada Maria Joana, cujos versos finais não poderiam ser mais sugestivos: “Eu sei (eu sei)/que na vida tudo passa/o amor (o amor)/vem como nuvem de fumaça (fumaça).

Ninguém espere ouvir Maria Joana no show de 50 anos de carreira do Tremendão: “Não canto mais, até por bom senso. Era legal para a realidade da época, mas uma realidade importada. Sexo, drogas, e rock and roll era uma coisa dos Rolling Stones, era moda, mas os tempos mudaram. Quantos amigos perdi por causa de drogas?”

Mais presente em seu rock and roll está o sexo, quase explícito feito no recente álbum homônimo, ou sutilmente implícito no passado. em músicas como Fantasias (2003): “É sobre masturbação. Na letra eu posso ter a mulher que quiser, é só fechar os olhos”, confessa ele sem hesitar.

ROCK

Um dos pais do rock brasileiro, Erasmo Carlos sofreu uma de suas maiores decepções, em 1985, exatamente no primeiro megafestival de rock realizado no país, o Rock in Rio. Falta de  senso, ou de conhecimento do assunto, a produção do festival colocou Eramos Carlos na noite em que a Cidade do Roco foi tomada por camisas pretas para assistir ao Iron Maiden, Whitensnake, e o Queen, numa época em que atrações internacionais deste porte eram raras no Brasil.

O Tremendão foi vaiado, praticamente enxotado do palco pelos headbangers: "Isto aí foi coisa de época. Ninguém ainda sabia que existiam tribos diferentes. Sempre fui um sonhador, pra mim música é do bem. Música e orgasmo são as duas coisas que aproximam a gente de Deus. Então eu pensava que em música não existiam tribos, misturaram artistas e deu naquilo".

Com meio século de palco, e se apresentando sempre para casas cheias, como acontece com os contemporâneos Pal McCartney ou The Rolling Stones. Na opinião dele isto se deve a não ter surgido, há anos, nada de novo sob o sol da música popular: "Acho que o que tinha que ser feito já feito. Só resta adaptar, até na poesia falar de amor ficou difícil. Antigamente não se tinha vergonha de rimar amor com dor. Hoje se procura fugir do que é convencional, tudo bem, mas ninguém deve se policiar. Não sei se vai aparecer um outro Beatles. Pode ser. Mss terá que ser algo totalmente diferente do estabelecido. O novo mesmo, com outra estética".

 

 


 

 

 

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