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Querosene Jacaré, finalmente, reunidos

A banda, formada em 1994, celebra 15 anos do primeiro disco

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 17/05/2013 às 6:00
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No cadinho sonoro do manguebeat, a Querosene Jacaré foi a banda mais atípica. Formada por Ortinho (vocal), Alfaia (baixo), Tonca (guitarra), Hélio Loyo (guitarra), Cinval (percussão), e Adelson Luna (bateria), o grupo fazia um rock and roll com a adrenalina saindo pelo ladrão, mas mantinha sotaque regional nas letras de métricas e rimas certeiras, herança cultural do caruaruense Ortinho e do arcoverdense Cinval. Depois de 15 anos, a Querosene Jacaré volta a tocar com a formação original, hoje, no palco localizado na Antiga estação ferroviária, na região central da cidade, na programação do festival Pernambuco Nação Cultural. Será uma festa de 15 anos, do primeiro álbum, e da carreira solo de Ortinho: “De vez em quando surgia uma conversa pra gente voltar. Resolvemos fazer o show pra celebrar a data. Quem conheceu a banda volta a curtir, e quem nunca viu, vai saber como foi”, diz Ortinho.

A Querosene Jacaré foi formada, em 1994, por músicos de temperamentos totalmente diferentes. Impossível maior discrepância de pensamentos, gostos e temperamentos do que Ortinho e Cinval. Os dois foram a origem do Querosene Jacaré. Se conheceram no Guitarras, o menor bar da cena mangue. Ocupava uma salinha na entrada da Galeria Joana d’Arc, no Pina: “Eu achava que fosse um loja de discos, porque tinha uns vinis numa vitrine e uma guitarra. Um dia entrei lá e descobri que era um bar. Tomei umas com Cinval e resolvemos formar uma dupla”, relembra Ortinho. Formaram o duo Dupla de Dois, de exígua existência. A primeira apresentação aconteceu diante do Guitarras. Na platéia exatamente a mesma quantidade de pessoas que formava a dupla. Um amigo comum e a namorada: “A gente cantou umas emboladas, Cinval tocando o pandeiro. De repente faltou luz. A gente continuou no escuro. Quando a energia voltou, havia uma argentina linda dentro do guitarras curtindo. A coisa começou bem”, jacta-se Ortinho.

Ortinho foi agregando integrantes à banda. Primeiro veio Hélio Loyo, que conheceu na praia do Pina, veio Tonca, o baixo com Hélio Matos (pelo menos eles acham que foi Hélio Matos), e a bateria com Cinval: “Só que ele era muito ruim. Rolou uma briga entre eu e Cinval, e ele saiu da banda. Adelson entrou no lugar dele”, conta Ortinho. Cinval completa o resto da história: “Briguei com Ortinho porque ele queria beber no Guitarras de graça. Pouco tempo depois pedi pra voltar na percussão, Voltei num show que fizemos em Candeias com a Mestre Ambrósio, que também estava começando”. Adelson vinha de várias outras praias. Tocou em bandas dos mais variados estilos: heavy metal, funk,m rock, forrock: “Tinha tocado no Cruor, Putrefação e Mary Sinners Bells. Depois participei da Andaluza, da Clima do assalto, que era funk. Galera impregnada. Usfidumaégua. Foi Tonca, que tocou no Galera Impregnada, que me convidou para o Querosene Jacaré”, diz o baterista. 

A banda passou a frequentar o circuito do polo Pina, com as obrigatórias paradas na Soparia. O Boby, uma embolada de Ortinho era cantada em coro antes de ser gravada. O mesmo com Pra ficar xique (depois gravada pelo Quinteto Violado); Numa época em que olheiros de gravadoras tinha o Recife a mira, era quase certo que o Querosene Jacaré logo seria contratada para gravar um disco.

Não deu outra. Depois da primeira apresentação da QJ no Abril pro Rock, em 1996, a hoje extinta Paradoxx chegou junto. Repertório pronto, Zé da Flauta assinou a produção, e Paulo Rafael, a mixagem.: “A Paradoxx pagou um jabazão à Radio Cidade, e Pra ficar chique começou a tocar, e virou um sucesso local. A gente tinha tudo pra dar certo”, diz Ortinho. 

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José Teles

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Antes mesmo de gravar o álbum de estreia, Você não sabe da missa um terço, o Querosene Jacaré fez a primeira viagem internacional. Tocaram no Norte de Portugal, no Festival Paredes de Coura, cuja progamação era encabeçada pelo Paradise Lost, Smoke City e a Rollins Band, O Jornalista Fred Lasmar, que participou da produção, lembra que o patrocínio do governo do estado saiu em cima da hora, o grupo quase não vai mas deu tudo certo. Difícil foi segurar os caras em Portugal. Teve uma noite em que tomaram 13 garrafas de vinho”, conta Lasmar. Cinval lembra vagamente dos shows: “Tocamos em um bocado de bar, foi interessante, porque ninguém esperava tocar fora do Brasil”. O Querosene Jacaré, sem Ortinho, fez uma segunda viagem internacional, para os Estados Unidos, tocaram no Arizona, e no Texas. Desta fez Cinval lembra alguma coisa. Recorda, pro exemplo, que passou dois dias sem aparecer no hotel, e a banda acabou fazendo um dos shows sem percussão.

Mas esta era a marca da QJ. Os ensaios tornaram-se folclore pelos arranca-rabos (expressão usada por Ortinho), que aconteciam entre os músicos: “Geralmente era alguém com Ortinho. Discussões por causa de música, arranjo. Os ensaios agora transcorreram na paz, acho que pela idade, está todo mundo mais tranquilo, embora a banda esteja com uma pegada ainda mais rock and roll”, diz Alfaia, o baixista que acabou se tornando vocalista do grupo, no segundo disco: “Comecei a cantar, enquanto não arranjavam outro vocalista. Terminei gravando o disco todo, com Gordinho no baixo”, diz Alfaia referindo-se ao segundo disco da QJ, Fique peixe. Ayrton Machado, o Gordinho, foi baixista na segunda fase da Querosene Jacaré, e foi estupidamente assassinado, em 2000, durante um assalto. Os bandidos, dois, atiraram, sem que ele reagisse.

SHOW

Com uma carreira consolidada, três discos, vivendo entre São Paulo e o Recife, Ortinho, no entanto, não canta nenhuma música da carreira solo no show de hoje. Cinval, que é recordista em tamanho de discografia na cena musical pernambucana, com 26 discos, lançados a partir de 1997, também não. Dos demais integrantes da banda, apenas Alfaia e Adelson gravaram depois do fim do QJ. Montaram um grupo, em São Paulo, o Monjolo. Hélio Loyo afastou-se da música, enquanto Tonca chegou a tocar em algumas bandas locais, mas também deu uma parada.

O roteiro do show, foi combinado, vai se restringir ao repertório do primeiro CD: “Vamos tocar o disco inteiro, mais duas músicas, da época, que não estão nele. Uma delas é Tô doidão, do tributo a Reginaldo Rossi ((n- versão de um sucesso do franco-americano Joe Dassin)). A outra é a autoral Segura a onda, que não entrou no Você não sabe da missa um terço”, adianta Ortinho. Mas a banda sempre primou pela imprevisibilidade. Portanto, não será surpresa que entrem outras músicas no roteiro, e até canjas de músicos que participam do Nação Cultural neste final de semana em Caruaru. Os músicos da banda são unânimes em afirmar que o grupo nos ensaios mostrou um pique de começo ode carreira: “Foi bom a gente ter separado. do jeito que ia na época, acho que neguinho teria morrido de tanta birita”, diz Ortinho


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