Dia do Rock

O psicodélico e inquieto Serguei, um roqueiro de 80 anos

Ele era doido demais até para Raulzito, o Maluco Beleza

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 13/07/2013 às 6:00
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Sérgio Augusto Bustamante, nascido em 8 de novembro de 1933, carioca da Zona Norte, mais conhecido como Serguei, um mito do rock nacional, tem sangue de pernambucano por parte da avó, Elouise Leonardo Nabuco, sobrinha de Joaquim Nabuco. Às vésperas de completar 80 anos (portanto, dois anos mais velho do que Elvis Presley), ele atende ao telefone, e reclama por nunca ter feito show no Recife: “Cantei no Brasil inteiro, menos aí. Fui na cidade quando era comissário de bordo da Panair”. Ele se diz cansado. Gravou um programa de TV no dia anterior em São Paulo. Fala com um pouco de dificuldade, sequelas de uma queda da garupa da moto de um Hell’s Angels. Serguei concede a entrevista, por telefone, do Templo do Rock, mezzo casa, mezzo museu, onde mora desde os anos 70, em Saquarema, na região dos lagos, no Rio. É uma instituição da cidade, de 74 mil habitantes.

“Rock ‘n’ roll!”, é como as pessoas cumprimentam Serguei, quando passam por ele na rua. O primeiro rock and roll que ele lembra ter ouvido foi Rock around the clock, em 1955. Ele confessa que não está com a memória muito ágil, mas acha que foi com Bill Haley and his Comets. Porém talvez tenha sido com Nora Ney (1922/2003), a grande dama do samba-canção. Nora Ney fez a primeira gravação de um rock no Brasil, e 1955, no 78 rotações, com Na ronda das horas ((Max C. Freedman/Jimmy De Knight / versão Júlio Nagib). No lado B, o disco traz o samba choro Ciuminho Grande (Ivan Paulo da Silva “Carioca”). Ressalte-se que o ritmo atribuído a Ronda das horas é “fox”.

Serguei foi chefe de equipe da da Panair do Brasil, da Varig. Largou tudo, em meados dos anos 50, fez programas nas ruas de Copacabana, no melhor estilo John Voight, em Perdidos na noite (Midnight cowboy, John Schlesinger, 1969). Enquanto ele viajava, perambulava pelo mundo, o rock and roll virou a dança da moda dos adolescentes brasileiros. os que passavam desta faixa etária curtiam outra novidade da época, a bossa nova. Porém Serguei destoava do angelical rock and roll bem comportado dos primeiro ídolos do ritmo, Cela Campelo e Sérgio Murilo. E aí comungava de semelhanças com Jorge Mautner, contemporâneo, que só gravaria em 1972. Serguei estreou em disco 1966, no auge da Jovem Guarda. Foi descoberto pelo organista Ed Lincoln que, no entanto, não vislumbrou uma carreira longa para Serguei: “Você vai passar rapidinho, mas eu vou te lançar pra ver o que vai dar”.

Marginal, por natureza, Serguei lançou, pela Equipe, um compacto que inaugurou a psicodelia nacional. Na face A trazia As alucinações de Serguei, que conseguiu relativo sucesso, ele cantou a música na edição carioca do programa Jovem Guarda, na extinta TV Rio: “Só me apresentei uma vez no programa, eu era amigo do Roberto, ainda sou”, diz Serguei, um total estranho no ninho do iê-iê-iê. Ele entrou de cabelos muito longos para o padrão JG, de de jaqueta, unhas pintadas de preto e lentes lilás. Como se não bastasse,ao sair caiu dentro de um buraco em de dois homens, eletricistas que consertavam uns fios do palco. Nem Raul Seixas viu beleza na maluquês de Serguei. Ele fez testes na CBS, onde Raulzito era produtor. O divulgador que tentou leva-lo para a gravadora explicou porque a manobra não deu certo: “Raulzito disse que não ia me produzir porque eu era muito louco”.

Foi quando ele decidiu ir para os Estados Unidos, quando a juventude aderia à filosofia de vida hippie, ao rock psicodélico, e caia na estrada. Nesta época ele conheceu Janis Joplin, num festival em Long Island, foi para Los Angeles, participou de festinhas com Janis. Jim (Morrison, com quem brigou por causa de Janis): “Para mim, os Beatles foram os melhores do rock, mas Janis foi a maior maravilha que conheci na vida”.

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