A maioria de nós certamente não tem ciência do que veio fazer aqui na Terra, mas o artista plástico Marcelo Silveira não; ele sabe direitinho: “Minha vida tem isso, de tentar lembrar o esquecido.” Eis o propósito que surge novamente em sua poética e mobiliza um novo projeto ao lado da pesquisadora Cristina Huggins. “Você se lembra da Escada da Felicidade?”, questionou a dupla a 12 moradores de Gravatá, onde Marcelo nasceu e mantém um ateliê, apesar de morar no Recife. A pergunta dá nome à nova empreitada e as respostas compõem parte do projeto que é “devolvido” nesta sexta-feira (23/maio) à população local, com mostras itinerantes, de fotos e frases em cartazes, e um encontro ao fim do dia.
A Escada da Felicidade é real, existe desde 1953 e foi construída para facilitar o acesso ao mirante de Gravatá, no Alto do Cruzeiro. Ninguém sabe dizer ao certo por que a construção recebeu esse título convidativo, estampado até hoje em um portal de entrada, mas as frases coletadas por Marcelo e Cristina fornecem pistas. “Quantas vezes subi ali com o homem que eu amava?”, recorda Terezinha Carvalho. E Ricardo Carvalho confirma: “A Escada da Felicidade era lugar de namoro”. Mas não só. Lamartine Andrade Lima diz que ali era canto onde ele e seus amigos, hoje de cabelos branquinhos, costumavam “folgar”. Para a então menina Maria Anália de Andrade Melo, era o contrário: “Subíamos e descíamos pela escada, correndo”.
Estes degraus de idas e vindas na memória gravataense, contudo, não vivem só de passado; permanecem por lá e servem principalmente à comunidade que vive à sua margem. Reginaldo Lemos que o diga: “A Escada da Felicidade está se acabando”. Para José Teixeira de Carvalho, “era um sucesso”, mas não é mais. A pesquisadora Cristina Huggins diz que alguns entrevistados responderam a provocação acessando “uma memória encoberta por uma espécie de bruma”, enquanto outros recorreram a um depoimento de crítica ao poder público e ao descaso. De uma forma ou de outra, não importa: o objetivo do projeto está justamente em “cutucar” a população.
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