No mundo inteiro, eventos mobilizam gente interessada não apenas em comer, mas em pensar a comida como patrimônio cultural. Em setembro, por exemplo, a feira Mistura, idealizada por Gaston Acúrio, em Lima, costuma reunir nada menos que 300 mil pessoas em torno da gastronomia peruana. O Recife também tem, à sua maneira, um evento em que as cozinhas local e nacional podem ser não apenas provadas, mas discutidas e pensadas. Na próxima semana, de 21 a 23 de agosto, acontece a segunda edição do Sabor Rural – evento realizado dentro do AgriNordeste, fórum anual dos produtores organizado pela Federação da Agricultura de Pernambuco, no Centro de Convenções de Pernambuco.
No evento, alguns dos mais atuantes chefs brasileiros darão aulas práticas, comandarão degustações e palestras sobre questões relativas à identidade e evolução da cozinha pernambucana. Haverá três programações distintas, divididas em seminário, aulas-show e feira gastronômica.
A conferência Identidades da terra vai reunir alguns bastiões da gastronomia nacional com temas variados. A carioca Flávia Quaresma, por exemplo, vai falar sobre o uso e as possibilidades do azeite na cozinha pernambucana. Já a paulistana Ana Luiza Trajano, chef e pesquisadora das cozinhas regionais brasileiras, vai apresentar O Brasil à mesa, projeto no qual ela vem construindo um mapa particular da gastronomia nacional após seis anos de estudo e imersões em mais de 40 cidade, percorrendo 20 dos 26 Estados brasileiros.
A mineira Mônica Rangel apresenta o movimento que liderou para que os hotéis das cidades sede da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, incluam os cafés da manhã regionais em seus cardápios. Inicialmente, o Ministério do Turismo havia recomendado que os hotéis adotassem os desjejuns internacionais. Após o movimento liderado por Mônica, o ministério voltou atrás.
O sommelier e chef ítalo-brasileiro Danio Braga destaca o Vale do São Francisco e seu papel na geografia vitivinícola brasileira. Defensor e renovador das tradições de mesa pernambucanas, o chef César Santos, que é sinônimo de linha evolutiva dessa cozinha, comenta as peculiaridades dos hábitos locais à mesa.
“Como o AgriNordeste é um evento que reúne, tradicionalmente, os produtores rurais do Estado, nada mais importante que colocar os chefs em contato com eles, para conhecer os produtos. Queremos trazer esses chefs de fora, para mostrar que nossos ingredientes não precisam ficar restritos ao Estado, podem circular também pelo País. Vários chefs que visitam Pernambuco acabam se encantando com insumos e incorporando eles em suas gastronomias”, diz César Santos, curador e organizador do Sabor Rural. “É muito importante ampliar as possibilidades de circulação comercial dos produtos. E muitos dos estudante que frequentam o evento descobrem e conhecem melhor os ingredientes com os quais poderão trabalhar em breve”, continua.
Repórter e crítico de gastronomia do Jornal do Commercio, autor de alguns livros na área, o jornalista e pesquisador Bruno Albertim também participa com uma das palestras. Vai falar sobre a relação entre identidade e comida no Nordeste, a partir da pesquisa de dois anos que realizou para o Museu do Homem do Nordeste e Fundação Joaquim Nabuco, e que teve resultado parcial transformado em dois cadernos especiais veiculados ano passado, no JC. O material deve ser editado em livro ainda este ano.
Já o espaço reservado às aulas-show reúne 12 chefs de Pernambuco, além da paulistana Alessandra Bottero, chef do restaurante Cheiro de Brasil, localizado em Araçatuba (SP). Nesse setor do evento, os visitantes poderão apreender as técnicas, bem como conhecer insumos utilizados pelos chefs em suas cozinhas. É o caso da chef Miau Caldas, responsável pela cozinha do Bazza Bar e Comedoria, no Parnamirim, e que apresentar sua trufa de tilápia recheada com risoto de camarão defumado e purê de ervilha.
A feira terá também gastronomia a preços populares. Um dos grandes atrativos do público em geral, no entanto, deve ser a Arena Gastronômica, que oferece gastronomia com assinatura dos grandes chefs locais a preços extremamente competitivos. Para a versão 2013, barracas gastronômicas comercializarão vários acepipes. As porções terão preço máximo de R$ 10. O time a postos nas panelas conta com nomes como o próprio César (Oficina do Sabor), Rivandro França (Cozinhando Escondidinho) e Alcindo Queiroz (Patuá), entre outros.
A iniciativa é da Federação de Agricultura do Estado de Pernambuco, com apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, da Secretaria de Agricultura de Pernambuco, do Governo Federal e ainda do Banco do Nordeste.
O Agrinordeste é um evento com 21 anos no cenário nacional, um panorama de painéis para os atores o setor, em áreas como apicultura, bovinocultura de leite, caprino-ovinocultura, fruticultura, turismo rural, meio ambiente e recursos hídricos, perfazendo um total de 86 palestras. Criado ano passado, o Sabor Rural é o braço gastronômico do AgriNordeste.
