Em 28 de outubro de 1994, a coluna Rec-Beat, de Marcelo Pereira, publicava uma nota sobre a Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos todos Inúteis. Contava que o grupo esperou até o último momento para assinar o com o selo Banguela, da Warner Music (que tinha Os Raimundos, e Mundo Livre S/A). Como o contrato não foi mandado, a banda aceitou a proposta da Sony Music.
A Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos todos Inúteis foi o grupo de ascensão nacional na era do manguebeat. Surgiu de uma brincadeira dos músicos, que então tocavam como Os Mordomos. Criaram o nome estranho para participar de um festival do Arte Viva, espaço cultural, em Boa Viagem, de Lourdes Rossiter, onde muita banda da época debutou.
Eles queriam inscrever duas canções: "Como só podia inscrever uma musica por banda, e achávamos que teriamos mais chance de pelo menos uma das musicas passar, resolvemos criar um outro nome. Aí inscrevemos O chão , com a banda, de cinco integrantes, os Mordomos , e Silepese com 3 integrantes, e inventamos o nome Jorge Cabeleira. Acabou que as duas passaram, fomos bater na final, Trocamos de roupa pra ninguem perceber, usamos chapeu , etc". conta Dirceu Melo, um dos fundadores da Jorge Cabeleira.
O Recife Rock Fest, nome do festival, que aconteceu no Pátio de São Pedro, teve como vencedor a Devotos do òdio (atual Devotos), com o segundo e terceiro lugares, para a Jorge Cabeleira e os Mordomos. O júri, parafraseando Caetano Veloso, era simpático, ms incompetente para reconhecer feições.
Vinte anos depois a Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Todos Inúteis celebra as duas décadas da banda, com a coletânea Trazendo luzes eternas, cujo lançamento acontece... no Estelita, na Saturnino de Brito, no Cabanga. O disco contém músicas dos dois álbuns da Jorge Cabeleira, o primeiro pela Sony, com o nome do grupo no título, eo segundo, indepedente, Alugam-se asas para o carnaval (2001). Mais duas inéditas: " elas nunca tinham sido gravadas profissionalmente,sao do período de transicao entre o primeiro e segundo disco. Como houve mudanças na formacao (sairam Davi e Beto e entraram Joaquim e Sergio), essas musicas acabaram no limbo. As demais passaram apenas por um processo de nivelamento de volume entre si. São as versões originais , que constam no primeiro e segundo discos", explica Dirceu.
A banda gravou o álbum de estreia no estúdio Nas Nuvens, no Rio, com produção de Freajt. O primeiro single, uma versão hardcore de O cheiro da Carolina (Amorim Roxo/Zé Gonzaga) estourou na MTV. O Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos todos Inúteis caiu na roda-viva de festivais, viagens de divulgação do álbum, numa época em que as gravadoras ainda investiam em seus contratados. No entanto a Jorge Cabeleira (como a banda era chamada, com o nome abreviado) acabaria sendo dispensada pela Sony Music.
Comentava-se na época que o desligamento aconteceu porque o grupo não queria cumprir os compromissos agendados pela gravadora. Dirceu Melo garante que muito do que se falou então foi "lenda": "Tivemos uma ascenção realmente muito rápida , foi difícil para jovens de 18 anos absorver tudo aquilo de uma vez. Éramos uma banda de garagem que tocava apenas para amigos , festas em prédios. A realidade é que não soubemos administrar nossa carreira, não fomos bem orientados. Mas nao houve trettas entre a banda e a Sony. Fomos nos programas, no Marilia Gabriela, em vários outros, fazendo música com playback. Fizemos tudo. Essa época foi o inicio do fim do poder das gravadoras, veio a Internet, a pirataria, aí a sony deu uma vassourada geral no cast e sairam muitos artistas, e a gente foi no bolo".
Entretanto, ele confessa que a recusa de não ir morar no Rio, como queria a gravadora conto ponto para a rescisão de contrato: Éramos românticos. Quisemos ser fiéis ao Recife; A gente não queria morar no rio pra não perder as raízes. 'mó' bobeira. Era a hora de se firmar no cenário, aproveitar todo o investimento da gravadora. Carolina estava no primeiro lugar no Disk MTV. Em São Paulo, não parava de tocar na radio. Dirceu revela também que não conseguia se adaptar à fama repentina: " Tentei ir para um festival, o Monsters of Rock , pra ver Ozzy, Megadeath, mas eu simplesmente nao conseguia andar. Onde parava as pessoas começavam a comentar do lado, e vinham pedir autógrafo, tirar fotos.achei um saco! Peguei um taxi e voltei pro hotel porque não conseguia ver o show"
(leia matéria completa na edição de hoje do Jornal do Commercio )