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Caixa traz de volta Djalma Ferreira e a música para dançar

Sete discos de uma fase quase esquecida da MPB

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 14/07/2013 às 6:00
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Nos anos 50 dançar era um programa obrigatório para casais. Saía-se para dançar, assim como hoje se sai para jantar. Em grandes cidades feito o Rio de Janeiro, muitas boates tornavam-se conhecidas nacionalmente. Geralmente ofereciam música ao vivo. Alguns dos conjuntos de boates tornaram-se igualmente conhecidos Brasil afora, Waldir Calmon, Ed Lincoln, Walter Wanderley, e Djalma Ferreira são nomes que os viveram à época conhecem bem. Tocavam música dançante, mas com uma qualidade que fez com que seus discos transcendessem ao período em que foram gravados. Pena que a grande maioria destes músicos e grupos esteja esquecida.
A gravadora carioca Discobertas já recolocou de volta às lojas parte dobra de Ed Lincoln e de Walter Wanderley. Pega agora o gancho do centenário de Djalma Ferreira (Rio, 5 de maio de 1913, Las Vegas, 28 de setembro de 2004) e lança a caixa Drink no Rio de Janeiro etc – anos 50 – Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo.

São sete títulos, raridades, pela primeira vez em CD, lançados entre 1953 e 1959, cinco deles com selo Drink. Djalma Ferreira foi um dos primeiros, senão o primeiro músico, a criar um selo para seus próprios álbuns. A importância deste disco vão além do resgate histórico. As orquestras desta época eram formadas por grandes instrumentistas, a Milionários do Ritmo não era diferente. Teve, por exemplo, Miltinho, uma das maiores vozes do samba, como crooner, o Waltel Blanco, Ed Lincoln e Araken Peixoto entre seu time de músicos. Djalma Ferreira, aliás, não criou apenas seu próprio selo. Drink era o nome da boate que abriu no Rio, depois de experiências bem-sucedidas no Peru e no Chile.

O disco mais antigo desta caixa é Parada de dança vol.1 (1953), lançado pela Musidisc, quase todo repertório é assinado por Djalma Ferreira. Curiosamente é menos datado do que o Djalma Ferreira em música para dançar, saído pela Continental (1957), uma compilação, feita por Braguinha, de alguns 78 rotações, acrescidos de seis faixas bônus na versão em CD. Do mesmo ano, é Dançando no Drink com Djalma Ferreira, disco obrigatório para os fãs de Miltinho.

Aqui o sambista, de ginga impagável, tem seu momento de soltar o gogó no melhor estilo Frank Sinatra, em quatro standards da música America , entre eles Love is a many splendored things (Paul Francis Webster / Sammy Fain) e I could have danced all night (Alan Jay Lerner / Frederick Loewe). Djalma toa piano e Hammond Solovox, teclado que emula outros instrumentos e um pouco da voz humana (lançado em 1948, o Solovox esteve na moda nos anos 50), num disco que também passa pelo samba, e pela música cubana, com a indefectível Coubanacan (sic), que lhe dá o tom exato do kitsch, bem característico da música do Brasil pré-bossa nova

A orquestra de Djalma Ferreira foi uma escola de estágio de crooner para a fama. Passaram por ela, Luiz Bandeira (ele mesmo, o autor de Voltei Recife). Helena de Lima, Jair Rodrigues, mas nenhum aprendeu tanto quanto Miltinho, que fez a fama com os Milionários do Ritmo. Ele brilha em dos quatro álbuns desta caixa com selo Drink, estes também com músicos que integrariam logo as hostes da bossa nova (cuja batida já está neles presente): Araken Peixoto (trompete), Waltel Blanco (guitarra e baixo), Ed Lincoln (piano e contrabaixo) e Hélcio Milito (baterista). Miltinho canta em três faixas: Se todos fossem iguais a você (Tom e Vinicius), Organizando (Djalma Ferreira), e o medley com Carnaval (Djalma Ferreira), Mulata assanhada (Ataulfo Alves), Você não quer, nem eu (Ataulfo Alves). É um disco para dançar portanto cabe nele o ecletismo de misturar sambas, com standards americanos, e o baião Bicharada, composição de maior sucesso de Djalma Ferreira.

Depois do Drink tem repertório quase inteiro de música estrangeira,americana e italiana, é um dos mais dançantes de Djalma Ferreira e sem crooners, totalmente instrumental. Bem original o diálogo de órgão e piano, sem esquecer da guitarra de Waltel Blanco, ratificando que o ódio à guitarra elétrica em 1967, não era exatamente contra o instrumento, mas dirigido a como ela estava sendo usada, embora fosse menos americanizada do que Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo tocando Deep in the heart of Texas, My Bonnie, e Oh, Suzana, medley que fecha o álbum Depois do Drink. Entre os sete discos, um bastante raro, e curioso, de Mirian Presley e seu piano. Um LP também com uma maioria de standards americanos em piano solo. Quem toca no entanto não é nenhuma parente de Elvis, mas o próprio Djalma Ferreira, que usa o pseudônimo.

Drink No Rio de Janeiro é geralmente incluído na discografia de Miltinho. Ele não apenas canta em quase todas as faixas, como o parceiro de Djalma Ferreira é Luis Antonio, um autor que teve em Miltinho seu melhor intérprete. Muita das canções que gravou com Djalma Ferreira, Miltinho regravou em carreira solo. Neste disco estão dois dos futuros sucesso do cantor fluminense

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